A expressão do meu colega ao conferir o aplicativo de previsão do tempo no seu celular não esconde a decepção. Tempestades no decorrer do dia, com ventos fortes e previsão de ondas fortes no litoral do Mediterrâneo. Ou seja, condições nada propícias para quem pretende avaliar um carro com impressionantes 740 cv.

As rodas são aro 20'' na dianteira e 21'' na traseira

Pausa para uma observação: eu sei que você vai rir disso, mas o motor V12 de aspiração natural não é o item mais importante do novo modelo da Lamborghini (embora os aficionados insistam em dizer o contrário).

De volta ao carro, já que não podemos ir para a praia, o negócio é seguir para o interior, onde o tempo deve estar melhor. Onde está o botão de partida? Escondido sob uma capa vermelha! Um detalhe tolo para alguns, mas muito bacana para outros. O estrondo que ecoa logo em seguida parece um trovão. 

Na traseira, destaque para o aerofólio com três tipos de ajuste

Ao se aliviar o acelerador logo após uma pisada mais forte, percebe-se labaredas saindo pelos tubos do sistema de escapamento desenvolvido para o Aventador S, com peso reduzido. O som parece um hino religioso em versão heavy metal. Alto, impressionante, ensurdecedor, mas, ao mesmo tempo, encantador.

Seguimos viagem. Segunda marcha, terceira… as pausas entre as trocas da caixa automática de sete marchas vão ficando mais curtas e harmoniosas. Avançamos em meio ao trânsito e aproveito para lembrar que o Aventador não é exatamente o melhor veículo para se estar em um congestionamento. Ele esquenta bastante, o campo de visão não é dos melhores (principalmente bem junto do carro) e a impressão é de que os demais motoristas fazem questão de chegar perto demais. Para piorar, a imagem fornecida pela câmera de ré não é grande coisa, tornando cada manobra ainda mais arriscada. Ainda tem as portas que abrem para cima (e exigem atenção) e o acelerador bastante sensível – e que faz lembrar o antigo Countach. 

MELHOR LONGE DA CIDADE
Chegamos, finalmente, à estrada! Não se trata de uma rodovia alemã sem limite de velocidade, mas já é possível usufruir um pouco do que o Aventador S pode entregar. No quesito aerodinâmica, de acordo com a fabricante, o novo cupê possui 130% mais downforce na dianteira que o primeiro Aventador, graças aos aprimoramentos implementados. Nas laterais, as novas entradas de ar reduziram a turbulência, melhoraram o arrefecimento do motor e, consequentemente, a eficiência do modelo. Embora a potência tenha sido elevada para 740 cv (era 700 cv), o torque foi mantido em 70,4 mkgf.

A abertura das portas é do tipo tesoura

O acabamento interno reflete o objetivo do Aventador S, como explica a fabricante: ser diferente de qualquer outro modelo. Para isso, a Lamborghini usou muito couro no revestimento, além de partes que deixam exposta a estrutura de plástico reforçado com fibra de carbono. O quadro de instrumentos é totalmente digital (como o do Aventador “comum”), mas com nova grafia, e muda a aparência de acordo com o modo de condução selecionado.

Outra novidade da versão S é a função Ego, que permite personalizar uma série de parâmetros ao gosto do motorista (embora o nome possa transmitir outra ideia). Esse recurso já está presente em outros carros mais populares, mas em um Lamborghini isso muda muita coisa. Antes, você podia apenas escolher entre deixar o controle de tração ligado ou desligado, por exemplo. Agora, é possível selecionar três modos de atuação. O mesmo vale para direção, suspensão, respostas do acelerador e controle de estabilidade (que, vale lembrar, segue bastante permissivo).

Enormes borboletas atrás do volantes se destacam no interior

VIOLÊNCIA COM SENSIBILIDADE 
A potência maior, porém, não significa que este novo Lamborghini seja completamente estúpido. É preciso respeitá-lo para descobrir que, com a dose certa de sensibilidade, é possível se divertir muito com ele. Se antes o Aventador exibia um comportamento por vezes imprevisível, o S já se mostra muito mais controlável, graças a uma importante novidade: o sistema LAVD (Lamborghini Dynamics Active Vehicle), composto por direção dinâmica, rodas traseiras direcionais, suspensão ativa e tração integral.

Para se ter ideia das vantagens que esse sistema traz, basta dizer que a direção dinâmica, em conjunto com as rodas traseiras direcionais, permite que, em baixas velocidades, o carro manobre em espaços muito menores, pois as rodas de trás esterçam na direção contrária das dianteiras. Em altas velocidades, ocorre o contrário, proporcionando mais estabilidade ao cupê. Junte a isso os benefícios da suspensão com amortecedores adaptativos e da tração integral e você tem um carro com dirigibilidade fenomenal! 

A lateral dos bancos ajuda a segurar o corpo nas curvas

Surge um trecho livre na estrada – para a nossa alegria, na serra – e posso finalmente explorar um pouco mais o potencial do Aventador S. As trocas de marcha continuam muito rápidas e a resposta do motor ao acelerador são quase instantâneas. Quase se pode ouvir o fluxo da adrenalina acelerando os batimentos cardíacos, mas o ronco do V12 soa mais alto. 

Terminado o trecho sinuoso, uma longa reta é tudo o que eu precisava para pisar mais fundo. O ponteiro do conta-giros digital avança até 8.500 rpm enquanto a sinfonia metálica envolve a cabine. Há um clima de selvageria no ar.

Aceleração de 0 a 100 km/h leva 2s9

O mais encantador disso tudo é que esse frenesi da velocidade pode ser expresso em números. Confira: em 2s9 o Lamborghini Aventador S está a 100 km/h, em 8s8, atingiu 200 km/h e em apenas 24s2 ele está a alucinantes 300 km/h! Mas, como já comentei antes, o motor V12 não é o item mais importante desse Aventador. 

Em Valência, na Espanha, podemos avaliar como o novo Lamborghini se comporta em seu habitat: o circuito Ricardo Tormo. Com pouco mais de 4 km de extensão e 14 curvas, é o local perfeito para extrair o que ele tem de melhor. 

E, como era de se esperar, o S não decepciona. Que me perdoem os amantes de arrancadas, mas fazer um carro acelerar em linha reta é fácil. Difícil mesmo é construir um automóvel capaz de ser rápido nas retas e também em curvas de todos os tipos. E foi exatamente isso que a Casa de Sant’Agata Bolognese conseguiu! E mais ainda: graças ao sistema Ego, o felizardo proprietário de um Aventador S ainda consegue deixar o carro do jeito que desejar. Para que mais? 

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