Um ano e cinco meses depois do lançamento na Itália, o Mille chegou ao Brasil em 1984

Em 1984, um ano e cinco meses após ter sido lançado na Itália, o Fiat Uno começou a ser fabricado em Betim, MG, e ganhou as ruas brasileiras. Sucessor do 147 em nosso mercado, o compacto chamou a atenção com o seu visual ousado para a época (alguns adoraram, enquanto outros, torceram o nariz para o estilo “botinha ortopédica”, como foi batizado pelos críticos), e oferecia atributos como bom espaço interno e baixo consumo de combustível. 

Mal sabia a Fiat que aquela novidade construiria uma história de três décadas em nosso mercado, até ter sua produção encerrada no fim de 2013. 

O primeiro Uno veio ao mercado somente com carroceria de 2 portas, trazia o estepe alojado no cofre do motor (para não prejudicar o espaço do porta-malas) e era oferecido nas versões S (1 050 cm³) e CS (1.3 a etanol ou a gasolina). A configuração mais esportiva, a SX (1.3), foi lançada em 1985. Em relação ao modelo italiano, o Uno made in Brazil recebeu um novo capô, para facilitar a retirada do já mencionado estepe, além da suspensão traseira independente com feixe de molas, que proporcionava maior resistência ao conjunto por conta do mau estado das vias brasileiras.

Opção mais "brava" do Mille, o Uno 1.5R foi lançado em 1987

No decorrer dos anos, o Uno também recebeu as motorizações 1.5 e 1.6, além de ter originado as versões sedã (Prêmio), station (Elba), picape (Fiorino), furgão (Fiorino Furgão) e Furgoneta. 

O compacto já havia se estabelecido no mercado quando, em 1990, o então presidente da República Fernando Collor anunciou a redução do IPI para veículos com motores entre 800 cm³ e 1 000 cm³. Logo em seguida, a Fiat lançou o Uno Mille (mil em italiano, em alusão ao seu propulsor), que inaugurou o conceito de carro popular no Brasil.

O motor 1.0 do Uno Mille gerava 47 cv e 7,4 mkgf de torque, rendimento consideravelmente aprimorado na versão Brio, lançada em 1991. Com carburação dupla e outros ajustes, ele produzia 54 cv. Já a versão de despedida do modelo, a Grazie Mille, possuía 66 cv e 9,2 mkgf, e era um dos mais econômicos do país.

A opção "de luxo" ELX chegou ao mercado em 1994

Em 1992, o modelo recebeu uma série de modernizações, como o catalisador no escapamento para se alinhar com as novas normas de emissões de poluentes, e o sobrenome Electronic, juntamente com a ignição eletrônica. Em 1993, a versão popular passou a contar com a opção de carroceria 4 portas — antes oferecida somente nas versões com motores maiores —, e em 1995, o Mille entrou na era da tecnologia de injeção eletrônica monoponto — com apenas um injetor para substituir o carburador. 

As atualizações promovidas pela Fiat em seu compacto foram constantes,  e não se restingiram à parte mecânica. Sua história é recheada de diversos facelifts, assim como pela criação de diversas versões (EP, ELX, SX, Smart, Young, Economy, entre outros), e atualizações de conteúdo. Para se ter ideia, enquanto a primeira geração do compacto trazia câmbio de 4 marchas e contava somente com saídas de ar no centro do painel, o modelo derradeiro trazia entre os equipamentos disponíveis ar-condicionado, travas e vidros com acionamento elétrico e outras comodidades.    

O Uno teve a sua produção encerrada na Itália em 1995, dando lugar ao Punto. Enquanto isso, as vendas do modelo seguiam firme e forte no mercado brasileiro, mesmo após a chegada do Palio, em 1996. Em 2001, o veterano teve o motor 1.0 Fiasa substituído pelo Fire, mais moderno (estreado pelo Palio). Em 2005, o mesmo propulsor ganhou tecnologia Flex — sendo capaz de gerar 66 cv e 9,2 mkgf. Esse motor foi utilizado até a aposentadoria do modelo.

O Grazie Mille, lançado no fim de 2013, marcou o fim da produção do Mille no Brasil

Assim, após somar mais de 3,7 milhões de unidades produzidas no Brasil, e de ter feito parte da família de muitos consumidores, o compacto da Fiat teve a sua história encerrada por aqui em janeiro de 2014, por conta das normas de segurança mais rígidas. 

O nome, porém, seguirá fazendo história, já que o modelo lançado em 2010 como Novo Uno tem tudo para continuar na trilha traçada pelo original.

Quadradão

O desenho do Mille foi assinado por Giorgetto Giugiaro e gerou polêmica no Brasil — cuja maioria dos automóveis, na época, apresentava visual com mais curvas. Enquanto alguns reprovavam suas linhas chamando-o de “botinha ortopédica”, outros elogiavam, principalmente, devido à grande área envidraçada.

Turbo!

Além da fama com a versão popular, o Fiat Uno Mille empolgou os entusiastas com versões de alto desempenho, como a Turbo, fabricada entre 1994 e 1996. Embora tivesse preço elevado, os 118 cv e 17,5 mkgf extraídos do motor 1.4 8V ofereciam ao compacto comportamento muito vigoroso e desempenho surpreendente para a época. O aspecto negativo é que a inclusão do turbocompressor, do intercooler e da linha de pressurização do conjunto no compartimento do motor ocupava espaço e impedia a instalação de ar-condicionado no modelo.

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