Os ventos gelados cortam o vale de cima a baixo, mas não chegam a alterar o visual do local, com algumas vilas em sua extensão e as montanhas, com picos sempre brancos no inverno. Estamos na base do Monte Turracher, na Áustria, local que viu surgir o Audi Quattro, em 1980. Logo depois, o carro foi lançado no Salão de Genebra daquele ano e brilharia na tradicional prova de subida de montanha de Pikes Peak, em 1987.

Nós não queremos apenas recontar essa história, e sim revivê-la. 

Audi Quattro

A região também é conhecida pelas estradas rurais e de difícil acesso, muito utilizadas para o desenvolvimento de pneus. No inverno de 1978, porém, as condições estavam mais severas que o habitual, e apenas utilitários e cami­nhões (os únicos equipados com tração integral na época) conseguiam chegar lá. Mas havia uma exceção.

Audi Quattro

Um protótipo esportivo podia ser visto com frequência trafegando pelo local, provocando a curiosidade geral. Uma versão da história diz que os engenheiros Jorg Benziger e Fritz Naumann foram os responsáveis pela criação e desenvolvimento do carro, enquanto outra credita os méritos a Ferdinand Piëch (ex-presidente do conselho de supervisão do Grupo Volkswagen, na época, diretor de pesquisas da Audi). Independentemente da versão, o fato é que ali foi o berço do Audi Quattro, o primeiro cupê esportivo equipado com tração nas quatro rodas. 

Diz a lenda que Piëch, a fim de convencer os executivos da empresa da viabilidade comercial do protótipo, levou Toni Schmücker, o presidente do Grupo VW na época, a um passeio pela região do Monte Turracher, para demonstrar as qualidades do veículo. A história diz que foram necessários apenas 200 metros para Schmücker ficar encantado com o modelo.

Audi Quattro

Agora, no quartel dos bombeiros, um Audi Quattro está sendo desembarcado. Ele pertence à Audi Tradition, divisão da fabricante destinada a preservar a memória da marca. Trata-se de uma verdadeira joia rara, um dos 11.560 exemplares construídos e que hoje é cotado pelo mesmo valor de um Porsche 911 novo.

Alguns intermináveis minutos depois, ele está pronto. Ainda é preciso aguardar um pouco, até que água, óleo e até o interior do carro fiquem aquecidos, mas já impressiona. Chama a atenção como ele é pequeno, minúsculo, até, se comparado à sua fama. Dizem que foi Ferdinand Piëch quem cunhou a máxima: “O inimigo não deve ser  desencorajado logo no início”. Faz sentido.  

Audi Quattro

É hora de diversão! Na trilha coberta de neve, os pneus especiais se agarram ao piso de modo excepcional. A tração, é claro, ajuda muito, assim como a facilidade de condução do Quattro. Incrível, nem parece que se trata de um carro com 35 anos! O turbo, com 0,85 bar de pressão, não tem a mesma suavidade dos modelos atuais, e assim, percebe-se algum atraso (o chamado lag), principalmente em baixas rotações.

Audi Quattro

O negócio, então, é seguir acelerando para evitar que o giro do motor caia muito. O motor ruge ferozmente, e o som é amplificado pela topografia local. Nas curvas, o carro oscila um pouco, mas nada que chegue a preocupar. É impossível não recordar Walter Röhrl ou Michèle Mouton…

Seguimos em direção ao pico do Turracher trabalhando pedais, câmbio e volante de maneira insana. Acelerador, freio, embreagem, redução de marcha, esterçamento total para a esquerda, pé embaixo no acelerador novamente… Ufa!

Audi Quattro

A noite vai caindo sobre a região do monte Turracher quando chegamos ao nosso destino. Pouco depois, admiro o carro estacionado e agradeço pela oportunidade única de acelerar uma parte da história. Que máquina!  

FICHA TÉCNICA

Motor: L5 I turbo c/ intercooler, dianteiro, longitudinal, gasolina
Velocidade máxima: 222 km/h
Aceleração: (0 a 100 km/h): 7s4
Cilindrada: 2.226 cm3
Potência: 200 cv
Torque: 27,5 mkgf
Câmbio: Manual,  5 marchas 
Tração: Integral, permanente
Rodas: Liga leve, 15” 
Suspensão dianteira: McPherson 
Suspensão traseira: McPherson

Audi RS 2

NO BRASIL, AUDI CELEBRA 20 ANOS DOS RS
Se o Quattro foi o primeiro cupê esportivo a contar com tração integral, a station wagon RS 2 (acima) foi a pioneira entre os modelos derivados de veículos de série com características, até então, restritas a carros esporte. Exibida no Brasil durante o Salão do Automóvel de 1994, a RS 2 (iniciais de Rennsport ou automobilismo esportivo, numa tradução livre) passou a ser vendida no país no ano seguinte.

Desenvolvida em parceria com a Porsche, possuía motor 2.2 turbo de cinco cilindros, capaz de gerar 315 cv, que a permitia alcançar 262 km/h de velocidade máxima e acelerar de 0 a 100 km/h em 5s4 (marca excelente para um veículo familiar até hoje). A quattro GmbH, que produz os Audi S e RS, foi fundada em 1983, mas só passou a fabricar os modelos de alto desempenho em 1996. Atualmente, a empresa possui duas fábricas, em Neckarsulm e Ingolstadt.

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