BMW i3 é o único carro elétrico vendido no Brasil

O custo elevado dos carros elétricos na Europa (e a queda no preço da gasolina) alimentam questionamentos sobre a viabilidade desse tipo de veículo no Velho Continente. Selecionamos e analisamos as 12 dúvidas mais comuns sobre o assunto.

Preço ainda é uma barreira para carros elétricos

  • OS CARROS ELÉTRICOS SÃO MUITO CAROS – VERDADEIRO

Quem vive na Alemanha e precisa decidir entre adquirir um carro elétrico ou um convencional enfrenta um grande dilema. Afinal, sem os subsídios governamentais, o preço de um modelo elétrico torna-se muito menos atraente e, em conjunto com as limitações de autonomia, podem fazer com que a aquisição de um elétrico não seja mais tão vantajosa. Um VW e-Golf, por exemplo, cuja potência é de 115 cv, custa 34.900 euros na Alemanha, enquanto a versão similar com motor a combustão (1.2 TSI) sai por 17.650 euros. 

Como se não bastasse, a queda do preço da gasolina dificulta ainda mais a venda dos elétricos. De acordo com os especialistas, somente a partir de 2018 o uso dos elétricos se tornará vantajoso em relação aos convencionais nos custos totais (aquisição, manutenção, impostos etc.), mas desde que o preço do litro da gasolina não seja inferior a 1,55 euro. Assim, não é à toa que uma comparação entre diversos mercados europeus mostra que os veículos elétricos só conseguem boas vendas quando os governos contribuem com grandes incentivos.    

  • ELÉTRICOS SÃO SILENCIOSOS E NÃO OFERECEM EMOÇÃO – FALSO

Ninguém duvida que, para os aficionados, não existe subsituto para o som inebriante de um poderoso motor V8. Só que, na realidade, mais de 90% dos carros hoje possuem propulsores de 4 cilindros (ou menos), e estes não conseguem produzir um som tão encantador. Assim, um elétrico acaba se saindo melhor  na cidade, já que o seu silêncio ao rodar incomoda muito menos pessoas e ainda proporciona um clima de tranquilidade para o motorista, embora muita gente defenda que os elétricos deveriam emitir algum tipo de som para alertar os pedestres. Mas, na estrada, a história é diferente. A 80 km/h, por exemplo, um BMW i3 é pouca coisa mais silencioso que um 116d. E a 130 km/h a situação se inverte, e o 116d, graças à sua aerodinâmica mais eficiente, consegue ser mais silencioso que o “quadradão” i3. Com relação à emoção, o Tesla Model S e o Mercedes SLS elétrico já provaram que podem, sim, proporcionar muita diversão.

  • MOTORES ELÉTRICOS SÃO TODOS IGUAIS – TOTALMENTE FALSO

Embora tenham em comum o fato de disponibilizarem o torque máximo de maneira quase instantânea, os motores elétricos não são todos iguais. O Tesla Model S e o Renault Twizy, por exemplo, utilizam motores assíncronos, sem imãs permanentes, cuja estrutura é mais simples. É alimentado apenas por corrente alternada. Já o Nissan Leaf conta com motor síncrono, principal alternativa ao assíncrono, e considerado mais eficiente. Utiliza imãs permanentes. A BMW adotou um motor elétrico do tipo híbrido síncrono em seu i3, considerado pelos especialistas como uma boa alternativa, pois exibe uma curva de torque mais plana. Além disso, a potência é entregue às rodas de maneira mais constante, proporcionando dirigibilidade mais agradável.  

Motores assíncrono (Twizy), síncrono (Leaf) e híbrido síncrono (i3)

  • A TESLA É A MELHOR EM ELETROMOBILIDADE – PARCIALMENTE VERDADEIRO

Se não fosse a Tesla, os carros elétricos, provavelmente, ainda seriam muito aborrecidos para dirigir, em função da preocupação ambiental. A fabricante californiana compreendeu três coisas melhor que as demais: a autonomia de um carro elétrico não precisa ser extremamente curta, o tempo de recarga das baterias é demorado, mas em uma estação especial (Supercharger) pode ser muito rápido. E o mais importante: dirigir um carro elétrico não precisa ser algo aborrecido. A base para tudo isso é um enorme conjunto de baterias de alta capacidade que, de acordo com a empresa, tem vida útil de até 12 anos. O conjunto de acumuladores da marca Panasonic está no mesmo nível de desenvolvimento das melhores baterias de celulares disponíveis atualmente. Tudo isso, porém, faz do Tesla S um modelo longe de ser acessível e não muito eficiente.

