O Audi A3 Sedan 1.4 entregava um desempenho superior ao que seus 122 cv indicavam. Graças a itens como o câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas e suspensão independente nas quatro rodas, o modelo tinha desempenho melhor do que carros de preço parecido e mais potentes, como o Toyota Corolla Altis.
Agora o sedã passou a ser feito em São José dos Pinhais (PR), e seu motor 1.4, também nacionalizado, gera 150 cv e pode queimar etanol. O resultado seria tentador, mas houve retrocessos por parte da carroceria — que não teve mudanças visuais. Para simplificar, o A3 Sedan 1.4 adotou um câmbio automático convencional de seis marchas e suspensão traseira por eixo de torção — solução exclusiva do Brasil, diga-se.
Isso acabou permitindo uma ultrapassagem “técnica” do Corolla: além ser mais potente, o Toyota adota um câmbio CVT, de funcionamento mais suave que o automático do Audi.
O contra-ataque da Audi vem no preço do A3 Sedan nacional: a versão de entrada Attraction parte de R$ 99.990. O valor é R$ 2.000 mais barato que o Corolla topo de linha (que custa R$ 101.990). O novo A3 Sedan chegará às lojas a partir do final deste mês.
TRAIÇÃO NIPÔNICA
Apesar da origem alemã, o A3 Sedan pegou do Japão algumas de suas novidades. É lá que fica a fabricante Aisin, responsável pelo câmbio Tiptronic. Se o nome soa familiar, é porque a caixa é a mesma adotada no Jetta 2.0 aspirado e que também equipará o Golf nacional.
Antes de detalhar como o novo Audi anda, adiantamos que esse câmbio entrega um desempenho suave e não deve quase nada ao CVT do Corolla. O problema é que seu conversor elimina um interessante recurso do A3 importado, em que o câmbio era desconectado do motor em pisos planos ou pouco inclinados, deixando-o na “banguela” e aproveitando melhor a energia cinética do carro. O objetivo, claro, é a redução do consumo de combustível. O lado positivo é que o desempenho energético dele não decepcionou, com um consumo médio de etanol de 9,8 km/l.
O lado ruim é que, apesar do câmbio e da suspensão não tão modernos e do motor feito em São Carlos (SP), o custo menor do A3 Sedan não impactou significativamente no preço do sedã (uma vez que a diferença entre o nacional e o húngaro é de apenas R$ 1.200). Pelo menos a caixa Tiptronic não é ruidosa em pisos irregulares, ponto fraco do câmbio S-Tronic usado antes.
Talvez para compensar, a Audi oferecerá opcionais até então inéditos no sedã, como sistema de estacionamento automático, alerta de mudança de faixa e controlador de velocidade adaptativo com frenagem autônoma de emergência.
A relação de itens de série da versão inicial Attraction, porém, é idêntica à do importado e adiciona somente o sensor de ré entre os principais equipamentos. O pacote Ambiente do modelo avaliado também será oferecido e acrescenta sensor de luz e de chuva, volante com comandos de som, borboletas para trocas de marcha manuais e rodas de 17”.
No início de 2016 chega a versão 2.0 Ambition, também nacional. Ela substituirá a 1.8, será somente a gasolina e terá 220 cv, com câmbio robotizado de dupla embreagem de seis marchas e suspensão traseira independente. A marca promete um desempenho atraente desse sedã, mas até lá o foco é a versão 1.4, cujo desempenho agradou em nossos testes.
MAIS DE MEIO SEGUNDO
Os 28 cv extras compensaram os 65 kg adicionais e permitiram ao A3 nacional acelerar 0s7 mais rápido que a versão importada. Se antes ele já superava o Corolla na pista, agora seu desempenho ficou ainda melhor.
Parte da letargia do Toyota se dá por sua carroceria, maior e mais pesada. Como é de se esperar, a contrapartida dele é oferecer mais espaço interno, especialmente para o quinto passageiro, que não terá um alto túnel interno incomodando suas pernas, como ocorre no A3.
A parte inusitada do Corolla é que, com seu ar conservador, ele acaba surpreendendo em uma tocada mais ágil, especialmente se o câmbio estiver no modo Sport. A resposta rápida de seu motor aspirado e a suspensão bem calibrada nada fica a dever diante do A3, cuja dinâmica é quase idêntica ao seu equivalente importado.
Confortáveis no dia a dia e espertos quando necessário, a dupla patina nos detalhes. O Toyota vai além da já tradicional (e inexplicável) ausência de sensor de estacionamento e controle de estabilidade. Falta ao japonês capricho no sistema multimídia, confuso e de funcionamento lento. As travas das portas fazem um ruído elevado ao serem acionadas e os botões do ar-condicionado digital (de uma zona) não transmitem sensação de qualidade durante o manuseio.
O acabamento do A3 é superior, com mais materiais emborrachados e uma bonita tela central retrátil. Inaceitável é o ar-condicionado analógico (o digital não é oferecido nem como opcional na versão 1.4) e retrovisor interno prismático, com a clássica alavanca dia/noite.
Equipado com todos os opcionais na versão Ambiente, o A3 Sedan 1.4 deve ficar próximo dos R$ 140.000. O valor faz pouco sentido para um sedã médio, assim como o valor cobrado pelo Corolla Altis — sobretudo diante de rivais mais equipados, como o Focus Fastback Titanium.
CONSUMO (etanol) | Audi A3 Sedan 1.4 Flex | Toyota Corolla 2.0 Altis |
Cidade (km/l) | 7,6 | 6,4 |
Estrada (km/l) | 12,6 | 9,6 |
Peco (cidade/estrada) (km/l) | 9,8 | 7,8 |
Autonomia | 490 km | 468 km |
Neste cenário de “popular” completo e “luxuoso” pelado, o A3 Sedan se sai melhor. Mesmo com um projeto simplificado, ele ainda entrega dinâmica e qualidade aparente superiores, e o status que os quatro anéis dão ao seu proprietário é inegavelmente superior ao do Toyota.
O único ponto fraco do Audi é a referência: quem tem ou já dirigiu um A3 Sedan importado certamente achará o câmbio hesitante e/ou sentirá falta dos clássicos estampidos no escapamento a cada troca de marcha. De fato, a versão nacional não é mais a mesma, mas ela continua superior ao Toyota Corolla Altis.
CONCLUSÃO
Dificilmente alguém deixará de comprar o mais novo Audi nacional por causa de um câmbio automático e suspensão mais simples. No dia a dia as diferenças são quase imperceptíveis ao consumidor leigo, e o resultado continua sendo um sedã agradável de dirigir e com qualidade proporcional ao seu preço. Já o Corolla cobra mais do que vale e perde pontos em detalhes simples, como o ESC, presente até no pequeno Ford Ka. Nas faixas de preço inferiores, o Toyota é uma compra mais interessante e oferece espaço e conforto adequado a quatro adultos. Para quem mira no topo da tabela,
porém, o novo A3 Sedan 1.4 Flex segue sendo a melhor compra para quem gosta de dirigir e tem R$ 100.000 disponíveis.