Audi S3 Sedan dá banho em Subaru WRX na pista

Um abismo de quase R$ 80.000 separa o Subaru WRX do Audi S3 Sedan. Suas propostas, contudo, são bastante semelhantes: ambos são esportivos “civis”, pensados para priorizar a potência sob o capô, sem inviabilizar o uso urbano diário, esperado por quem adquire um sedã. Equipados com motores 2.0 turbo, os dois buscam atender as mesmas necessidades, porém com perfis totalmente distintos.

Recém-chegado no mercado, o Subaru WRX abandonou de vez a nomenclatura Impreza para assumir uma personalidade própria. Isso significa que, diferentemente do alemão, que deriva da versão convencional do A3 Sedan, o WRX passou por mudanças estruturais – como reforços no chassi – em comparação com o Impreza, aproximando-o ainda mais da sua proposta esportiva. No caso do S3 Sedan, somente a suspensão foi retrabalhada para tornar o carro mais firme no chão.

Por fora, o japonês também evidencia o caráter jovial de maneira mais explícita. A começar pela entrada de ar protuberante sobre o capô. A grade frontal preta, bem como as entradas de ar e rodas escurecidas, também chama a atenção. Há saídas de ar atrás dos paralamas da frente que servem apenas como recurso visual. Atrás, o spoiler e as saídas de escapamento duplas completam o design esportivo.

A Audi optou por uma caracterização mais “sleeper”, ou seja, que não saltasse aos olhos os 280 cv que ele esconde sob o capô. As únicas diferenças do S3 para o A3 são a grade frontal (com frisos cromados), as duplas saídas do escape e a inscrição do nome do carro na frente e atrás. O spoiler traseiro é discreto e as rodas, embora com desenho exclusivo, não têm um desenho tão chamativo.

ECONOMIA EM ESTILO
Internamente, o Subaru segue a cartilha asiática ao oferecer um nível de acabamento bastante racional. O plástico simplório, preto, domina a cabine, mesclando com uma parte estofada revestida de couro nas portas e apliques que imitam fibra de carbono no console central e painel. A construção é funcional e bastante ergonômica, mas o design da central multimídia reverencia os anos 1990, sobretudo por conta do display. E sua navegação ­– e também do computador de bordo, situado logo acima – merece ressalva, pois é pouco intuitiva (a Subaru alega que para o modelo 2016, a central será substituída por uma tela touchscreen).

Apesar de os alemães terem uma preocupação maior com o acabamento, o S3 Sedan foge dessa regra. Ainda mais considerando os R$ 226.190 cobrados por ele, a cabine do sedã dista – e muito – do que se espera pelo tamanho do investimento. Não há praticamente nenhuma distinção entre ele e o A3 Sedan, que custa cem mil reais a menos, isto é: o interior é tão sóbrio quanto, mas caprichado quanto à instalação. Ao menos a tela retrátil do rádio MMI dá um toque de modernidade.

Se no quesito acabamento ambos se equivalem – com um dolo maior do S3 devido ao preço –, em espaço interno o WRX dá um banho no concorrente. Ainda que, surpreendentemente, a soma das medidas internas do S3 seja maior (6,21 m contra 6,18 m) os 13 cm a mais em comprimento e 2 cm na distância entre-eixos, tornam o Subaru bem mais amigável para transportar cinco pessoas.

Para quem possui 1,80 m de altura, o espaço atrás é confortável no WRX para pernas e cabeça. Embora ele tenha o túnel central elevado, é possível levar uma pessoa mais ali em viagens curtas. Já no S3 o melhor é reservar os bancos para apenas dois adultos, que, com a altura citada, sofrem mais tanto para as pernas quanto para a cabeçaa. Essa desvantagem já era de se esperar, pois a origem do S3 é de uma carroceria compacta, enquanto o WRX deriva de um sedã médio.

Quanto a comodidade para os passageiros atrás, os dois adotam estratégias diferentes. Enquanto o Audi prioriza o conforto com uma saída de ar-condicionado dedicada, o Subaru opta pela funcionalidade de dois portas-copo retráteis. Neste aspecto, inclusive, o japonês é mais orientado, por ter mais portas-objetos espalhados pela cabine. O Audi só se iguala ao concorrente pelos bancos traseiros bipartidos, que facilitam o acesso ao bagageiro (de 390 litros de capacidade no S3 e 460 litros no WRX).

TIRA-TEIMA NA PISTA
Foi na pista de testes que o S3 Sedan mostrou sua notória superioridade. O conjunto do motor 2.0 turbo de 280 cv de potência e 38,7 kgfm de torque, já disponíveis às 1.800 rotações, acoplado à eficiente transmissão de dupla embreagem de seis velocidades e tração integral Quattro, foi capaz de impulsionar o sedã aos 100 km/h em 5s09. A marca é 2s17 mais rápida que a obtida pelo WRX, que cumpriu a prova em 7s26 (quase um segundo mais lento do que a fabricante alega).

Embora o japonês também disponha de um trem de força respeitável (equipado com motor 2.0 boxer de 268 cv e 35,7 kgfm de torque) e tração nas quatro rodas, o câmbio CVT, que simula até oito marchas virtuais, evidentemente prejudica o desempenho do modelo. Cada “troca de marcha” no modo de condução Sport Sharp (mais nervoso) produz um solavanco sensível que deve extrair preciosos centésimos de segundo na aceleração. Tal característica é sentida também nas retomadas, nas quais ele foi superado, em média, em 1s44 pelo S3.

