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Jeep e Peugeot, ao lado da Honda, causaram furor no mês passado com a estreia de seus aguardados SUVs compactos, segmento no qual o Ford EcoSport permanece intocado na liderança de vendas. A estratégia da Jeep, contudo, foi começar sua ofensiva no segmento pela opção a diesel 4×4 do Renegade, o que tornaria injusta e um tanto quanto sem nexo a comparação com rivais 4×2 flex, por isso resolvemos aguardar ansiosos por esse encontro. 

Peugeot 2008 Griffe 1.6 flex automático

Nossa ideia foi reunir as novidades com o EcoSport em suas opções automáticas. Uma grande ausência nesta pauta foi o Honda HR-V. Na última hora a fabricante alegou que a unidade destinada a nós sofreu um problema e outro carro não nos seria entregue em tempo hábil para nossa pauta. De qualquer maneira, é bom lembrar que ele venceu o EcoSport e o Chevrolet Tracker no mês passado. A Jeep, por sua vez, começou a trabalhar suas opções com o 1.8 16V flex do Renegade, que merece algumas considerações. 

Peugeot 2008 Griffe 1.6 flex automático

A fabricante se empenhou em explicar que o motor não é o mesmo utilizado em alguns modelos da Fiat. “Só as bielas e o virabrequim são do E.torQ anterior. O E.torQ Evo nasceu para equipar o Renegade e os pistões, cabeçote, comando de válvulas, variador de fase, dentre outras partes, são novos”, explica Ricardo Dilser, da FCA. Só não dá para entender porque, no meio de tantos aprimoramentos, a marca não eliminou a necessidade do uso de gasolina na partida a frio… 

A Peugeot resolveu aproveitar o que possuia nas prateleiras de sua fábrica de Porto Real (RJ) e equipou o 2008 com o mesmo 1.6 16V flex presente no hatch do qual o SUV deriva. Outro componente compartilhado com o 208 é o câmbio automático. Se fica devendo ao não oferecer mais do que suas 4 marchas, ao menos ele conta com borboletas no volante para as trocas sequenciais e com os modos de condução esportiva ou econômica. A estratégia declarada da Peugeot é oferecer o automático mais barato da categoria. 

Jeep Renegade Sport flex automático

UM PANORAMA DAS VERSÕES
O raciocínio da Peugeot foi preciso. Além do câmbio automático estar ganhando força entre os brasileiros, a oferta desse tipo de transmissão é muito importante, em especial quando estamos falando de modelos na faixa de R$ 75.000. 

Jeep Renegade Sport flex automático

Por R$ 74.990, o 2008 Griffe considerado aqui traz um ótimo pacote de itens de série, com destaque para os 6 airbags, o teto panorâmico e o revestimento interno que mescla couro e tecido. Além disso, só ele traz (também de fábrica) a central multimídia mais completa dos três modelos, com navegador integrado e tela sensível ao toque de 7”. Bem instalada no centro do painel, ela é fácil de usar e também permite controlar o computador de bordo. Além disso, o 2008 Griffe é o único com sensor de estacionamento dianteiro de série, um item de conveniência que oferece uma boa ajuda na hora de sair de uma vaga apertada. 

O fato de agora pertencerem ao mesmo conglomerado explica muitos traços italianos que encontramos no Renegade. Assim como a Fiat, a Jeep utiliza como um atributo para se diferenciar dos concorrentes o fato do Renegade oferecer um catálogo de equipamentos bem mais amplo, só que o grande problema é que a maioria dos itens é opcional e custa caro. O Renegade Sport 1.8 automático que consideramos aqui parte de R$ 75.900, porém a unidade testada, que conta com todos os opcionais, atinge R$ 91.950. Só o teto solar elétrico panorâmico, por exemplo, custa R$ 6.700. Já a central multimídia, que conta com câmera de ré, acrescenta outros R$ 4.600. 

Ford Ecosport SE 2.0 Powershift

Para responder à avalanche de novidades no segmento, a Ford lançou em abril a versão Free-Style Plus, sendo que o “plus a mais” no caso fica por conta dos 6 airbags e o revestimento de couro. Ela tem preço sugerido de R$ 82.900, portanto ficaria muito cara para ser considerada aqui, de qualquer maneira é bom você se informar. Sendo assim, resolvemos tecer nossa análise nos baseando no EcoSport SE 2.0 PowerShift. Ela custa o mesmo que o Renegade Sport automático e não por acaso conta com nível de equipamentos praticamente igual, com destaque para os controles de estabilidade e tração. A falta deles, aliás, é uma das grandes derrapadas do 2008, que oferece a dupla de segurança somente com o motor 1.6 turbo (THP).  

