Após anos e anos deixando a decisão e a compra de um automóvel nas mãos do pai, irmão, marido ou amigo, chega um dia, finalmente, em que uma mulher vai sozinha a uma concessionária escolher o seu carro.
Quando esse dia chegou para mim, eu já sabia exatamente o carro que queria: um Fiat 500. Estava apaixonada pelo design e tinha uma forte relação afetiva com o modelo original. Afinal, a bordo de um Cinquecento, fiz muitas viagens pelo interior da Itália no começo dos anos 1990. Os outros detalhes, além do preço, claro, importavam pouco ou quase nada. Quer dizer, era o que eu imaginava! Apenas com essa certeza em mente, entrei em uma concessionária mais perto de casa. E, assim, minha primeira compra de um carro começou toda errada.
O vendedor deu o primeiro fora. Ao notar que eu estava olhando um dos Cinques expostos, aproximou-se, me cumprimentou e perguntou: “Seu marido está chegando?”. Sorri e expliquei que não existia acompanhante. E aí começamos uma saga que durou quase três horas.
Depois de entrar no carro e dar uma volta no quarteirão em um test drive, fomos para a mesa de negociações. Ali, frente às várias possibilidades de configuração e motor e os incontáveis acessórios, percebi que eu tinha uma série de decisões a tomar e não fazia a menor ideia para onde correr. Pior: mesmo a versão mais peladinha do pequeno Fiat 500 custava R$ 5.000 a mais do que eu pretendia gastar.
Ao perceber que eu tinha menos dinheiro, zero de informação, estava insegura e perdida, o vendedor quis bancar o sabichão ao me empurrar um Peugeot 207 seminovo. Falou mal do Fiat 500, argumentou que o modelo francês era melhor, comparou preços. Tudo isso intercalado pela frase, repetida feito um mantra, “um segundo, vou falar com o meu gerente”, seguida de uma ausência e um retorno à sua cadeira sempre com um preço ainda melhor do 207. Acabei não resistindo e fechei o negócio. E confesso que fiquei com a sensação de que tinha abafado, mesmo sabendo que o carro da Peugeot era do ano anterior.
NEGÓCIO DESFEITO
O sistema fora do ar da loja me salvou e a efetivação da compra ficou para a manhã seguinte. Não deu outra: acordei com uma espécie de ressaca, com o gosto amargo na boca de não ter comprado o automóvel dos meus sonhos. Não tive dúvida: liguei para a concessionária, desfiz o negócio e voltei à estaca zero. Mas com a certeza de que havia um grande caminho a ser feito.
Comecei navegando pelo site da Fiat, lendo todas as possibilidades de configurações e detalhes de motor para saber exatamente o que eu precisava. O segundo passo foi procurar em revistas e sites especializados tudo sobre o modelo desejado, relação de preços, desempenho, comparativos, testes e, principalmente, a opinião de proprietários do 500.
Ao final de um dia buscando todas as informações possíveis, eu realmente sabia exatamente o que queria. Estava muito mais preparada. E aí começou a pesquisa de preço. Essa é outra epopeia que, ao menos, pode ser feita pelo telefone no conforto de casa. Aliás, bem mais fácil negociar dessa forma. A gente se sente mais segura.
Descobri algo bastante interessante. Achei o carro na cor desejada, cinza com o interior creme. Depois de falar com três revendedoras, fiquei sabendo que existia apenas um na cidade e que estávamos negociando o mesmo exemplar. Nesse momento, você se sente em um mercado árabe ou em uma sala de leilão. Quem faz um bom preço pelo 0 km, quem compra melhor o seu usado, quem oferece algumas vantagens, como IPVA, licenciamento e tanque cheio.
Nesse momento é preciso ter sangue frio. Se você está ansiosa, saiba que o vendedor também se encontra na mesmíssima situação. É hora de parar, respirar, fazer as contas e, finalmente, bater o martelo. Foram mais de quinze telefonemas ao longo de dois dias. Fechei o negócio com o carro que tanto sonhei e paguei apenas R$ 1.300 a mais do que o planejado — e não os R$ 5.000 pedidos na primeira loja.
E o melhor de tudo: acabou custando quase o mesmo preço do automóvel seminovo que tentaram me empurrar. A experiência é um pouco desgastante, especialmente para quem começa mal como eu comecei. O final, porém, é absolutamente prazeroso e libertador. Que tal tentar?
6 DICAS ANTES DA COMPRA
Quanto mais segura e bem informada sobre as suas necessidades, menor a chance de cair na lábia do vendedor e gastar mais.
- Saiba quanto quer gastar:
É fundamental ter um teto dos seus gastos. Assim, você não vai cair no conto do vendedor, que sempre oferecerá mais acessórios e serviços. Saiba quanto pagará com a manutenção do modelo escolhido. Leve em conta IPVA, licenciamento, seguro e manutenção.
- Beleza é fundamental:
Seu estilo deve combinar com o carro, sim! Não se acanhe em eleger um modelo pela beleza ou pela emoção que ele causa. Afinal, carro também é prazer. Não esqueça de observar o tamanho do porta-malas e a quantidade de porta-objetos.
- Qual é o motor:
Se a caranga nova é para andar só na cidade e em deslocamentos curtos, então um 1.0 está de bom tamanho. Mas se o seu barato é pegar estrada e curtir um desempenho mais interessante, pense em uma alternativa mais potente.
- Acessórios:
Se um dia você experimentou, minha querida, difícil viver sem eles. Alguns exemplos:
Ar-condicionado: os homens são mais fanáticos que as mulheres, mas é um conforto a mais e também um item de segurança.
- Direção:
Só ela garantirá a você o título de rainha das balizas! Facilitará a vida na hora de estacionar, dirigir, fazer manobras e uma vez que você já experimentou, impossível dispensá-lo.
- Trio elétrico:
Ótimo para as moças que vivem com a cabeça na lua, pois evita que você esqueça de trancar o carro e ainda propicia o conforto de não ter de girar a manivela para abrir ou fechar a janela.
Testar e se informar:
Não tenha pressa. Uma compradora bem informada dobra até o vendedor mais espertalhão. Por isso, leia tudo sobre carros em revistas, sites, fóruns. Vá às concessionárias e teste os vários modelos que estão no páreo.
Novo ou usado?
Um 0 km tem garantia, vem com o cheirinho clássico etc. Mas, às vezes, um usado é mais completo e tem motor mais potente.