A agilidade do câmbio do Audi, portanto, é um dos principais atributos do esportivo. Até mesmo em conforto – terreno onde o CVT deveria ser melhor – ele consegue superar o rival na cidade, com trocas mais suaves. Quando é preciso recorrer ao kick down, para ultrapassagem na estrada, o S3 também prova sua eficiência, uma vez que o Subaru “engasga” e demora mais para reagir. Trata-se de um comportamento peculiar do câmbio do Subaru, considerando a natureza da tecnologia continuamente variável.

Outra vantagem do S3 é o som produzido pelo escape. A cada troca de marchas há um incentivo sonoro, sutil, mas perceptível o suficiente para aumentar a experiência esportiva a bordo do carro (além de servir para justificar as quatro bocas atrás). No WRX o som do escapamento é discreto, mas o proveniente do excesso de ar na admissão da turbina compensa quando dá para escutá-lo.

Nas provas de frenagem, o S3 manteve a soberania. Pesando só 69 kg a menos, os 37,1 m que ele consumiu para frear de 100 km/h a zero se destacam ainda mais dos 45,1 m percorridos pelo WRX. Quanto ao fading, os resultados foram parecidos: 1,68 m para o S3 e 1,73 para o WRX de diferença entre a melhor e a pior frenagem com o veículo carregado.

O motor do S3 Sedan também se mostrou mais parcimonioso no consumo. Se em trechos urbanos os dois modelos obtiveram um “empate técnico” (7,9 km/l com o S3 e 8 km/l com o WRX), na estrada, o Audi levou a melhor, com uma média de 13,3 km/l, ante a 11,1 km/l do japonês. Com isso, a média ponderada do S3 é de 10,3 km/l, enquanto que do WRX é de 9,3 km/l.

Em prol da esportividade, os dois carros têm suspensões mais firmes, antenadas à estabilidade e conectividade entre o motorista e o solo. Neste quesito, apesar de o Audi não merecer críticas, o Subaru leva a melhor. Mas essa vantagem é menos valiosa no uso urbano. Conviver diariamente com o WRX é mais cansativo, pois o veículo absorve menos as irregularidades, tornando-o suscetível à qualquer saliência ou buraco. O S3 filtra essas imperfeições de maneira mais equilibrada (entre conforto e precisão).

A posição de dirigir de ambos é exemplar. Os bancos dianteiros agarram bem o condutor e o formato do assento privilegia uma postura mais próxima do assoalho, esportiva. Os dois volantes oferecem empunhaduras firmes e prazerosas, com uma leve vantagem para o Subaru. Quanto a precisão da direção, o consumidor não notará diferença entre eles: o condutor tem total controle sobre onde apontar o carro e ele seguirá a direção pretendida exatamente.

NA PONTA DO LÁPIS
Ainda que o Subaru WRX tenha perdido do Audi S3 Sedan na nossa pista de testes não significa que ele não tenha poder de empolgar ao volante ou que o nível de emoção ao guiá-lo seja tão oprimido pelo rival. E considerando a enorme distância de preços entre eles, o WRX acaba se beneficiando por oferecer um pacote de equipamentos equivalente ao S3 Sedan, aliado a um desempenho notável, mas custando R$ 80 mil a menos.

Por R$ 147.900, o WRX conta com sete airbags, em vez dos cinco que o concorrente dispõe. Controles de estabilidade e tração, piloto automático, ar-condicionado digital, sistema de som multimídia, farol de xênon e teto solar estão lá, assim como no S3, que custa R$ 226.190. Enquanto um tem câmera de ré de série o outro chega com sensor de estacionamento traseiro. A única vantagem considerável do S3 são os alto-falantes Bang&Olufsen que, de fato, produzem um som de maior qualidade e potência.

A revisão programada do Subaru também é mais em conta que seu rival. Para os três primeiros serviços (de 10, 20 e 30 mil km), a concessionária cobra R$ 1.917, já com o S3 Sedan o cliente terá que desembolsar R$ 2.650. As cotações de seguro também pesam mais para o alemão: R$ 10.217 contra R$ 9.977 do WRX. O ponto positivo da Audi é ter uma rede de concessionárias maior e um volume bem mais relevante de vendas no mercado, o que facilita tanto o atendimento quanto a revenda.

VEREDICTO
A julgar pelas cifras em disputa e, especialmente, pelo perfil de público que está disposto a pagar mais para ter um desempenho melhor, não há como não eleger o S3 Sedan como vitorioso neste comparativo.

A superioridade dele na pista de testes justificaria o prazer do consumidor que o preferisse ao Subaru WRX. Afinal, conforto para cinco ocupantes e preços de revisão não estão exatamente na lista de prioridades deste público.

O WRX consegue proporcionar boa dose de emoção ao volante e com certeza é uma opção acertada para quem quer entrar neste segmento com mais racionalidade. O preço é o grande atrativo o japonês, por cobrar “apenas” R$ 551/cv (para o Audi, esta relação é de R$ 807/cv).