Nenhum produto sobrevive 40 anos no mercado se não for bom. Ainda mais em um segmento tão competitivo quanto o dos hatches médios na Europa. Pois o VW Golf não só está há quatro décadas disputando espaço contra diversos concorrentes, como vem, na maioria dos casos, superando todos eles. Por essa razão, ficamos bastante curiosos para saber como a sua versão elétrica poderia se sair frente ao recém-chegado rival BMW i3. Afinal, ambos têm praticamente o mesmo preço – em torno de 35.000 euros – e miram o mesmo consumidor: homem, chefe de família, 50 anos e que não se deixa levar por modismos na hora de adquirir seu automóvel. É bom destacar que o i3 será vendido no Brasil.
Mas, se em termos de preço e de público BMW e VW se equivalem, no estilo os dois são bastante diferentes. Enquanto o i3 investe em uma receita completamente nova (incluindo plataforma e motor), na tração traseira e em estudos de mais de 20 anos, o Golf joga as suas fichas na tradição, e aposta em um visual — externo e interno — idêntico ao da configuração equipada com motor a combustão.
Assim, não é de se estranhar que o VW Golf quase não chame a atenção por onde passa. O quase fica por conta da ausência de ruídos — se bem que, na Europa, isso já não impressiona tanto. Mas não se pode esquecer que existe uma parte dos consumidores que prefere passar desapercebido no trânsito, e para esses, o estilo discreto do e-Golf tem suas vantagens.
Com relação ao peso, a versão elétrica possui 300 kg a mais se comparado ao modelo a diesel, o que pode causar preocupação. Já o porta-malas abriga 341 litros de bagagem, segundo a fábrica. Ou seja, como acomoda cinco ocupantes, o e-Golf pode, até, ser usado como veículo familiar. A limitação, claro, fica por conta da autonomia.
Proposta distinta
O BMW, em compensação, é mais limitado e não esconde isso. Sua capacidade declarada é de quatro ocupantes e alguma bagagem (260 litros), embora não necessariamente ao mesmo tempo. O banco traseiro rebatível permite ampliar a capacidade do porta-malas, mas, convenhamos, essa não é a principal preocupação de quem procura por um carro desse tipo — embora possa decidir a escolha. Os bancos acomodam bem o corpo, mas as portas traseiras, que abrem no sentido contrário, foram motivo de muita discussão na redação. Afinal, se por um lado é estranho entrar no carro por meio das portas “suicidas”, por outro, não se pode negar que o acesso é fácilitado pela ausência de colunas centrais. Vale lembrar que, por segurança, elas só podem ser abertas com o carro parado e as dianteiras abertas (como na picape Fiat Strada 3 portas). Independentemente da opinião, o que não se pode negar é que o i3 desperta a curiosidade por onde trafega.
Muito mais discreto, o e-Golf só é identificado pela decoração azul na parte inferior do conjunto óptico dianteiro e do já citado silêncio ao trafegar. Mas é preciso reconhecer que quem possui um Golf com motor convencional, consegue distinguir o modelo elétrico mais rapidamente.
Ao se acionar o botão de partida, basta deslocar a alavanca do câmbio para a posição D e acelerar. Apenas nas desacelerações percebe-se um leve zumbido causado pelo sistema de recuperação de energia do veículo.
Falando nele, quando se dirige com o sistema na condição Normal, a sensação durante as desacelerações é praticamente a mesma que se tem em um automóvel convencional. Mas quando se opta pelo modo Econômico, a recuperação de energia — e, consequentemente, a atuação do “freio-motor” é bem mais intensa. Mas é fácil se acostumar com esse comportamento. O mesmo, porém, não vale para o i3, que exige um pouco mais de prática, por conta das desacelerações bruscas provocadas pelo sistema de regeneração. Mas, após algum tempo, o motorista consegue até dirigir sem utilizar o pedal do freio no trânsito urbano com frequência.
Menor e mais ágil
Se freia de maneira mais brusca, o BMW i3, em compensação, também acelera melhor. Mas, para dar a partida, o motorista terá de ficar atento, pois o botão de arranque está praticamente escondido no comando satélite ao lado do volante, que reúne também o seletor do câmbio (veja a foto na página ao lado).
Além disso, mesmo quem possui — ou já conduziu — outros modelos da marca terá de se adaptar à cabine do i3, pois nele tudo é diferente. As outras funções do carro podem ser comandadas por meio do sistema iDrive, instalado no console central. Para completar, o modelo conta com um monitor à frente do motorista, em vez de um quadro de instrumentos analógicos — além da tela do computador de bordo/sistema multimídia no centro do painel. O estilo é tão futurista que pode parecer assustador para alguns.
Menos mal que o iDrive é fácil de usar e tem funcionamento bastante intuitivo (como nos demais modelos da marca). A posição do comando, porém, poderia ser mais ergonômica. Mas, como se trata de um equipamento feito para ser usado rapidamente e em períodos breves, isso não chega a ser um problema. No e-Golf, as informações sobre o funcionamento do carro e as preferências do condutor podem ser acessadas por meio do computador de bordo idêntico ao dos demais modelos da gama. A diferença, claro, fica por conta dos dados específicos da versão elétrica, como carga da bateria, autonomia, forma de condução do motorista, quantidade de energia regenerada nas desacelerações etc. E tudo é exibido no monitor do sistema multimídia.
O desempenho melhor em comparação com o do e-Golf não ocorre por acaso. Além de contar com um motor mais potente (170 cv contra 115 cv), o i3 ainda é 290 kg mais leve. Assim, nem o maior torque do VW (27,5 mkgf contra 25,5 mkgf) consegue equilibrar a disputa.
