Chego em Abu Dhabi às 6h35 em uma manhã ainda coberta por um leve nevoeiro, mas já com sol e calor, muito mais agradável do que o clima de inverno chuvoso que deixei para trás. No aeroporto, chama a atenção o desenho da torre de controle, em formato de uma espada árabe. O Airbus que me trouxe segue taxiando pela pista até o terminal 3, onde existem nada menos que 80 portões! A capital do emirado se destaca pela megalomania: um luxuoso Classe S me leva da pista até a sala de desembarque.

Meu destino é o Hotel Viceroy, sim, aquele famoso nas transmissões da F1, localizado em Yas Marina, e que tem uma passarela sobre a pista. Está achando que eu ganhei na loteria ou herdei alguma fortuna? Nada disso, estou desfrutando de toda essa mordomia para saber como se sentem os primeiros compradores do Vulcan, um Aston Martin exclusivíssimo, que terá apenas 24 unidades produzidas.
 
A máquina custa cerca de 2,3 milhões de euros e, como se pode deduzir, será adquirida por um público mais do que seleto. Para agradar seus consumidores, a Aston Martin preparou um programa especial de entrega dos veí­culos, o qual inclui a experiência de correr em três autódromos famosos ao redor do mundo, o cliente só precisa viajar. Para se ter ideia, além dos mimos já citados, ainda tem a suíte no hotel, com mais de 100 m² e uma sala de banho (nome mais que apropriado) maior que a sala de estar da minha casa. Ah, sim: a minha varanda fica de frente para a curva 18 do circuito. 

Tratamento vip à parte, é hora de conhecer o Vulcan de perto. Por dentro, o acabamento é típico dos carros de competição, ou seja, nada de luxo, a prioridade é a redução de peso. Os bancos tipo concha são anatômicos e uma gaiola de 36 kg feita de aço de alta resistência garante a integridade dos ocupantes. 

Inicialmente, porém, não vou conduzir. Acomodo-me no banco do lado direito, já que o volante será comandado por Darren Turner, piloto da equipe Aston Martin no Mundial de Endurance e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do carro. Devidamente paramentado (capacete, macacão, luvas, sapatilhas e Hans), sou afivelado ao banco com a ajuda da equipe. “Você pode me ouvir?”, pergunta Turner.

O preço do Vulcan é de 2,3 milhões de euros

“Agora, vou mostrar um pouco do que o Vulcan é capaz de fazer”, avisa. “O botão no canto superior do volante, à direita, aciona o limitador de velocidade para ser usado no pit-lane”, alerta. Ele pressiona o botão no console central e o V12 desperta mais rápido do que eu consigo pronunciar “pressão”. Depois disso, o visor digital mostra “280 km/h” quatro vezes seguidas e, então, seguimos para a pista!

A aceleração é brutal, assim como a frenagem do Vulcan. Turner, aliás, freia forte antes da Curva 8, e, como o capacete não está preso pelo cinto, minha visão abruptamente desce para o piso do carro. Logo depois, vem uma curva de 90° à esquerda e o piloto chega a engatar a primeira marcha para contorná-la.

Segue-se uma sequência de trechos mais longos e curvas apertadas, direita, esquerda e então outra de 90° à esquerda. Tento desfrutar da experiência como se estivesse em um tipo de montanha-russa, mas a sensação é muito mais intensa. Só mais tarde é que percebo as marcas vermelhas que o cinto de seis pontos muito apertado deixou no meu peito.

O carro oferece três modos de condução. O mais forte gera 831 cv

Isso não importa, o que eu quero é voltar à pista e agora tenho um Vantage GT12 com pneus slicks à disposição. E, desta vez, quem vai ao meu lado (como carona) é o instrutor Joe Osborne, que percebe a minha ansiedade e trata de me acalmar. “Você está aqui como o comprador de um Vulcan, então pagou por este serviço”, observa. “Concentre-se, pois são 21 curvas, e isso não é fácil de memorizar”. A estratégia é eficiente, e cumpro a parte de aprendizado com o Vantage, o que serve para aliviar a tensão.

Então, chega a hora. Acomodo-me atrás do volante de competição do Vulcan – que deve custar cerca de 6.000 libras – e ajusto tudo o que posso para garantir a melhor dirigibilidade. Não há nada de luxo ou requinte a bordo, apenas o essencial. Quase tudo o que vejo é feito de plástico reforçado com fibra de carbono. Botões e interruptores têm grandes dimensões, para permitir que sejam manuseados mesmo com luvas.

A produção será limitada em 24 unidades

Tenho direito a duas sessões de voltas, mas a primeira eu faço usando pneus convencionais, de rua. Tem mais: o Vulcan possui três modos de condução: com 507 cv, 684 cv e a máxima, de 831 cv! Na primeira, o carro não provoca muito receio. O Vulcan se comporta como outros esportivos que já tive oportunidade de conduzir. Vou me familiarizando com a fera e Osborne sente que estou pronto para a próxima fase.

Volto aos boxes e a equipe instala pneus lisos de competição no carro. Então, o instrutor me autoriza para que, por meio de um comando eletrônico, eu passe para o próximo modo e, em seguida, para o último. O vulcão entra em erupção! Pelos escapamentos laterais, saltam labaredas toda vez que alivio a pressão no pedal do acelerador. Tudo isso resulta em um tempo de volta quatro segundos menor!

Ao fim da minha experiência, posso garantir que se o Aston Martin Vulcan custa 2,3 milhões de euros, pilotá-lo em um circuito de F1 simplesmente não tem preço!

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