Ford Ecosport SE 2.0 Powershift

Com bem mais experiência de mercado do que Renegade e 2008 (algo que, sem dúvida, o ajuda a emplacar tanto), o EcoSport é o que conta com o conjunto motor e câmbio mais interessante para quem gosta de bom desempenho. 
O conhecido (e competente) motor 2.0 16V de 147 cv é beneficado com as trocas rápidas do câmbio de dupla embreagem. O conjunto posiciona o Ford bem a frente de Renegade e 2008 no que diz respeito às acelerações (em média 2 segundos mais rápido) e retomadas. O Renegade, entretanto, nos decepcionou com seu 1.8 16V e a caixa automática de 6 marchas. O Jeep levou quase 14 segundos no 0 a 100 km/h e o mesmo tempo para retomar de 60 a 120 km/h. O Peugeot, mesmo com um motor menor, conseguiu superar o Renegade nesse quesito.  

Entre as razões para explicar os números do Renegade podemos citar seu peso, bem superior em especial quando o comparamos com o Peugeot 2008 (confira todos os dados técnicos nas páginas 62 e 63). Não é à toa que o câmbio do Renegade estica a primeira e segunda marchas até perto das 4.000 rpm, onde está a faixa máxima de torque, na tentativa de conferir mais agilidade ao Jeep. Isso pode até amenizar parte do problema, mas cobra a conta no consumo de combustível. Não por acaso o Jeep registrou as piores parciais de consumo urbano e rodoviário, com 6,2 e 9,2 km/l, respectivamente. O EcoSport registrou 6,1 e 9,3 km/l e o 2008 alcançou 6,7 e 9,9, todos abastecidos com etanol. 

Durante nossa avaliação, a função “eco” presente no câmbio do 2008 mostrou-se uma solução bem interessante, em especial no uso cotidiano. Ela atua antecipando ao máximo as trocas de marchas e mostrou-se bem eficaz. O único porém é que você precisa acioná-la a cada vez que liga o carro. Seria bem mais prático se, uma vez selecionada, ela já permanecesse atuando. 

Peugeot 2008 Griffe 1.6 flex automático

Entre os três modelos reunidos aqui, o 2008 é o que mais se diferencia do estilo inaugurado pelo EcoSport e aposta em uma linhas não tão robustas. Quem olha o Peugeot pela primeira vez pode até achar que ele é muito mais uma station wagon elevada do que um SUV compacto. A sensação é comprovada até de forma técnica, uma vez que o 2008 é o único que não ultrapassa os 1,60 m de altura. Mas apesar do aspecto menos parrudo, o 2008 também oferece uma altura livre do solo de 20 cm, a mesma de Renegade e EcoSport. 

A carroceria mais baixa do Peugeot também confere a ele um rodar mais estável em relação ao EcoSport, o mais alto dos três com 1,69 m. Seu volante pequeno e as respostas rápidas da direção fazem do 2008 o modelo mais indicado para quem gosta de dirigir. O Renegade, que mede 1,67 m de altura, também supera o Ford no que diz respeito ao equilíbrio em curvas. 

Jeep Renegade Sport flex automático

Com entre-eixos próximos, na casa de 2,55m, o espaço interno dos três modelos é bem parecido. Nesse ponto, a presença de mais ângulos retos no design do Renegade favorece em especial a altura do assento até o teto, criando um ambiente mais confortável para os passageiros de maior estatura. A ressalva do Peugeot vai para o console entre os bancos dianteiros. O porta-objetos instalado na extremidade da peça acaba roubando um espaço importante que poderia ser destinado às pernas do quinto ocupante. 

Uma característica comum a Renegade, EcoSport e 2008 é o cuidado em oferecer um habitáculo prático e versátil. Em qualquer um deles é fácil se instalar e acomodar tudo que você precisa. O porta-malas de apenas 260 litros é um dos pontos fracos do Renegade. Para você ter uma ideia, ele tem 102 litros a menos que o EcoSport, que oferece o maior compartimento dos três. Porém é justo destacar que o Jeep acomodou sem problemas nosso jogo de malas. 

