A3 Sedan agrada e pode ser “carro ideal” a R$ 130 mil

A Audi lançou este mês o A3 Sedan nacional, produzido na fábrica que a marca divide com a matriz Volkswagen no Paraná. É o primeiro carro da segunda fase verde-amarela da companhia alemã (a primeira foi no final dos anos 1990, também no Paraná e com o A3, mas o hatch).

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O modelo chega com o motor TFSI de 1,4 litro devidamente transformado em bicombustível. O propulsor teve sua potência elevada de 122 para 150 cavalos (com gasolina ou etanol). Até agora, a Audi vendia no Brasil o A3 Sedan 1.4 TFSI (turbo com injeção estratificada de combustível) importado da Hungria, movido apenas a gasolina.

A variação com motor 1.8 (180 cv) será aposentada para dar lugar — em breve — à versão topo de gama Ambition 2.0 TFSI de 225 cv, mesmo motor que embalará o Golf GTI nacional.

Segundo a fabricante, além da adaptação para o sistema flex, o A3 Sedan 1.4 nacional sofreu duas modificações importantes em relação ao húngaro: o câmbio automático de embreagem dupla (DSG) e sete velocidades foi trocado por um Tiptronic com conversor de torque, de seis; e as suspensões traseiras multibraços (independentes) foram substituídas por eixo de torção.

MÃO ABERTA
A Audi diz que tais medidas não visaram a cortar custos. O câmbio DSG, por exemplo, é fabricado pelo próprio Grupo Volkswagen na Europa, e mantê-lo sairia mais barato que comprar a nova transmissão da japonesa Aisin. A decisão, segundo o discurso oficial, foi técnica: o novo câmbio opera de modo mais suave nas saídas, melhorando a dirigibilidade urbana.

Já o conjunto traseiro de suspensões com eixo de torção seria mais adequado às malcuidadas vias brasileiras (mais robusto que o multilink ele certamente é). A engenharia da Audi posicionou as molas helicoidais afastadas dos amortecedores, criando quatro pontos distintos de apoio da carroceria no subchassi (que, no caso, é a própria estrutura da suspensão).

A calibragem das peças buscou oferecer um curso inicial suficientemente longo para absorver as irregularidades das vias, mas sem ceder demais — ao contrário do importado, o A3 Sedan nacional não rasparia ao passar em lombadas com quatro pessoas a bordo. Pelo menos foi esse o exemplo dado na apresentação à imprensa.

RAZÕES PARA QUERER
Mas a Audi não precisa ficar tão na defensiva. O A3 Sedan nacional tem dois fortes apelos de venda.

O primeiro é o valor da versão de entrada, de R$ 100 mil, abaixo de sedãs de marcas generalistas sem o mesmo pedigree da alemã. O segundo é a possibilidade de o cliente ter um carro extremamente seguro e com grau médio de autonomia por menos de R$ 130 mil (versão Ambiente com pacote Assistance Plus).

Veja a gama: 

A3 Sedan 1.4 TFSI Attraction – R$ 99.990
Acabamento interno em prata micrometálico; airbags frontais e laterais, laterais dianteiros de cabeça e airbag de joelho para motorista; volante e alavanca de câmbio em couro; apoio de braço dianteiro; ar-condicionado; direção com assistência elétrica; bancos dianteiros (em tecido) com ajuste de altura; faróis bi-xenônio com ajuste automático de altura; computador de bordo; freio de estacionamento eletromecânico; lanternas traseiras em LED; sensor de estacionamento traseiro; sistema start-stop; espelhos retrovisores externos elétricos; rádio MMI com tela de 5″ e Bluetooth; rodas de alumínio 16″ (pneus 205/55); controle de estabilidade (ESP).

A3 Sedan 1.4 TFSI Ambiente – R$ 109.990
Acrescenta ao pacote anterior: sensor crepuscular e de chuva; volante multifuncional com shift-paddles (alavancas para trocas de marcha); rodas de alumínio 17″ (pneus 225/45); parabrisa com faixa colorida cinza.

Apenas essa segunda versão pode ser incrementada com os pacotes de opcionais. Um deles é o rádio MMI Plus com sistema de navegação e tela de 7″ (R$ 13 mil, que julgamos dispensável). Os demais:

Pacote Design – R$ 13 mil
Bancos de couro sintético, diversos porta-objetos e teto solar panorâmico Open Sky.
Pacote Assistance – R$ 10 mil
Controle de velocidade de cruzeiro e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro com câmera de ré.
Pacote Assistance Plus – R$ 18.500
Active Lane Assist (assistente de faixa de rolamento), farol alto automático, sistema Auto Park de estacionamento automático com câmera de ré, controle de velocidade de cruzeiro adaptativo (ACC) com Pre Sense Front (preparação para impacto), computador de bordo com tela colorida e sistema Keyless Go, que permite destravar o carro e ligar o motor sem o uso da chave.

