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A Citroën vive um momento delicado no Brasil. Em 2011, 87.493 veículos leves da marca foram emplacados no País, de acordo com dados da Fenabrave. No ano passado, foram apenas 22.020 unidades. Em que pese a forte retração do mercado como um todo nos últimos anos, a participação da marca encolheu de 3% em 2011 para 1,1% em 2017. Para recuperar esse terreno perdido, a fabricante aposta suas fichas na categoria mais aquecida do momento: a de SUVs.

E a esperança de reverter esse cenário atende pelo nome de C4 Cactus, que tem estreia por aqui marcada para o segundo semestre. A marca reuniu um pequeno grupo de jornalistas para avaliar as primeiras unidades pré-série (montadas na linha de produção) por um trecho de 250 km na região de Resende (RJ).

Visual do Cactus feito em Porto Real segue as mesmas linhas do europeu

Lançado na Europa em 2014, o crossover passou por uma reestilização no ano passado e ganhou visual mais tradicional, com redução dos airbumps nas laterais e adição de uma grade dianteira que interliga as luzes diurnas em LED. Por lá, o modelo substituiu o antigo C4 hatch. No Brasil, ele será posicionado como um SUV.

O modelo é feito numa versão atualizada da plataforma PF1, que dá origem aos compactos da PSA (C3, Aircross, 208 e 2008). Na Europa, ele tem 4,17 m de comprimento, 1,71 m de largura, 2,60 m de distância entre-eixos e 1,48 m de altura. Por aqui, deverá ganhar alguns milímetros nesta última medida graças à suspensão mais elevada.

Presença do rack de série e desenho das rodas são exclusivas do modelo nacional

O desenvolvimento do Cactus renovado foi capitaneado pela engenharia da PSA no Brasil e teve início três anos atrás. “Tanto o modelo europeu como o nacional foram projetos liderados pelo time da Citroën local”, ressalta o vice-presidente de Marketing, Produto, Mobilidade e Serviços Conectados do Grupo PSA na América Latina, Pablo Averame.

Projeto global, mudança local

O desenho externo do Cactus produzido em Porto Real (RJ) segue as linhas do original, que é feito na mesma base. As diferenças aparecem no desenho das rodas (de 17 polegadas), na cor preta das maçanetas e na presença do rack. O Cactus nacional terá, ainda, opção de teto em tom diferente do restante da carroceria.

O interior é exclusivo da versão nacional e mistura elementos conhecidos das novas gerações europeias de C3 e Aircross, além do próprio Cactus. A Citroën não permitiu que registrássemos fotos da cabine. Por isso, fizemos uma projeção (veja abaixo) com as principais mudanças em relação ao europeu.

Projeção exclusiva adianta como será o interior do Cactus nacional (créditos: Gustavo de Sá e Rafael Guimarães)

O quadro de instrumentos é compartilhado com o C4 Lounge reestilizado e tem tela digital monocromática de 7 polegadas. No nacional, há uma cobertura convencional para evitar a incidência de luz do sol (no original, a tela é no estilo flutuante). No centro do painel, a central multimídia inverteu posição com as saídas de ar-condicionado. Com isso, a filial brasileira priorizou a ventilação da cabine, em detrimento de acesso mais fácil aos comandos da tela tátil.

As grelhas das saídas de ar têm desenho simétrico no Cactus feito em Porto Real. Abaixo da tela, há uma peça que agrega três comandos: botão de partida, seletor de modos de tração dianteira (Grip Control) e tomada 12 V. À direita, o painel à frente do passageiro possui uma espécie de peça tubular que tinha duas versões de acabamento nos protótipos: com figuras ovais em baixo relevo na cor cinza; e lisa, com material que simula fibra de carbono.

O airbag do passageiro fica na posição convencional, no topo do painel. Foi uma solução para diminuir o custo tanto na produção quanto em um possível reparo, pois, no europeu, a bolsa de ar lateral fica alojada no teto. O porta-luvas é formado por uma peça única e não possui iluminação.

