Na natureza, um comportamento é essencial para a sobrevivência: a capacidade de se adaptar ao meio em que se vive e evoluir, de modo a garantir a existência da espécie pelo maior tempo possível. Essa condição, por incrível que pareça, não se aplica apenas a diversas situações da vida selvagem, elas podem ser aplicadas também para as marcas de automóveis, cuja disputa no mercado é severa e implacável.
Aos poucos, essa concorrência começa a reforçar no mercado brasileiro a disponibilidade de motores com cilindradas muito próximas, você já reparou?
Há tempos a Honda se mostra bem adaptada ao mercado com as versões 1.4 16V e 1.5 16V do Fit, e outras fabricantes começam a mostrar mais interesse por essa estratégia. A Citroën, por exemplo, oferece motores 1.5 e 1.6 16V para o renovado C3 e também para o C3 Picasso. Essas mesmas motorizações, vale lembrar, são oferecidas pela Peugeot no seu novo compacto 208. A Ford, por sua vez, acaba de estrear o motor 1.5 16V Sigma no New Fiesta nacional. Até a Toyota decidiu dar ao seu popular Etios as opções de motorização 1.3 16V e 1.5 16V — em vez das versões 1.0 e 1.6 tradicionalmente oferecidas pelos rivais.
Para Paulo Garbossa, consultor da ADK Automotive, essa movimentação do mercado é uma forma de downsizing, que precede tecnologias que estão por vir. “Em vez de desenvolverem motores maiores, as fabricantes estão aprimorando os menores, que se adaptam ao nosso uso. Com os novos 1.5 e 1.6, temos baixo consumo de combustível e emissão de poluentes, além de um bom desempenho”, explica Garbossa. Foi essa a movimentação que a Ford realizou com a família de motores Sigma.
A primeira versão do 1.6 16V da marca norte-americana produzia 115 cv e 16,3 mkgf de torque (com etanol), rendimento que passou para 130 cv e 16 mkgf graças ao uso do duplo comando de válvulas variável, entre outros recursos.
O recém-lançado 1.5 16V, também da mesma família Sigma, entrega até 111 cv e 15 mkgf de torque. Segundo André Leite, gerente de produto da linha Fiesta, a nova motorização de entrada é um atrativo para clientes que não cogitavam o New Fiesta como opção. “Com essa alternativa, miramos em consumidores que almejavam um veículo popular 1.6 completo”, explica Leite. “Além do bom desempenho e do baixo consumo de combustível, com o 1.5 temos preço mais acessível e uma lista de itens de série ampla”, completa o gerente de produto.
E a maior proximidade entre a cilindrada dos motores também é benéfica para a própria marca. Segundo Guilherme Campos, gerente de projetos da Ford, os motores 1.5 16V e 1.6V compartilham cerca de 70% dos componentes. “Sistema de arrefecimento e bloco, por exemplo, são os mesmos nos dois casos. Isso barateia a produção e também os custos de manutenção”, explica.
A mesma tática é usada no Toyota Etios, cujos motores 1.3 e 1.5 utilizam os mesmos bloco e cabeçote. “Com o 1.3 16V, nós oferecemos consumo de combustível próximo ao de um motor 1.0, mas com desempenho superior. Já o 1.5 mantém o baixo consumo de combustível, mas rende como um 1.6”, diz Daniel Suzuki, gerente de engenharia da Toyota no Brasil.
Abastecido com etanol, o Etios 1.3 16V realizou 8,5 km/litro em ciclo urbano, 14 km/litro em rodovias e acelerou de 0 a 100 km/h em 12s3, segundo os testes da Revista Carro/Carro Online. Para efeito de comparação, o Nissan March 1.0 16V, também abastecido com etanol, registrou 7,2 km/litro, 11,2 km/litro e 13s6 nas mesmas provas, respectivamente. Já na versão 1.5 16V, o Etios foi mais econômico se comparado ao March 1.6 16V, mas não teve desempenho tão bom: rodou 7,8 km com um litro de etanol na cidade e 13,2 km em rodovias e acelerou de 0 a 100 km/h em 11s5, enquanto as marcas do rival foram 7,6 km/litro, 11,4 km/litro e 10s1.
Além de oferecerem bom desempenho e consumo de combustível mais comedido, os veículos com os novos motores relacionados nesta reportagem custam de R$ 3.000 a R$ 5.000 a menos que nas versões similares, mas equipadas com motor de maior cilindrada.
Posicionados como configurações de entrada, esses modelos são opções interessantes para quem deseja um automóvel numa categoria superior à dos populares, já que têm motores mais eficientes. De quebra, ainda são mais bem equipados do que seus “irmãos menores” e oferecem um bom custo-benefício. São exemplos de que o mercado ainda oferece alternativas para crescer.