Ford Ecosport SE 2.0 Powershift

Tanto ele como o Peugeot tem o mérito de trazer para o segmento um padrão de acabamento mais elevado em relação ao que estávamos acostumados a ver no EcoSport e no Renault Duster. A qualidade dos plásticos utilizados pelo Renegade e a boa montagem geral das peças cria uma boa sensação de qualidade. O mesmo ocorre no 2008. Como é característica das marcas francesas, o cuidado nos materiais escolhidos é notório no modelo. Também é interessante no Peugeot seu painel em dois níveis, oferecendo ao motorista uma posição de dirigir mais esportiva. 

Como até o término desta edição os modelos (exceto, é claro, pelo EcoSport) ainda não haviam chegado às concessionárias, não foi possível levantar os custos de manutenção. Por isso, assim como ocorreu no mês passado durante o lançamento do Honda HR-V, nosso comparativo ficou restrito à análise técnica. 

Muito bem aceito na Europa, onde só fica atrás do Renault Captur no ranking de vendas, o Peugeot 2008 mostrou-se a melhor opção entre os SUVs compactos flex na faixa de R$ 75.000. Com bom custo-benefício e um conjunto motor e câmbio bem acertado para sua proposta, ele tem tudo para ajudar a marca ganhar um pouco de fôlego no Brasil. O Renegade só não foi melhor devido aos números de pista, que ficaram aquém do esperado, o que abriu uma brecha para o EcoSport terminar na frente. Agora que as novidades vão chegar às lojas, teremos uma boa noção de como o mercado vai se comportar. Será uma disputa e tanto. 

FICHA TÉCNICA Ford Ecosport SE Jeep Renegade Sport Peugeot 2008 Griffe
Vel. máx. (km/h) n/d n/d 177
Motor/válvulas diant., trans., 4 cil./16 diant., trans., 4 cil./16 diant., trans., 4 cil./16
Cilindrada (cm³) 1.999 1.747 1.587
Potência (cv) 140 (G)/147 (E) a 6.250 rpm 130 (G)/132 (E) a 5.250 rpm 115 (G) / 122 (E) a 5.800 rpm
Torque (kgfm) 18,8 (G) / 19,6 (E) a 4.250 rpm 18,6 (G) / 19,1 (E) a 3.750 rpm 15,5 (G) / 16,4 (E) a 4.000 rpm
Câmbio dupla embreagem, 6 marchas automático, 6 marchas automático, 4 marchas
Suspensão  McPherson/eixo de torção McPherson McPherson/eixo de torção
Peso vazio (kg) 1.309 1.432 1.236
Diâmetro de giro (m) 10,0 10,8 n/d
Porta-malas (litros) 362 260 355
Tanque de combustível (litros) 52 60 55
Pneus 205/60 R16 215/65 R16 205/60 R16
Comp./larg./alt. (mm) 4.241/1.765/1.696 4.232/1.798/1.678 4.159/1.739/1.583
Entre-eixos (mm) 2.521 2.570 2.542

O VENCEDOR, PEUGEOT 2008
Uma proposta bem executada. Essa talvez seja a melhor forma de explicar o Peugeot 2008. Se, a princípio, o câmbio automático com apenas 4 marchas pode parecer defasado, ele mostra uma interação com o motor 1.6 16V até melhor do que notamos no 208. A novidade oferece um balanço interessante entre desempenho e consumo, em especial com a função “eco” da transmissão acionada. Apesar do item não ter sido levado em conta neste comparativo (o que até aumentaria sua vantagem), o custo-benefício do 2008 na versão considerada aqui é muito bom, em especial pelos itens que ele traz de série. Vale destacar que na faixa de preço considerada aqui (R$ 75.000), você leva para casa o 2008 em sua configuração topo de linha, enquanto o EcoSport e o Renegade estão em suas versões de entrada. O 2008 também utiliza como arma para angariar clientes o bom acabamento e soluções como o teto panorâmico de 0,6 m² de área, o que confere mais sofisticação ao interior. Se a Peugeot realizar um bom trabalho com o 2008, em especial no pós-venda, com certeza poderá surpreender no segmento em que acaba de entrar. Seu produto mostrou ter muitas qualidades.

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