Desde que assumiu a direção geral da Peugeot, há pouco mais de dois anos, o português Carlos Tavares planejou transformá-la em uma marca mais sofisticada. Não premium, pois esse papel cabe à DS, mas em um nível imediatamente abaixo, para concorrer com as fabricantes já reconhecidas como premium no segmento em que estas enfrentam mais problemas: o de compactos.
No caso dos SUVs, o Nissan Qashqai tornou-se referência na Europa, mesmo não tendo sido o pioneiro. Mas foi ele o responsável pela popularização do estilo “posição elevada de dirigir com estilo aventureiro”. Ou, como se pode definir, o familiar compacto dos tempos modernos.
Eis que agora a Peugeot pretende se apossar da coroa hoje pertencente ao Nissan, e, ao que tudo indica, ela está muito mais bem preparada para a missão com o renovado 3008. Para isso, a fabricante recorreu à sua plataforma EMP2 a fim de garantir que algumas metas fossem alcançadas, entre elas, criar um carro mais espaçoso, robusto, mais leve e eficiente.
O resultado é que, na prática, o novo 3008 possui 6 cm a mais no comprimento e na largura em relação ao anterior, o que é percebido pelos ocupantes, que contam com mais espaço para as pernas, principalmente no banco traseiro. A área disponível para a cabeça dos passageiros de trás também melhorou, mas vamos deixar para analisar esse item posteriormente, já que a unidade avaliada contava com teto panorâmico.
Para o condutor, a vida a bordo ganhou novo sentido graças ao conceito i-Cockpit 2, que vai começar a ser adotado em todos os modelos Peugeot a partir de agora. Os bancos da versão GT Line não chegam a ser excepcionais, mas são muito bons, com ajustes suficientes para oferecer a melhor posição de dirigir.
O volante, por sua vez, se já era pequeno no 208 (modelo que estreou esse conceito de cabine), agora está ainda menor, já que é achatado na parte inferior e superior, a fim de permitir melhor visualização do quadro de instrumentos, que agora é totalmente digital e tem leitura fácil, além de exibir animações 3D nas trocas de menus e manuseio simples e intuitivo por meio dos comandos no volante multifunção.
Já os controles dos sistemas de entretenimento e de climatização estão localizados abaixo da tela principal, no centro do painel. Não é nenhuma novidade, mas o conjunto exibe acabamento muito bom, com aparência de alumínio e impressão de requinte. Abaixo dessas teclas estão outras, quase camufladas (têm a mesma cor do painel) por não serem usadas com a mesma frequência. Como curiosidade, vale ressaltar que existe um botão menor, à esquerda, que serve para exibir o humor do condutor. Se estiver sereno, a iluminação da cabine tem cores mais suaves e o aromatizador da cabine emite um perfume relaxante. Mas, se o motorista estiver se sentindo mais animado, as luzes passam a ser vermelhas. São pequenos mimos que agradam.
A escolha de materiais no acabamento do novo 3008 é sensata e, verdade seja dita, corresponde àquilo que se espera de um modelo disposto a competir com rivais premium. Há couro revestindo diversos pontos e as partes plásticas transmitem impressão de qualidade.
Mas nem tudo é perfeição a bordo desse novo Peugeot. Se o banco do motorista oferece ajustes suficientes, o mesmo não vale para o do passageiro, que é obrigado a se contentar com o sistema de alavanca e mola na hora de regular a inclinação do encosto, em vez do ótimo ajuste milimétrico por botão giratório. Outra crítica é destinada ao projeto do carro: são necessárias três voltas para girar o volante de batente a batente. Questão de costume. Menos mal que a assistência facilita muito a tarefa.
Voltando aos elogios, o acabamento do 3008 impressionou pela ausência de barulhos indesejáveis com o carro em movimento. Detalhe: como o isolamento acústico também é bom, se houvesse rangidos ou estalos, eles seriam percebidos com muita facilidade.
A unidade que avaliamos contava com o conhecido motor 1.6 turbodiesel, que, mesmo sem ser um primor em termos de silêncio e suavidade, não foi muito percebido. Além disso, vale destacar o excelente sistema start-stop, um dos melhores disponíveis no mercado europeu, com atuação suave e discreta ao religar o motor.
Quanto à dinâmica, o novo 3008 confirmou a expectativa e mostrou mais agilidade que seu antecessor, sobretudo em curvas e na procura dos limites. O controle de estabilidade intervém pouco e, quando o faz, está longe de ser brusco. A carroceria do SUV inclina menos que antes.
Nas entradas de curva, mesmo desacelerando um pouco mais a fim de transferir peso para a dianteira e tentar provocar algum desequilíbrio, a perda de tração se mostrou quase nula. Já a traseira só derrapa quando provocada a isso. De resto, o comportamento do novo Peugeot se mostrou sereno, com a contribuição do motor 1.6 e seus 120 cv, que se mostram suficientes para as necessidades da maior parte dos motoristas na utilização cotidiana.
O novo Peugeot 3008 pode ser o melhor SUV compacto do mercado? Sim, mas a concorrência é muito forte e deve se intensificar nos próximos meses. Enquanto isso não acontece, é justo que a marca do leão aproveite. Seus engenheiros realizaram um ótimo trabalho.