Com mecânica inalterada, SUV da Renault aposta em recheio de série e no refinamento da cabine
Quando chegou ao Basil, em 2011, o Renault Duster tinha praticamente um único rival direto: o Ford EcoSport de primeira geração. Quase uma década depois, o segmento de SUVs compactos cresceu exponencialmente, saltando para pelo menos 14 competidores. Se no passado o Duster convencia pela robustez, de uns tempos para cá era nítida a defasagem do modelo. Agora, a linha 2021 do SUV chega com reformulação completa do visual e da cabine. Será o bastante para se manter relevante nesse disputado segmento?
O Duster 2021 não é, de fato, uma nova geração. Ele é feito em uma evolução da plataforma atual (B0), chamada de B0+. A nova denominação está ligada ao fato de o utilitário esportivo ter recebido reforços estruturais na carroceria, nova arquitetura eletrônica e adoção de direção com assistência elétrica. O nível de rigidez torcional cresceu 12,5% em relação ao antecessor, segundo a Renault.
Em dimensões, o novo Duster cresceu 47 mm em comprimento (4.376 mm), 10 mm em altura (1.693 mm) e 10 mm na largura (1.832 mm). Curiosamente, a distância entre eixos diminuiu 1 mm (2.673 mm). O porta-malas manteve a capacidade de ótimos 475 litros – assim como nas versões 4×2 do antecessor, o estepe é alojado na parte externa inferior. Já o peso em ordem de marcha cresceu 39 kg na comparação entre as versões topo de linha – passou de 1.240 kg para 1.279 kg.
Todas as peças externas da carroceria e vidros são novos. Os faróis ficaram ligeiramente mais afilados, enquanto o capô foi elevado e o para-brisa, mais inclinado e avançado em direção à dianteira. Na lateral, os vidros foram reduzidos e as rodas passaram a 17 polegadas (com pneus 215/60R17) na versão de topo.
As luzes indicadoras de direção laterais agora são envoltas por uma peça plástica que surge da base da porta. A traseira traz o ponto mais polêmico do visual deste novo Duster: as lanternas de formato quadrado, muito semelhantes às peças usadas pelo Jeep Renegade.
Qualidade percebida
Se o visual externo não rompe por completo com o antecessor, na cabine a história é diferente. O SUV corta o cordão umbilical com a dupla Sandero e Logan para apostar em acabamento mais esmerado e itens exclusivos, como chave presencial do tipo cartão, partida do motor por botão, sensor de pontos cegos, ar-condicionado digital e sistema de câmeras 360° – confira aqui a lista completa de equipamentos e preços por versão.
Esqueça os parafusos aparentes na região das maçanetas, os bancos com apoio lateral quase inexistente ou a central multimídia em posição extremamente baixa do antigo Duster. No painel e portas do modelo 2021, os plásticos são rígidos (como em boa parte dos rivais), mas textura, materiais e encaixes superam por ampla margem o antecessor.
Encontrar a melhor posição de guiar ficou mais fácil graças ao inédito ajuste de distância do volante (além da regulagem de altura). No geral, a sensação de qualidade percebida está ao menos dois degraus acima do mais caro Renault Captur – sinal de que a marca terá que atualizar com urgência o modelo superior a fim de evitar uma provável briga interna.
O Duster 2021 estreia uma central multimídia inédita no Brasil. Batizada de EasyLink, traz tela tátil de 8 polegadas de melhor resolução e compatibilidade com Android Auto e Apple CarPlay. Uma das funções mais interessantes do equipamento é a possibilidade de criação de perfis de usuário, onde é possível salvar para diferentes motoristas as preferências de configuração de som e rádio ou definir o layout inicial da tela, por exemplo. Bola fora é a oferta de apenas uma entrada USB em toda a cabine, enquanto modelos mais baratos já têm opção de até 4 conexões. Também faltam ao novo Duster Iconic carregador de celular por indução e retrovisor eletrocrômico.
Desempenho não empolga
Mecanicamente, o Duster não mudou. A única opção de motor é o conhecido 1.6 16V da família SCe, que produz 120/118 cv (E/G) e 16,2 kgfm com qualquer um dos combustíveis – o 2.0 F4R deixa de ser oferecido para dar lugar, em 2021, a um 1.3 turbo. Ao erguer o capô, duas surpresas (uma positiva e outra nem tanto assim). A boa é que a Renault manteve as duas molas a gás que sustentam o capô, refinamento que nem mesmo o Captur traz. A má é que o reservatório auxiliar de gasolina para partida a frio (o famoso “tanquinho”) permanece nesta linha 2021.
