Para os aficionados por corridas clássicas ou pela história do automobilismo, o restaurante Passo Della Futa não é desconhecido. Administrado pela família Poletti desde 1890, o estabelecimento apregoa como uma de suas atrações o fato de se situar ao lado do traçado da clássica Mille Miglia, uma das provas mais famosas de todos os tempos.
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Nesta tarde ensolarada, porém, o restaurante está em alvoroço por outro motivo. Duas máquinas exóticas encontram-se estacionadas na entrada, compondo um cenário muito especial. São duas joias da Lamborghini: um clássico Miura e um novíssimo Huracán. Duas feras com nomes de touros e que atraem os olhares de todos.
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Aos 79 anos recém-completados, o atual proprietário do Passo Della Futa, Vittorio Poletti, nos recebe com muita simpatia. Ex-atleta de ciclismo, o patriarca da família Poletti recorda que, antigamente, os pilotos de teste da Lamborghini também visitavam o seu restaurante com frequência. Hoje, porém, eles têm de preencher tantos formulários e cumprir tantos procedimentos que não dispõem mais de tempo para realizar uma parada no local. “É uma pena, as estradas aqui são maravilhosas”, lamenta Poletti.
Do lado de fora, quem brilha é o Miura. E não apenas graças à sua bela cor, mas também porque seus faróis estão desregulados e podem ofuscar quem vem no sentido contrário. Ainda bem que o nosso percurso foi feito quase totalmente durante o dia. Mas o que importa nesse carro é a sua essência, e ela é tão confiável quanto a máquina de café espresso do sr. Poletti. Trata-se de um motor V12 montado na transversal e em posição central-traseira, capaz de produzir 385 cv. Sim, este é um dos últimos Miura produzidos, um SV da safra de 1972.
À sua frente, reluz um Huracán branco, tão imponente quanto o seu antepassado histórico, equipado com um motor longitudinal de “apenas” 10 cilindros, mas que pode entregar 610 cv. De acordo com os números oficiais, o Miura SV construído há 43 anos acelerava de 0 a 100 km/h em 4s6 e atingia 300 km/h de máxima. Já o Huracán arranca em 3s2 e atinge 325 km/h. Uma evolução e tanto. O consumo de combustível, em compensação, não melhorou tanto assim nos últimos anos. Enquanto o Miura obteve média de 5,5 km/l (de acordo com os padrões da época), o mais novo Lamborghini registra consumo médio de 8 km/l. Número mais que satisfatório, já que se trata de um superesportivo.
Hoje, o Huracán é o modelo mais “acessível” da gama Lamborghini e, teoricamente, tem como missão somar mais que 14.022 unidades vendidas, que foi o total obtido pelo seu antecessor, o Gallardo. Mas é preciso lembrar que o anterior precisou de dez anos para atingir esse número. Alguém quer falar sobre negócios ou retorno do investimento? Em outro lugar talvez, mas no Passo Della Futa o público está mais interessado em observar a evolução exibida pelo Huracán em relação ao Miura.
O que mais chama a atenção, porém, é uma exclusividade do clássico: o belo V12 instalado imediatamente atrás dos bancos, separado da cabine apenas por uma fina placa de acrílico, o que permite ao motorista sentir (literalmente) e ouvir o trabalho do motor a todo momento. Os quatro carburadores triplos garantem a trilha sonora perfeita para os amantes de supermáquinas.
O propulsor 5.2 do Huracán, em compensação, parece mais comportado, mas é bom não se deixar iludir. Afinal, se em seu interior é possível até conversar sem elevar o tom de voz, do lado de fora basta pisar com mais vontade no acelerador para que as quatro saídas de escapamento emitam a “sinfonia metálica”.
A maior dificuldade a bordo do Miura é se acomodar, principalmente se você não tem o porte de um ex-ciclista, como Vittorio Poletti. Os bancos são muito pequenos e não é fácil encontrar a melhor posição de dirigir. Além disso, nunca havia visto um carro com o freio de estacionamento posicionado tão perto do motorista. O quadro de instrumentos tem boa visualização, mas está bem distante, assim como o para-brisa. Em compensação, a visibilidade para a frente é excelente, fruto do trabalho do designer Marcello Gandini.
Alguém perguntou sobre sistemas de assistência? Sim, o Miura possui diferencial de deslizamento limitado, pneus 215/70 na dianteira e 255/60 atrás, além de uma direção muito precisa. Curiosidade: dizem que um ex-piloto de testes da marca afirmou que o motor da Lamborghini era tão potente que nunca foi preciso comprovar a eficiência aerodinâmica do Miura.
Histórias à parte, o fato é que nos estreitos caminhos entre Loiano, San Giacomo e Montecarelli, no norte da Itália, o Miura vai muito bem, exibindo um comportamento muito previsível e bastante neutro. Se estivéssemos em um autódromo, poderíamos até arriscar algumas “brincadeiras”, como provocar saídas de traseira, mas na estrada é melhor seguir comportado. Até porque esse modo de condução já permite desfrutar de muito prazer ao volante.
O Huracán, por sua vez, tem a eletrônica para garantir a melhor experiência ao dirigir, já que seus programas de assistência impedem que motoristas inexperientes cometam grandes erros. Tudo bem, a segurança deve prevalecer sempre, mas no cenário da Mille Miglia, o tradicional Miura ainda consegue exibir um comportamento mais desejável que o moderno Huracán.
FICHAS TÉCNICAS | Huracán LP 610-4 | Miura SV |
Motor: | V10, central-traseiro, longitudinal, gasolina | V12, central-traseiro, transversal, gasolina |
Cilindrada: | 5.204 cm³ | 3.929 cm³ |
Potência: | 610 cv | 385 cv |
Torque: | 57,1 kgfm | 39,8 kgfm |
Câmbio: | robotizado, 7 marchas | manual, 5 marchas |
Tração: | integral | traseira |
Rodas: | liga leve, 20” | liga leve, 15” |
Suspensão dianteira: | independente | triângulos superpostos |
Suspensão traseira: | multibraço | triângulos superpostos |
Velocidade máxima: | 325 km/h | 300 km/h |
Aceleração (0-100 km/h): | 3s2 | 4s6 |