  • FABRICANTES TRADICIONAIS JÁ FAZEM BONS ELÉTRICOS – FALSO (POR ENQUANTO)

Falando novamente sobre a Tesla, ela faz elétricos muito melhor que as grandes rivais, embora em 2013 a empresa tenha chegado próximo da falência, por conta dos investimentos elevados e do pequeno número de modelos vendidos. A empresa, porém, conseguiu dar a volta por cima e muitos especialistas acreditam até que a Tesla pode se transformar em uma fabricante de veículos elétricos de massa. As fabricantes alemãs, por exemplo, se deparam com diversos problemas. Mesmo assim, ainda conseguem investir em modelos muito avançados (como o i3 e sua estrutura de plástico reforçado com fibra de carbono, por exemplo), nos quais não obtêm nenhum lucro. Já no campo das baterias, fabricantes como LG, Samsung e Sanyo/Panasonic travam disputas acirradíssimas. Tudo isso de olho no gigantesco potencial do mercado de elétricos, cujo retorno pode demorar, mas que vale a pena. Basta lembrar que a Toyota só começou a lucrar com o seu híbrido Prius após o lançamento da terceira geração do revolucionário modelo.   

  • ELÉTRICOS SÃO SEMPRE AMBIENTALMENTE CORETOS – FALSO

Se fosse considerado apenas a energia consumida na tomada doméstica para recarregar um carro elétrico, a afirmação deste tópico estaria certa. Contudo, é preciso lembrar qual é a matriz enérgética que fornece a eletricidade e o seu custo. Na Europa, por exemplo, os automóveis elétricos, na verdade, possuem um “escapamento virtual” representado pelas usinas movidas a carvão, que ainda são as principais responsáveis pela produção da energia em muitos países, assim como as nucleares, de grande risco potencial. Ou seja, a eletricidade pode ser uma fonte de energia limpa, mas a sua produção ainda pode provocar muita poluição. Somente a adoção de fontes totalmente “verdes” (usinas eólicas ou alimentadas por energia solar, por exemplo) pode transformar esse cenário, mas isso ainda vai levar muito tempo. Na Alemanha, atualmente, apenas um quinto da energia elétrica oferecida provém de fontes totalmente amigáveis ao meio ambiente.  

Usinas termelétricas prejudicam mais o meio ambiente para gerar energia

  • APENAS CARROS LEVES SÃO BONS MODELOS ELÉTRICOS – VERDADEIRO EM PARTE

Carros mais pesados precisam de mais potência para serem movimentados. Assim, é desejável um carro mais leve, mas não a qualquer custo, pois a construção utilizando materiais leves – como fibra de carbono ou alumínio – é extremamente cara. Além disso, não se pode esquecer que os automóveis elétricos se beneficiam do maior peso durante as desacelarações e frenagens, em que a energia cinética é transformada em eletricidade. 
Por conta disso, não é de se estranhar que, embora seja 370 kg mais pesado, o Volkswagen e-Golf apresenta consumo apenas dez por cento maior que o do subcompacto e-up!

  • AUTONOMIA DOS ELÉTRICOS É INADEQUADA – FALSO

Em um automóvel convencional, o tamanho do tanque de combustível não importa para definir o seu preço, já que os custos de produção são praticamente os mesmos. Já no carro elétrico, uma bateria maior tem um impacto direto no preço final do veículo. Além disso, não se pode esquecer que, de acordo com as pesquisas, 95% das viagens feitas com automóveis não ultrapassam 150 km. Assim, não faz sentido criar um elétrico com autonomia para 300 km. O melhor é investir em novas tecnologias de recarga rápida e em equipamentos mais eficientes.

  • AS PERDAS DURANTE A RECARGA SÃO DESPREZÍVEIS – FALSO

Imagine se, durante a operação de abastecimento no posto de combustíveis, uma quantia entre 10% e 20% da gasolina desaparecesse em pleno ar. Pior: esse combustível desperdiçado sairia da bomba, mas não entraria no tanque. Seria um absurdo, concorda? Pois algo similar é corriqueiro nas recargas das baterias dos carros elétricos. Cabos, tomadas, equipamentos… todos os sistemas atuais apresentam perdas durante a transmissão. Na melhor das hipóteses, o desperdício pode se limitar a um dígito, mas, na pior, pode chegar a um terço da energia utilizada. Isso pode ocorrer no caso do Tesla Model S, por exemplo, se for utilizada uma fonte trifásica no momento da recarga e o motorista selecionar o modo 230 V. Portanto, é preciso ficar atento. Em compensação, não se pode deixar de observar que os carros elétricos não dependem apenas das recargas por meio de tomadas para alimentar suas baterias. Eles também contam com sistemas de recuperação de energia que, nos modelos mais modernos, pode responder por até 80% da eletricidade que o veículo consome normalmente. Ou seja, para aproveitar bem um carro elétrico, é fundamental explorar a inércia.