As opções de câmbio são manual de cinco marchas e automático do tipo CVT, com simulação de seis marchas. As suspensões (McPherson, na dianteira; eixo de torção, na traseira) ganharam novas molas e amortecedores, a fim de lidar com o peso extra da carroceria.
Na pista de testes da ZF, em Limeira (SP), o novo SUV foi mais lento que a antiga geração com o mesmo conjunto. Na aceleração de zero a 100 km/h, o Duster 2021 precisou de 13s9, ante os 13s2 do modelo anterior. Nas retomadas de velocidade, entretanto, a nova geração superou a antiga. Na prova de 40 a 100 km/h, o Duster 2021 foi 1s1 mais rápido (9s7 x 10s8).
Em consumo de etanol, o Duster Iconic registrou em nossos testes médias de 6,1 km/l na cidade e 11,7 km/l na estrada – toda a linha traz sistema stop/start de série, que pode ser desativado por meio de botão no painel. De acordo com os dados do Inmetro, as médias aferidas foram de 7,2 km/l na cidade e 7,8 km/l na estrada com etanol e 10,7 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada com gasolina.
Os controles de estabilidade e tração são item de série em toda a linha. Falta inexplicável é a presença de mais airbags além das bolsas duplas frontais – os laterais não estão disponíveis nem como opcionais na versão de topo, o que causa estranheza, uma vez que os mais simples Kwid, Logan e Sandero trazem o item de série em toda a gama.
A renovação quase completa do Duster deixa o modelo muito mais sintonizado com o mercado de SUVs compactos. Os saltos em tecnologia e acabamento são notáveis, mas a nova carroceria – mais pesada – faz com que o desempenho do motor 1.6 seja apenas aceitável. Quem quiser mais “ânimo” a bordo do novo Duster 2021 terá que aguardar até o próximo ano, quando está prevista a estreia de um 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Mercedes-Benz.
Ficha técnica Renault Duster Iconic CVT
• DADOS DE FÁBRICA |
Renault Duster Iconic CVT |
Motor | 1.6; 4 cil em linha; 16V |
Cilindrada | 1598 cm³ |
Potência | 120 cv (E) / 118 cv (G) a 5.500 rpm |
Torque | 16,2 kgfm (E/G) a 4.000 rpm |
Câmbio | CVT, 6 marchas simuladas |
Suspensão (dianteira / traseira) | McPherson / Eixo de torção |
Pneus e rodas | 215/60R17 |
Freios (dianteira / traseira) | Disco ventilado / tambores |
Peso (kg) | 1279 kg |
Comprimento (mm) | 4.376 mm |
Largura (mm) | 1.832 mm |
Altura (mm) | 1.693 mm |
Entre-eixos (mm) | 2.673 mm |
Porta-malas (litros) | 475 l |
Tanque de combustível (litros) | 50 l |
Preço | R$ 87.490 |
• NOSSAS MEDIÇÕES |
Renault Duster Iconic CVT |
Aceleração (em segundos) | |
0 a 100 km/h | 13,92 |
0 a 400 m (km/h) | 19,46 (116,6) |
Retomada (em segundos) | |
40-100 km/h em Drive | 9,7 |
60-120 km/h em Drive | 13,8 |
80-120 km/h em Drive | 10,53 |
Frenagem (em metros) | |
80-0 km/h | 25,64 |
100-0 km/h | 40,07 |
120-0 km/h | 57,15 |
• MEDIÇÕES MERCADO |
Renault Duster Iconic CVT |
Consumo (em km/l) | |
Cidade etanol | 6,1 |
Rodovia etanol | 11,7 |
Média PECO | 8,6 |
Autonomia (km) | 430 |
• PREÇOS E CUSTOS |
Renault Duster Iconic CVT |
Carro testado | R$ 93.140 |
Versão básica | R$ 87.490 |
Desvalorização (1 ano) | n/d |
Garantia | 3 anos |
IPVA (4%) | R$ 3.499,6 |
Seguro | n/d |
Revisões (até 30 mil km) | n/d |
• AVALIAÇÃO MERCADO |
Renault Duster Iconic CVT |
Preço básico | R$ 71.790 |
Preço completo | R$ 93.140 |
Consumo médio | 5,5 |
Autonomia | 4,5 |
Garantia | 8 |
Seguro | n/d |
Revisão | n/d |
Desvalorização | n/d |
Pintura | 3 |
Média final | 5,3 |
• NOSSA AVALIAÇÃO |
Renault Duster Iconic CVT |
Carroceria | 7,6 |
Segurança | 6,1 |
Conforto de rodagem | 7,1 |
Propulsão | 5,5 |
Comportamento | 7,5 |
Média final | 6,8 |
Fotos | Revista CARRO e Divulgação/Renault
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