Rodagem foi feita com os camuflados e sempre em comboio

A tela multimídia é semelhante à do C4 Lounge. Por meio dela, é possível ajustar diversos parâmetros do carro, desde a temperatura e intensidade do ar-condicionado (de uma única zona) até a preferência pelos sistemas de auxílio ao motorista. Como no projeto original, o freio de estacionamento é do tipo convencional e há um pequeno apoio de braço com porta-objetos integrado.

O acabamento da cabine é bom, com encaixes satisfatórios das peças. Nos painéis ou portas, não há plásticos macios ao toque. Nesse ponto, o Cactus está mais para C3 que C4 Lounge. Os bancos de todas as unidades tinham revestimento em couro sintético e uma discreta faixa horizontal em tecido cinza, de bom aspecto.

Ao contrário do original, vidro traseiro foi modificado e poderá ser aberto

Há cintos de três pontos e apoios de cabeça para todos na cabine. Na parte de trás, importante alteração feita pela engenharia da marca no Brasil é a possibilidade de abertura elétrica dos vidros traseiros – no projeto original, eles são do tipo basculante, como em carros duas portas. Senti falta de iluminação nos espelhos dos para-sois, regulagem de altura dos cintos de segurança dianteiros e alças no teto.

Rodando disfarçado

Nosso teste de rodagem começou de manhã, partindo do distrito de Engenheiro Passos (RJ). Foram cerca de 250 km percorridos entre Resende (RJ), Areias (SP) e Cruzeiro (SP). O comboio era formado por quatro protótipos, com camu?agem zebrada, e duas ou três pessoas por veículo. A cada 30 km rodados, era feita uma parada para rodízio dos jornalistas, com objetivo de que todos participassem como motoristas e passageiros de 100% dos protótipos.

Nesse tipo de experiência, o objetivo da equipe de engenharia é colher opiniões sobre conforto global (suspensão, acústica, bancos), habitabilidade e espaço interno, sistema de climatização, desempenho do conjunto motor/câmbio, freios e calibração da direção.

Foram 250 km de rodagem com trocas entre motoristas e passageiros

De acordo com a Citroën, nesta fase do projeto ainda podem ser otimizadas as calibrações dos motores, as relações do câmbio automático, maciez da suspensão, isolamento acústico, sensibilidade do ar-condicionado automático e o conforto dos bancos (densidade da espuma).

Todos os protótipos tinham a combinação entre o motor 1.6 THP e câmbio automático de seis marchas. Em três deles, o acerto era o mesmo do C4 Lounge: ?ex, 173 cv com etanol. Um único protótipo tinha o THP de 165 cv, somente a gasolina, voltado aos mercados latino-americanos. Além do Brasil, o Cactus feito em Porto Real será comercializado na Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia. Em alguns destes países, irá substituir a antiga versão, lançada em 2014.

Nos protótipos avaliados, a calibração do câmbio, assistência elétrica da direção e suspensão eram diferentes. Com variações, todos aliavam bom comportamento em curvas com absorção eficiente das irregularidades do solo. Disponível a baixas rotações, a força máxima do motor THP garante acelerações vigorosas, mesmo com três pessoas a bordo.

Por aqui, o Cactus terá suspensão do tipo McPherson, na dianteira, e eixo de torção, na traseira – o sofisticado conjunto de amortecedores com batentes hidráulicos ficará restrito ao europeu. Os protótipos tinham sistema de frenagem automática de emergência, alerta de mudança involuntária de faixa, assistente de saída em rampas e câmera de ré. Além disso, havia unidades com quatro e seis airbags.

A Citroën não confirma a gama de versões, pacotes de equipamentos, oferta de outro motor ou preços – nossa estimativa é que eles fiquem entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, faixa onde estão rivais como Honda HR-V, Nissan Kicks e Hyundai Creta, entre outros. Com esse pacote de mudanças e posicionamento com foco no segmento mais quente do mercado, o Cactus tem tudo para virar o jogo e reaquecer o volume de vendas da Citroën no Brasil.

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