A partir de 2010 os motoristas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, onde se encontra a maior demanda por combustível no país, passaram a contar com mais uma opção para abastecer seus carros flex, o etanol aditivado. Ao que tudo indica a Shell ainda seguirá por um bom tempo sem concorrentes nessa área, já que, quando procuradas, a Ipiranga informa que não planeja oferecer um produto similar e a Petrobras optou por não se manifestar a respeito.

Mas o que ele oferece a mais para justificar os R$ 0,10 que custa, em média, acima do etanol comum? Segundo a petrolífera, o combustível conta com detergentes e dispersantes, assim como ocorre com a gasolina aditivada, responsáveis pela limpeza do sistema de alimentação do motor. Além disso, e aqui está seu principal segredo, é a tecnologia FMT (Friction Modification Technology). Cabe a ela, nas palavras da empresa, “criar uma película entre as partes móveis do propulsor que entram em contato com o combustível, aumentando a lubricidade e reduzindo o desgaste natural causado pelo funcionamento”.

“Como em todo combustível aditivado, é preciso elaborar um relatório para a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostrando que, de fato, ele proporciona melhorias ao motor. Os ensaios realizados pelo Instituto Mauá revelaram que o etanol aditivado apresentou menos depósitos em válvulas do que o comum e, nas experiências em dinamômetro com condições controladas, observamos uma economia de combustível da ordem de 3% a favor do V-Power etanol”, explica Gilberto Pose, coordenador de combustíveis da Raízen, joint venture brasileira formada pela Shell e a Cosan.

O etanol aditivado custa, em média, R$ 0,10 a mais que o comum

 Pose também acrescenta que, como cada motorista tem um estilo de condução e a situação de cada veículo, em termos de manutenção, varia muito de um para outro, não é possível afirmar que todo consumidor obterá esse ganho em consumo, por isso a marca não se atém a essa característica na publicidade do produto. Contudo, será que, fora de um local controlado como a bancada de um dinamômetro, é possível notar essa melhora?

Para esclarecer essa questão levamos para a pista de testes um Fiat Uno Attractive e realizamos nossas provas de aceleração e retomada, além de simular um ciclo de consumo urbano e outro rodoviário. Antes, pausa para um esclarecimento. A Shell recomenda aos interessados em abastecer com o etanol aditivado para que se faça uma migração de forma gradativa, com metade do tanque para cada tipo de etanol, por três ou quatro abastecimentos. “Caso o veículo possua menos de 5 000 km o processo é dispensável”, acrescenta Pose.

Com as recomendações anotadas, esgotamos o tanque de etanol comum no Uno e saímos da cidade de São Paulo em direção a Limeira, viagem de aproximadamente 140 km. Como nosso Uno em questão chegou à pista com exatos 3.600 km, iniciamos os testes dispensando o procedimento de migração. Para manter o equilíbrio e permitir uma análise mais precisa, desconectamos o tanque de combustível do Uno e colocamos os dois combustíveis diretamente em nosso medidor de consumo, que conta com um reservatório de nove litros e abastece diretamente o motor por meio de uma bomba.

Utilizamos um equipamento especial para controlar o fluxo de combustível enviado ao motor

Com duas pessoas a bordo e o equipamento completo de medição partimos para os ensaios. Com etanol aditivado, o Uno Attractive, que possui motor 1.4 nesta versão, precisou de 17s3 para acelerar de 0 a 100 km/h e 20s5 para percorrer 400 metros partindo da imobilidade. No que diz respeito ao consumo, o Fiat registrou consumo médio de 10,7 km/l (9,3 km/l urbano e 12,1 km/l rodoviário).

Finalizada a primeira medição, substituímos o combustível em nosso medidor e rodamos cerca de 30 quilômetros com o etanol comum antes de iniciar as avaliações. Com ele, o Uno cumpriu o 0 a 100 km/h em 17s8 e o 0-400 m em 21s3. Já a media de consumo ficou em 9,8 km/l, sendo 8,7 km/l na simulação de ciclo urbano e 11 km/l no percurso rodoviário. No que diz respeito ao nível de ruído, os dados foram próximos, com média de 64,8 dB para o comum e 65,1 dB para o aditivado.

Apenas como exemplo, já que o preço dos combustíveis varia muito entre as praças, no posto em que abastecemos o Uno na cidade de São Paulo, onde o etanol aditivado era oferecido por R$ 1,89 o litro, gastaríamos R$ 90,72 para completar o tanque de 48 litros do Fiat e rodar 513,6 quilômetros. Com o comum vendido a R$ 1,79, o gasto seria de R$ 85,92 para uma autonomia de 470,4 quilômetros. E é justamente nesse ponto que o consumidor deve ficar atento. Apesar da autonomia menor, o custo por quilômetro com o etanol comum é de R$ 0,182 contra R$ 0,176 do aditivado.

Com o etanol aditivado o Uno melhorou em desempenho e consumiu menos combustível

Questionada sobre a aceitação do etanol aditivado, a Shell informa que não pode informar o percentual de participação dele no mix de vendas dos combustíveis, mas acrescenta que a procura “superou o esperado na época do lançamento”. Na pista ele provou que oferece uma melhora em termos de rendimento e, consequentemente, maior vantagem financeira ao dono do carro. Agora só cabe a você escolher.

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