Boa parte do segredo da “leveza” do BMW está na sua carroceria, feita de plástico reforçado com fibra de carbono combinado com alumínio, o que, de acordo com a fabricante da Baviera, permite conciliar baixo peso com segurança para os ocupantes. De quebra, a estrutura ainda permite ao carro ter um baixo centro de gravidade, o que favorece a dirigibilidade.
Tem mais: a parte externa da carroceria, em vez de chapas de metal, é feita de material termoplástico (exceto o teto, por questão de segurança). De acordo com a BMW, além de serem mais leves — pesam a metade do metal —, as peças de termoplástico utilizam menos energia para serem produzidas, são livres de corrosão e ainda resistem melhor a pequenos impactos.
O VW e-Golf responde com a tradição de um automóvel bem construído, bem acabado, seguro e, principalmente, bom de ser dirigido. Quem conhece o Golf, mesmo de gerações anteriores, sabe quais são as qualidades do carro.
E, como se tratam de automóveis destinados ao consumidor de perfil mais conservador, oferecer um produto que possua características já conhecidas acaba influenciando na hora da compra. Afinal, o público mais experiente não costuma arriscar ao definir o próximo carro.
Menor e mais ágil
Mas o mais importante quando se fala em automóvel elétrico é a autonomia. E aqui, também se registra uma vantagem para o elétrico da Volkswagen, que consegue rodar entre 130 km e 190 km (dependendo da maneira como o motorista conduz) sem necessidade de recarga — que demora 30 minutos, utilizando o sistema de carga rápida ou até oito horas por meio do equipamento doméstico convencional —, enquanto o rival da BMW pode atingir entre 130 km e 160 km e pode ter suas baterias recarregadas também em 30 minutos ou em apenas cinco horas, por meio do aparelho doméstico.
Vale lembrar ainda que o BMW i3 conta com um extensor de autonomia opcional (um pequeno motor bicilíndrico, oferecido por 4.500 euros), que optamos por não considerar aqui.
Assim, no final, o Volkswagen e-Golf se mostrou um automóvel mais completo, pois acomoda mais ocupantes e bagagem, proporciona mais conforto ao dirigir, é mais fácil de ser conduzido e ainda é mais barato de ser mantido. Além disso, representa menos riscos a longo prazo. O BMW i3, em compensação, é o mais atraente e chama muito mais a atenção nas ruas, além de contar com uma construção mais moderna.
Conclusão
1º Volkswagen e-Golf: 381 pontos
Mais que um hatch médio, o VW e-Golf é a opção para quem roda a maioria do tempo na cidade, mas precisa de um automóvel capaz de oferecer algum conforto para viagens não muito longas, em fins de semana. E até mesmo com a família, já que consegue acomodar cinco ocupantes e bagagem. Como não traz mudanças significativas em relação às versões equipadas com motores a combustão, o e-Golf é fácil de ser operado e não exige muita atenção por parte de seu proprietário.
O aspecto que pode gerar alguma controvérsia está no seu visual. Algumas pessoas podem achar o veículo insosso, já que, a não ser pela decoração azulada na parte inferior dos faróis, das luzes diurnas de LEDs com desenho diferente e, claro, dos emblemas, é difícil identificar este modelo como um elétrico. A Volkswagen, porém, aposta exatamente na discrição para conquistar o público-alvo do e-Golf que, segundo a fabricante, é mais experiente e não só deseja passar desapercebido, como não se deixa influenciar pela opinião de terceiros na hora de adquirir seu carro novo. Pelo conjunto, o Golf elétrico leva a melhor sobre o concorrente da BMW.
2º BMW i3: 363 pontos
Você quer ter um carro elétrico, mas também deseja que as outras pessoas saibam disso? Então, a melhor escolha para você é o BMW i3, sem dúvida. Com seu desenho inusitado, silêncio ao rodar e, principalmente, portas traseiras que abrem no sentido contrário, é quase certo que ninguém vai ignorar a sua presença no codomínio ou no estacionamento da empresa. Só não espere que todo esse status venha acompanhado de mais espaço no porta-malas ou para os ocupantes do banco traseiro. Nesse caso, você pode se decepcionar.
Ficha técnica VW e-Golf
Motor disposição: elétrico, dianteiro
Potência (cv): 115
Rotação (rpm): 3.000 rpm
Torque (mkgf): 27,5
Tração: dianteira: independente
Suspensão (dianteira/traseira): 1.528/432
Peso vazio/cap. máx. de carga (kg): 4.270/1.799/1.473
Dimensões em mm (comp./larg./altura): 2.631
Entre-eixos (mm): 10,8/10,9
Diâmetro de giro (m) (esq./dir.): 341
Porta-malas (litros): íons de lítio
Bateria: 13/8
Tempo de recarga (230 V/400 V, em horas): 205/55 R16
Pneus (veículo testado): Continental eContact
Ficha técnica BMW i3
Motor disposição: elétrico, traseiro
Potência (cv): 170
Rotação (rpm): 4.800 rpm
Torque (mkgf): 25,5
Tração: traseira
Suspensão (dianteira/traseira): independente
Peso vazio/cap. máx. de carga (kg): 1.238/382
Dimensões em mm (comp./larg./altura): 3.999/1.775/1.597
Entre-eixos (mm): 2.570
Diâmetro de giro (m) (esq./dir.): 9,7/9,7
Porta-malas (litros): 260
Bateria: íons de lítio
Tempo de recarga (230 V/400 V, em horas): 6 a 8/3 a 6
Pneus (veículo testado): 155/70 R19 Bridgestone Ecopia