Até quem não gosta de automóveis sabe que o fundador da Ford Motor Company, Henry Ford, foi o criador da linha de produção, processo industrial que permitiu não só reduzir os custos de fabricação, como torná-lo mais rápido. Colocado em prática pela primeira vez em 1913, o sistema não demorou a mostrar suas vantagens. No ano seguinte, a Ford contava com 13 000 funcionários e produziu cerca de 300 000 automóveis, enquanto outras 299 fabricantes que somavam 66 350 empregados produziram cerca de 280 000 unidades.

A ideia era simples – e, por isso mesmo, genial. Em vez de um funcionário acompanhar o carro e montá-lo por inteiro, ele passou a ser responsável por apenas uma etapa da construção. Com isso, o veículo passou a ser montado por diversos empregados, cada um respondendo por um procedimento. Dizem que Henry Ford adotou o sistema baseado em processos similares usados pela fabricante de revólveres Colt e pela Singer, que produzia máquinas de costura.

Nascido em 30 de julho de 1863 em Michigan, Henry Ford logo demonstrou muito interesse pela mecânica, embora fizesse parte de uma família de fazendeiros. Incumbido por seu pai a cuidar da manutenção das máquinas usadas na fazenda, Ford não tardou a criar mecanismos que facilitassem o trabalho dos empregados, o que permitia aumentar a produtividade.

A vida rural, porém, não satisfazia o jovem Henry Ford e aos 16 anos, ele mudou-se para Detroit, onde a sua paixão pelos motores a explosão floresceria. Mas nem a mecânica superou seu amor pela jovem Clara Bryant, com quem se casou em 1888 e viria a ter um único filho, Edsel. Em 1891, Ford assumiu o posto de engenheiro maquinista na empresa de iluminação de Thomas Edison, onde prosperaria até tornar-se engenheiro-chefe. O cargo, além do bom salário, lhe proporcionou mais tempo livre para dedicar-se a construção do seu primeiro veículo automotor, batizado de Quadriciclo.

O modelo chamou muita atenção e permitiu a Ford abandonar o emprego na empresa de Edison e fundar a sua própria, a Detroit Automobile Company, em 1899. Mas, devido à desavenças com outros sócios, a companhia não vingou e Ford teve de voltar a trabalhar como empregado. Mas ele persistiu, e em 1901, fundou a Henry Ford Company, mesmo ainda trabalhando em outra empresa.

Em sua oficina, Ford dedicou-se a dois modelos de competição, o Arrow (flecha, em inglês) e o 999. Com a ajuda de um desenhista, de um mecânico e de um ex-campeão de ciclismo, os novos modelos foram meticulosamente preparados para correr. Barney Oldfield, um dos maiores pilotos do início do automobilismo, dirigiu o 999 em uma prova em Michigan e venceu com folga.

Após a corrida, um negociante de carvão de Detroit mostrou interesse pelo trabalho de Ford. Os dois se tornaram sócios e Henry Ford iniciou um novo projeto. No começo de 1903, outros investidores se juntaram a dupla, dando origem à Ford Motor Company, fundada em 16 de junho de 1903.

O sucesso do Modelo T, lançado em 1908, permitiu a Ford implantar a já citada linha de produção, mas não se pode esquecer que o carro também trouxe outras inovações, como o volante padronizado do lado esquerdo ou a suspensão com molas semi-elípticas, por exemplo. Mas a principal, além do processo de fabricação, foi o preço acessível. Para se ter ideia, na época de seu lançamento, o carro custava US$ 850, mas o preço caia todos os anos e em 1927, quando deixou de ser produzido, o T custava US$ 290! O carro tornou-se tão popular que soa exagerado afirmar que na década de 1920, a maioria dos motoristas americanos aprendeu a dirigir em um Modelo T.

Além de baratear seus produtos, Henry Ford teve outra sacada brilhante: em 1914, passou a oferecer um salário de US$ 5 por hora para os seus funcionários, mais que o dobro do que recebiam até então. Com isso, ele não só melhorou o desempenho deles, como assou a atrair mão de obra qualificada – afinal, os melhores profissionais passaram a desejar trabalhar na Ford – e ainda criou uma nova classe de consumidores, que beneficiou todo o país.

Em 1919, Henry Ford decidiu se aposentar e passou o comando da empresa para o seu filho Edsel. Na mesma época, adquiriu, junto com sua esposa, as ações que estavam em poder dos sócios minoritários da fabricante, tornando-se o único proprietário da companhia que, a partir daí, tornou-se verdadeiramente familiar. Em 1943, porém, Edsel morreu em virtude de um câncer, obrigando Henry a voltar ao comando da empresa. Para muitos, porém, a perda do filho foi um golpe do qual ele nunca se recuperou totalmente.

Assim, dois anos depois, Henry Ford enviou uma mensagem ao conselho de diretores da Ford Motor Company, renunciando à presidência. Henry Ford II, filho mais velho de Edsel seria o seu sucessor. Assim, o fundador da empresa deixou, definitivamente, o comando da Ford Motor Company, aos 82 anos.

Apesar da idade, Henry Ford mantinha-se ativo e ocupado. Tanto que, no dia 7 de abril de 1947, ele passou o dia verificando os estragos que uma inundação havia causado em Dearborn, região de Michigan onde ele nasceu e a Ford ergueu sua sede. Devido às enchentes, a residência de Ford estava sem luz, e foi na escuridão que ele morreu na cama, à noite. Uma ironia do destino para quem começou a brilhar profissionalmente em uma empresa de iluminação.
 

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