Uma das marcas de automóveis mais tradicionais e conceituadas da Itália, a lendária Alfa Romeo também se notabilizou por batizar seus modelos apenas com números e letras (basta lembrar do 6C e do 8C, do 1750 ou do 1900). Mas houve exceções e um dos mais importantes na história da marca foi o Giulietta, que completou 60 anos em 2014. Além de ser o primeiro automóvel da empresa batizado com um nome, o Giulietta acabou se tornando o pioneiro entre os modelos produzidos em grande quantidade na história da Alfa Romeo.
Para celebrar as seis décadas do modelo, estamos na Itália, mais precisamente em Mantova, cidade localizada ao norte da “bota”, na Lombardia, para disputar o Gran Premio Nuvolari, competição inspirada na famosa Mille Miglia, mas disputada apenas por clássicos. Para tanto, contamos com um Giulietta Sprint Zagato, versão criada para as pistas e, portanto, bem mais leve, já que trazia carroceria de alumínio, janelas de acrílico e interior despojado de qualquer luxo, além de um motor 1.3 de 101 cv. Com apenas 850 kg de peso, o Giulietta SZ (como ficou conhecido) podia acelerar de 0 a 100 km/h em 11s e atingia 200 km/h de velocidade máxima. Apenas 44 unidades foram produzidas.
Como todo carro de competição, esse Giulietta tem um interior acanhado, enquanto eu, em compensação, não possuo um biotipo de jóquei. Assim, fiquei preocupado quando soube que teria de correr com um copiloto ao meu lado. Como eu não havia convidado ninguém, a assessoria de imprensa do evento me informou apenas que um certo Hartmut me acompanharia no carro.
Para a minha felicidade, porém, logo descobri que Hartmut era uma dádiva dos céus. Não só porque ele é menor e mais leve do que eu, mas, principalmente, porque ele trabalha em tempo integral para a Alfa Romeo e está habituado a lidar com automóveis clássicos!
Mesmo assim, deixo claro que não tenho pretensão alguma de competir na prova. A ideia é simplesmente desfrutar a oportunidade de conduzir um clássico. O grande prêmio, como o nome indica, é uma homenagem a Tazio Nuvolari, heroico piloto dos anos 1930.
Enquanto aguardamos junto ao carro, em frente ao Palazzo Mantua, em Mantova, outros carros chegam e, coincidentemente, um Giulietta SZ estaciona ao nosso lado e, logo depois, um 1900 Zagato alinha no outro lado. O cenário não poderia ser melhor. Então, do 1900 SZ surge um cavalheiro que vem em nossa direção e diz: “Zagato”. Fico em silêncio durante uma fração de segundo, antes de identificá-lo. Trata-se de Andrea Zagato, filho do lendário fabricante de carrocerias, que participa do rali ao lado de sua esposa.
“Você, provavelmente, não vai se acomodar bem ali”, observou o Sr. Zagato, apontando para o interior do Giulietta SZ. “Meu pai sempre acreditou que a posição esportiva é a melhor para dirigir”, explicou.
Como o horário de nossa partida estava se aproximando, tratei de agradecer ao Sr. Zagato e de me preparar para a prova, tentanto me acomodar da melhor maneira a bordo do Giulietta. Em seguida, uma verdadeira orquestra começou a se aquecer. Um MGA apresentou dificuldades para acionar o motor, mas um Porsche 912 logo começou a acelerar. Quando uma Ferrari 250 GT/E entrou em ação com seu motor de 12 cilindros, porém, nada mais pôde ser ouvido.
A bordo do Giulietta SZ, o trabalho de ajustar os cronômetros e conferir o roadbook estava animado. Hartmut — novamente para a minha felicidade — mostrou-se familiarizado com os instrumentos e as fórmulas para calcular a velocidade que deveríamos manter para ir bem na prova.
Durante a prova, as longas retas através do Vale do Rio Pó nos permitem constatar que rodar com as janelas e os vidros traseiros escamoteáveis abertos não é muito recomendável por conta do nível de ruído. Mas fechá-los não alivia muito a situação, além de transformar o interior do carro em uma verdadeira sauna.
O motor de 4 cilindros trabalha como um relógio, graças ao excelente trabalho dos mecânicos que cuidam do modelo com carinho no Museo Storico Alfa Romeo, em Arese (sede da empresa). Mas é entre 5.000 e 6.000 rpm que o propulsor mostra todo o seu fôlego e encanta.
Não é à toa. Quando foi lançado, em 1954, o motor do Giulietta representou um marco, ao trazer duplo comando de válvulas no cabeçote, câmaras de combustão hemisféricas com vela central, além de bloco e cabeçote feitos de alumínio, entre outras inovações.
O carro exibe uma dirigibilidade maravilhosa e, para culminar, encontramos (e ultrapassamos) alguns Fiat Millecento, Austin Healey e Lancia Fulvia em nosso caminho. Começa a anoitecer quando chegamos ao nosso destino, Rimini. Servindo como nosso carro de apoio, um Alfa Romeo Giulietta atual nos segue, com seus 235 cv, tração dianteira, uma caixa de ferramentas completa no porta-malas e bem-vindos faróis de xenônio, que brilham e facilitam o trabalho de Hartmut de checar a direção e o endereço corretos do hotel no roadbook, enquanto trafegamos por uma via escura.
Um rali charmoso para fãs de carros históricos
O Gran Premio Nuvolari é uma alternativa mais charmosa à tradicional Mille Miglia (que voltou a ser disputada com automóveis clássicos). Durante três dias, os competidores percorrem o trajeto entre as cidades de Mantova (na Lombardia) e Rimini (na Emilia Romagna), no norte da Itália. No segundo dia, há um roteiro pela charmosa região da Toscana. Algumas pessoas dizem que a prova, na verdade, não é disputada a sério e serve mais como um passeio de raridades. Pode ser, mas, mesmo assim, é um evento que vale a pena ser conferido de perto. Mais informações no site gpnuvolari.it.
Ficha técnica
Motor: 4 cilindros I dianteiro I longitudinal I gasolina
Vel. máxima: 200 km/h
Aceleração (0 a 100 km/h): 11s
Cilindrada: 1.290 cm3
Potência: 101 cv
Torque: 11,5 mkgf
Câmbio: Manual I 5 marchas
Tração: Traseira
Rodas: Aço estampado, 15”
Susp. dianteira: Triângulos superpostos
Susp. traseira: braços arrastados