Estudos mostram que 75% têm dificuldade de enxergar a cor verde (deuteranopia), 24% a cor vermelha (protanopia) e só 1% a cor azul (tritanopia). Mais rara ainda é a acromatopsia, visão em branco e preto, que atinge 1 em cada 20 mil daltônicos.

As novas políticas de inclusão social possibilitaram uma mudança no código de trânsito, permitindo, por meio da resolução 425/12, que os daltônicos tenham o direito de ir e vir garantido. Ou seja, não é mais preciso identificar as cores verde, amarela e vermelha para conduzir um veículo.

Nas avaliações para tirar ou renovar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) está sendo utilizada uma imitação de semáforo com as cores em suas respectivas posições. Os portadores de daltonismo (ou discromatopsia) passam por esse teste. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, perito em medicina do tráfego e membro da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), a estimativa é de que a resolução favoreça a inclusão de cerca de 8,5 milhões de brasileiros que são daltônicos, na proporção de 20 homens para cada mulher.

O médico afirma que a disfunção é hereditária, na maioria dos casos. É causada por uma alteração congênita nos cones (células da retina responsáveis pela visão das cores). Mas a discromatopsia pode ser adquirida na idade adulta, pelo uso de alguns medicamentos ou exposição a substâncias químicas, como solventes ou anilina.

Queiroz Neto afirma que a padronização  faz com que os semáforos se tornem um obstáculo de fácil administração para quem tem deficiência da visão de cores. A dificuldade é maior com os semáforos de led, que emitem luz mais intensa. Isso porque um desconforto visual  comum de quem tem a deficiência é o ofuscamento, principalmente à noite. A dica para driblar o problema é usar óculos  com filtro amarelo durante a noite e âmbar de dia.

O especialista observa que em  portadores de acromatopsia (visão em branco e preto) estudos mostram que o uso de lente de contato gelatinosa marrom com pupila âmbar é o mais indicado para melhorar a visão de cores. Nas demais discromatopsias, o médico afirma que as lentes com filtro na mesma tonalidade que o daltônico tem dificuldade de enxergar facilita a discriminação da cor.

Em todos os casos, ele ressalta, lentes de contato com filtro  diminuem a visão de contraste e a acuidade visual. Independentemente da cor, comenta, elas devem ser evitadas por pessoas que têm doenças na córnea e em situações de baixa luminosidade. Pode parecer contraditório, mas o especialista diz que o daltonismo facilita a discriminação de tons da mesma cor. Por isso, pode aumentar a velocidade do reflexo do motorista em algumas situações. Por outro lado, a deficiência mistura o vermelho e o verde. Isso diminui a visão de profundidade e pode provocar acidentes.

Algumas empresas aéreas estão adotando um novo teste de visão de cores, o CAD (Color Assessment & Diagnosis). Queiroz Neto atendeu recentemente um piloto em processo de seleção que passou por este teste. O especialista afirma que o CAD, além de detectar o daltonismo, indica o grau de severidade da deficiência. Significa que vai muito além do teste de Ishihara, que se limita a determinar se uma pessoa é daltônica ou não.

“Pesquisa publicada pela CAA (Civil Aviation Authority), órgão regulador da aviação no Reino Unido semelhante à ANAAC no Brasil, mostra que até 35% de deficiência na visão de cores é aceitável na aviação”, afirma. A entidade também sugere que o CAD seja adotado internacionalmente para padronizar o teste de visão de cores no setor. Para Queiroz Neto, este processo já foi iniciado e garante mais segurança aos passageiros.

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