Mesmo com a sua produção tendo sido encerrada há algum tempo, o Mercedes SLS ainda é, para muita gente, um dos carros mais cultuados atualmente. Pudera, com suas portas estilo asa-de-gaivota e desempenho apaixonante, o modelo faz por merecer essa fama. Imagine, então, o desafio que representou para os técnicos da Mercedes-Benz projetar o seu sucessor. Pois eles não apenas cumpriram a missão, como ainda pode-se dizer que foram muito bem sucedidos na tarefa.

O Mercedes-AMG GT é uma máquina que encanta ao primeiro olhar. Seja pela grade dianteira – com a tradicional estrela incrustada – seja pelo longo capô ou pelas laterais com linhas sinuosas, mas, ao mesmo tempo, vigorosas, o novo cupê não passa despercebido por onde roda. E isso mesmo na Califórnia, onde se pode cruzar com Porsche, Corvette e outros esportivos com mais facilidade que em qualquer outro lugar do mundo.

E se você acha que a traseira do AMG GT lembra a do 911, esqueça. Ao vivo, qualquer semelhança deixa de fazer sentido. O Mercedes tem estilo próprio. Visto de frente, além da grade, as duas tomadas de ar sob os faróis chamam a atenção, assim como as saídas no capô. Nos para-lamas, outras duas saídas complementam o visual ousado do modelo e trazem a identificação do motor: V8 Biturbo. Uau!

Na hora de entrar, percebe-se que a Mercedes priorizou a função em detrimento da forma, desta vez. Nada de portas que abrem para cima, as do GT são convencionais, mas é só isso. Ao se acomodar, o melhor é fazer como os pilotos de competição e sentar primeiro e trazer as pernas depois. A seguir, percebe-se que a cabine não é nada espaçosa. O gigantesco console central está na altura dos cotovelos e nunca a expressão “Vestir o carro” pareceu tão adequada. Você se sente literalmente envolvido pela cabine.

Outra observação: ao contrário do 911, por exemplo, o AMG GT é um carro para apenas dois ocupantes. Não há sequer um espaço para pequenas bolsas atrás dos bancos e o porta-malas também não é nada empolgante, embora a fabricante anuncie capacidade para 350 litros ali. Na prática, acomodar uma mala grande já parece ser uma tarefa impossível.

Mas basta acionar o botão de partida para se esquecer de qualquer detalhe que pareça negativo. O ronco do V8 biturbo é encantador e não há quem deixe de se fascinar com ele. A alavanca do câmbio robotizado de dupla embreagem e 7 marchas não está na posição mais ergonômica, mas isso não importa muito, pois você só precisa utilizá-la na hora de partir ou de estacionar. No resto do tempo, ou você usa o modo automático ou comanda as trocas por meio das borboletas.

A versão disponibilizada para a avaliação foi a completa, a GT S (que foi exibida no Salão do Automóvel) e traz rodas de 19” na dianteira e 20” atrás. Apesar disso, o Mercedes não se mostrou desconfortável ao trafegar sobre o piso californiano. Mérito da suspensão ajustável AMG Ride Control. Por falar nisso, o modelo também conta (opcionalmente) com o AMG Dynamic Plus, sistema que permite ajustar o comportamento do carro entre os modos Comfort, Sport, Sport Plus e Race e atua nas respostas de acelerador, suspensão, freios, controle de estabilidade, assistência da direção e até do aerofólio. No primeiro, por exemplo, o carro tem comportamento mais suave e conta até com start stop a fim de proporcionar economia de combustível. Já no modo Race, um simples toque no acelerador já provoca urros pela dupla saída do escapamento e a suspensão se torna bem mais dura.

O melhor, porém, é que o novo Mercedes-AMG GT S é um automóvel que encanta pelo desempenho, mas também se mostra perfeitamente utilizável no dia a dia do trânsito. Exceto pela dificuldade ao entrar no carro, o cupê não exige qualquer adaptação para ser conduzido. Na hora das manobras, além dos assistentes sonoros, o carro traz uma câmera de ré com altíssima definição.

Ao abrir o capô, surge o belíssimo V8 de 4,0 litros biturbo. Criado especificamente para o GT, esse motor inova ao trazer os turbos na parte interna das bancadas de cilindro, em vez da externa. De acordo com a fabricante, essa mudança proporcionou não apenas uma maior compacidade do motor, mas também a melhor atuação dos turbos e menor nível de emissões, graças a um melhor fluxo dos gases e da proximidade dos catalisadores dos coletores. O resultado pode ser visto já na ficha técnica do carro: 510 cv e 66,3 mkgf que, de acordo com a Mercedes, permite ao modelo acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3s8 e atingir 310 km/h de máxima.

O já citado sistema de escapamento também merece destaque. Graças a um sistema de flaps totalmente ajustáveis, o condutor pode optar por um som mais tranquilo, indicado para longas viagens, ou mais intenso, com direito a “estouros” nas reduções de marcha. O melhor é que esse sistema pode ser controlado de maneira independente, por meio de um botão no console. Assim, mesmo que o carro esteja rodando no modo Comfort, pode-se ajustar o escapamento para produzir um som mais esportivo.

Em um trecho bastante sinuoso durante a avaliação, foi possível perceber a eficiência do sistema de tração integral do GT S (no Brasil, deverá ser oferecida também a versão com tração apenas nas rodas traseiras). Eficiente, ela atua de maneira discreta, mas garante o equilíbrio nas curvas e, principalmente, segurança ao se trafegar sobre pisos com menor aderência.

De acordo com a AMG, responsável pelos modelos de desempenho da Mercedes-Benz, o novo cupê possui uma excelente relação peso-potência de 3,08 kg/cv, garantido pela estrutura quase toda feita de alumínio (93%) e do conjunto dianteiro de magnésio. Assim, o modelo exibe uma distribuição de peso quase perfeita, com 47% na dianteira e 53% na traseira. O resultado disso é um veículo muito equilibrado e que responde com muita agilidade aos comandos do motorista.

De acordo com a Mercedes, o AMG GT deverá chegar ao mercado brasileiro no primeiro trimestre do ano que vem, nas versões GT e GT S, mas o preço ainda não foi definido. Se você é fã da marca e estava em dúvida se os alemães conseguiriam criar um sucessor a altura do SLS, pode celebrar.

Share This