COMO É
O A3 Sedan nacional mantém o visual do europeu, que foi lançado no primeiro semestre de 2014. Como todos os carros da Audi são parecidos, é mais fácil dizer simplesmente que o eventual comprador levará para a garagem um sedã Audi tamanho P (o A4 é M, o A6 é G, o A8 é GG).

Com a sempre conspícua grade frontal da Audi, um terceiro volume elevado e mais curto (mas nem por isso à moda fastback) e cortes retilíneos e agudos nos conjuntos de luzes, o A3 Sedan é ao mesmo tempo invocadinho e simpático. Por se tratar de um sedã, é um feito e tanto.

A cabine da versão Ambiente, dotada de todos os pacotes de opcionais, traz à tona um problema típico de grupos automotivos com várias marcas: à medida que os Volkswagen mais caros (Passat, CC) se sofisticaram, também nasceram alguns Audi (A1, A3 Sedan) com a missão de ser mais baratos. O resultado é que, por dentro, todos se assemelham. Quem sofre mais com isso, claro, é a marca premium.

Isso não quer dizer que falte conforto para quem vai a bordo. Quatro pessoas viajam com muita comodidade, e apesar de o entre-eixos ser de 2,63 metros (em 4,45 metros de comprimento), nada digno de nota, os passageiros traseiros têm bom espaço para as pernas. O ambiente do habitáculo é sóbrio e discreto, e não cansa os ocupantes.

DIRIGINDO
A promessa da Audi de o A3 Sedan “não raspar embaixo” não pode ser verificada, mas durante o test-drive CARRO ONLINE ocupou o banco de trás e, mesmo ao passar em lombadas acima da velocidade ideal, as suspensões seguraram o tranco — tanto em relação ao assoalho do carro quando ao corpo do jornalista.

Ao volante, o modelo entrega a habitual excelência dos Audi quando se trata do acerto geral do carro e o que ele impõe/oferece ao motorista. Direção precisa, trocas automáticas sem trancos nem vacilos, sensação geral de controle do carro e de segurança mesmo com o pé embaixo ou contornando curvas de modo mais esportivo.

Ou seja: apenas os clientes mais puristas podem perceber (ou vão dizer que perceberam) alguma perda de qualidade do A3 Sedan devido às novas transmissão e suspensões.

A estrela deste sedã, na verdade, é a possibilidade de entregar a direção à máquina — de modo parcial, mas que já quebra um galho no trânsito urbano. Com o ACC, um congestionamento em que os carros se arrastam sem trocar de faixa será muito menos estressante: basta ativá-lo para que o A3 siga o veículo à frente. Ele vai andar e frear automaticamente, e mantendo distância segura. Relaxe as pernas, portanto, e não se preocupe com o risco de entrar na traseira do carro da frente.

O efeito mesmo pode ser obtido em velocidades mais altas, mas o A3 não vai seguir o veículo adiante caso esse mude de faixa. Por outro lado, ele manterá a velocidade máxima setada pelo motorista: se esta for 100 km/h e o carro da frente estiver a 120 km/h, o A3 trafegará a 100. Se o acelerador for acionado, basta soltá-lo que o ACC retoma o comando. Se houver frenagem, dá-se um toque na alavanca e o A3 volta a acelerar até a máxima desejada.

QUANTO VALE 
Como dito acima, o pacote Assistance Plus, que oferece toda essa semiautonomia, não está disponível para a versão Attraction. Se estivesse, por R$ 118.490 o A3 Sedan seria um carro espetacularmente bom e colocaria todos os sedãs médios e até grandes no bolso; mas na vida real essa conta sobe para R$ 128.490 (Ambiente + Assistance Plus).

Para quem não topar pagar tudo isso, mas mesmo assim quiser um A3 Sedan fica a dica: lembre-se que os R$ 100 mil cobrados pela versão de entrada, que é relativamente “pelada”, tem mais a ver com o fato de se tratar de um Audi que pelo recheio. Belíssimo carro, sem dúvida, mas sem nada de tão especial assim.

FICHA TÉCNICA – AUDI A3 SEDAN NACIONAL