Desde que foi anunciado o fim da produção do Mercedes SLS AMG, no fim de 2013, muito se falou sobre a dificuldade que a fabricante da estrela de três pontas teria para criar um substituto à altura. O desafio foi grande, mas, como os visitantes do Salão do Automóvel puderam conferir de perto, o resultado cumpriu o objetivo. Ao menos visualmente, já que o novíssimo Mercedes AMG GT é tão (ou mais) belo que o seu antecessor.

O enorme capô com dois vincos longitudinais e as bem dimensionadas saídas de ar nos para-lamas dianteiros remetem ao lendário 300 SL, de 1954, mas o novo cupê não traz as charmosas — e pouco práticas — portas estilo asa de gaivota usadas no SLS. Desta vez, a Mercedes priorizou a praticidade em vez do estilo.

Na parte de trás,o GT segue a fórmula anterior, com uma traseira curta e um grande vidro (maior e mais inclinado que o do SLS), que proporciona visibilidade adequada pelo retrovisor. Grandes lanternas horizontais com LEDs e a dupla saída de escapamento completam o visual. Há quem diga que a Mercedes “se inspirou” no estilo do 911, mas, apesar de algumas semelhanças, o AMG GT tem identidade própria. 

Aproveitando essa polêmica, colocamos o novo Mercedes frente a frente com o seu rival, o Porsche 911 Turbo para não apenas compará-los visualmente, mas, principalmente, no desempenho e na utilização diária. Para tanto, selecionamos a versão topo de linha do Mercedes, a GT S, que se diferencia por contar com motor mais potente e diferencial traseiro com bloqueio eletrônico, além de acabamento ainda mais refinado.  

Sob o capô, enquanto o 6 cilindros boxer de 3,6 litros do 911 Turbo desperta de maneira um tanto sonolenta, o V8 4.0 biturbo do Mercedes já acorda pronto para a briga, “urrando” com todo o fôlego assim que a partida é acionada.

Estamos saindo em Stuttgart, e a estrada segue serpenteando entre pequenas casas e vilas. O 911 segue célere, enquanto o câmbio PDK, no modo automático, sempre seleciona uma marcha mais alta, para proporcionar economia de combustível. O turbo de geometria variável, por sua vez, garante respostas precisas, e não se percebe nenhum turbolag ao se pisar fundo no acelerador.  O Porsche, enfim, não precisa provar nada.

O AMG GT S, por sua vez, parece apenas aguardar a sua vez. O ronco do seu motor soa nervoso, mesmo nos trechos de estrada mais tranquilos, mas basta parar no semáforo para ele “adormecer”, por conta do start-stop acionado. Nessa hora, o silêncio impera, mas basta aliviar o pé no freio para o V8 entrar em posição de alerta.

Aqui vale outra explicação: o GT S possui quatro opções de ajuste do comportamento dinâmico do carro (AMG Dynamic Plus), selecionadas por meio de um comando no console. Suspensão, assistência da direção, acelerador e controles de estabilidade e de tração têm seus parâmetros alterados de acordo com a opção desejada. Mesmo assim, é possível alterar o som emitido pelos escapamentos de maneira independente (também por meio de um botão no console). Assim, o motorista pode deixar o carro com um ronco poderoso, mesmo com o carro rodando no modo mais confortável e econômico.

Com relação ao motor, se o do Porsche é o conhecido boxer turbo de 6 cilindros horizontais, capaz de gerar 520 cv e 72,4 mkgf, o V8 do Mercedes é totalmente novo e traz uma nova configuração, com os dois turbos instalados na parte interna das bancadas de cilindros, o que — de acordo com a fabricante — permitiu construir um motor mais compacto e com menor índice de emissões, graças à posição dos catalisadores.  

Na prática, o AMG GT S é um carro com motor V8 biturbo que soa como se fosse de aspiração natural. E isso faz uma grande diferença. Não que o ronco emitido pelos escapamentos do 911 Turbo seja menos impressionante. Longe disso.

Após uma rápida viagem, chegamos à pista de testes, onde podemos explorar os dois cupês ao máximo. O 911 faz exatamente o que se espera dele, permitindo freadas tardias, correções além do ponto ideal e retomadas de velocidade quase instantâneas. Nunca pareceu tão fácil exceder a velocidade ideal em uma trajetória.

O Mercedes não fica atrás. Embora um pouco menos potente, o seu excelente equilíbrio (47% do seu peso está na dianteira e 53% na traseira) compensa a diferença graças à excelente dirigibilidade proporcionada pelo modelo, que segue a fórmula de motor dianteiro-transeixo traseiro. Mas é claro que contribuem para isso a suspensão com triângulos duplos superpostos e amortecedores eletrônicos, os freios carbocerâmicos (opcionais) e os controles eletrônicos de assistência. Sem falar do câmbio robotizado de dupla embreagem AMG Speedshift DCT 7 comandado por borboletas junto ao volante, ou do excelente diferencial traseiro com bloqueio eletrônico.

Passar a tarde avaliando essas duas supermáquinas não pode ser considerado um trabalho árduo, mas, no fim do dia, o corpo denuncia o esforço. Braços, joelhos e pescoço doem, fruto da força e da tensão. Mas, ao mesmo tempo, o sorriso e a expressão de satisfação deixam claro que, se fosse preciso, repetiria tudo novamente. E quantas vezes fosse necessário. Afinal, não é todo dia que se tem duas supermáquinas como essas à disposição. 

No fim, pesou o lado emocional na decisão  

De um lado, temos a eficiência impecável do 911 Turbo. Do outro, a novidade, o carisma e a tecnologia do Mercedes AMG GT S. Foi difícil apontar, mas por conta do ineditismo do seu projeto, do seu novo (e eficiente) motor biturbo, e, principalmente, graças ao seu preço 30.000 euros mais em conta, o Mercedes AMG GT S levou a melhor neste embate. Mas que fique bem claro: foi por pouco. 

Dados de fábrica

Mercedes-AMG GT S 
Motor V8; Cilindrada 3.982 cm³; Potência 510 cv a 6.250 rpm; Torque 66,3 kgfm a 1.750 rpm; Comprimento 4,54 m; Largura 1,93 m; Altura 1,28 m; Entre-eixos 2,63 m; Porta-malas 350 l; Aceleração de 0 a 100 km/h 3s8; Velocidade máxima 310 km/h; Consumo médio 10,6 km/l; Preço básico 134.351 euros (na Alemanha)

Porsche 911 Turbo 
Motor boxer 6 cilindros; Cilindrada 3.800 cm³; Potência 520 cv a 6.000 rpm; Torque 72,4 kgfm a 2.100 rpm; Comprimento 4,50 m; Largura 1,88 m; Altura 1,29 m; Entre-eixos 2,45 m; Porta-malas 375 l; Aceleração de 0 a 100 km/h 3s4; Velocidade máxima 315 km/h; Consumo médio 10,3 km/l; Preço básico 165.149 euros (na Alemanha) 

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