Desperdício de energia pode chegar a um terço ao recarregar

  • EUROPA PAROU NO DESENVOLVIMENTO DE BATERIAS – PARCIALMENTE VERDADEIRO

Em dezembro do ano passado, a Li Tec, empresa especializada em baterias, encerrou suas operações na Alemanha, embora a Daimler tenha realizado esforços no sentido de evitar o fechamento da empresa. Assim, o país não conta com nenhuma fábrica do componente, nem de celulares. Enquanto isso, os grandes produtores de baterias se concentram na Ásia, especialmente no Japão, na China e na Coreia do Sul. Mas, para Martin Winter, especialista no assunto, isso é um absurdo. “Na Alemanha, possuímos toda tecnologia, estrutura e, principalmente, mão de obra qualificada para seguir desenvolvendo novos equipamentos”, afirma. “Sem falar que grandes empresas de pesquisas químicas são de origem alemã. Então, me parece que existe uma grande oportunidade disponível e que só precisaríamos de algum tempo e de investimento para seguir desenvolvendo novos produtos”, explica Winter. Contudo, sabe-se lá por qual motivo, as empresas preferem, ao que parece, deixar a tecnologia das novas baterias para os pesquisadores de outros países.  

  • A GRANDE REVOLUÇÃO DAS BATERIAS OCORRERÁ EM BREVE – FALSO

A boa notícia, por enquanto, é que, em breve, o preço das baterias atuais deve cair bastante. Além disso, a capacidade delas também deve aumentar. Assim, não é difícil imaginar uma bateria com o dobro de capacidade das atuais pela metade do preço. Mas também temos uma má notícia a dar: a grande revolução das baterias, com imensa capacidade de armazenamento, capazes de proporcionar autonomia quase infinita, não vai ocorrer tão cedo. Antes disso, a tecnologia dos acumuladores atuais, de íons de lítio, será muito mais explorada e desenvolvida.

De acordo com os especialistas Martin Winter, da Universidade de Münster, na Alemanha, e Markus Hackman, chefe do setor de eletromobilidade da empresa P3, novas combinações do lítio com níquel, manganês ou cobalto deverão surgir, proporcionando maior autonomia aos carros elétricos, em torno de 500 km – o que viria ao encontro das pesquisas da Volkswagen, que possui um protótipo do e-Golf, capaz de alcançar essa quilometragem. Martin Winter lembra ainda a iniciativa da Tesla, que está construindo uma gigantesca fábrica de baterias em Nevada, nos Estados Unidos, e que deverá entrar em operação no próximo ano. Segundo a empresa, a gigafábrica será capaz de produzir baterias para 500.000 veículos elétricos por ano, quando estiver operando com capacidade plena, em 2020. As baterias que serão produzidas ali, porém, deverão ser similares às atuais, mas com preço menor.  

  • INFRAESTRUTURA DE RECARGA É INADEQUADA – VERDADEIRO

Ir para o trabalho, voltar para casa e, ao chegar, poder recarregar o carro por meio de uma simples tomada parece ser a grande vantagem do carro elétrico, certo? Talvez, para quem tem garagem em casa e possui uma tomada à mão. Mas, nas grandes cidades, onde muita gente mora em apartamentos e utiliza garagens compartilhadas com várias outras pessoas, ou tem de deixar o carro em estacionamentos? Na Alemanha e na França, por exemplo, já existem alguns pontos de recarga, mas, mesmo assim, o número é muito pequeno em relação à frota de automóveis elétricos existente. Para piorar, o sistema de pagamento ainda deixa a desejar – principalmente na Alemanha. Como se não bastasse, ainda existem equipamentos de recarga rápida distintos, que variam de acordo com a fabricante do carro. Para se ter ideia, seria como se os carros de VW, Fiat e Ford só pudessem ser abastecidos em postos da Shell, Esso e Texaco, respectivamente. Ou seja, a definição de um equipamento padrão (em toda a Europa, de preferência) já ajudaria bastante os consumidores. 

Estações de recarga ainda não são amplamente difundidas

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