Pode parecer brincadeira, mas é a mais pura verdade: a Volkswagen do Brasil, que produz Gol, Jetta, up! e outros sucessos de audiência também mantém uma escola de corte e costura, que já formou 160 alunas nos dois últimos anos.
Mas, como lá na Volks o pessoal entende muito de ferramentaria, design, comercialização e outros itens relacionados ao automóvel, passaram a parte que trata de linhas, tesoura e tecidos para a Fundação Volkswagen, que cuida dos assuntos além do automóvel — como projetos socioculturais, proteção ao meio ambiente, apoio ao ensino, entre muitos outros.
Voltando ao projeto Costurando o Futuro, nome da “escola” de corte e costura: ele foi criado para ajudar a comunidade nos locais onde a VW mantém fábricas — por enquanto em São Bernardo do Campo (SP) e São José dos Pinhais (PR). Na primeira, de 160 participantes, 155 tornaram-se microempresárias. Entre essas, cinco montaram a Tecoste Tecido Costura e Arte, que têm clientes como Latam, Porto Seguro, Sesc Interlagos, Secretaria de Turismo de SBC etc.
Sandra Maria Viviani conta que o material usado pelas costureiras vem da Volkswagen. São, no total, 90 produtos, principalmente tecidos de bancos e de uniformes dos operários, que sofrem algum tipo de dano ou desgaste pelo tempo de uso. São aproveitados também cintos de segurança, na produção de mochilas e bolsas — os principais produtos da Tecoste.
A fábrica de camisas Dudalina também fornece retalhos de seus tecidos, que são usados em detalhes de acabamento nas bolsas e necessaires por elas produzidos. A prefeitura de São Bernardo cede a sala onde está instalada a Tecoste.
O material chega, elas fazem a seleção e definem como usar para transformá-los em algo que nada tem a ver com um automóvel. Mas o Costurando o Futuro não ensina apenas a costurar: as alunas têm aulas de administração financeira. Isso para que, como explica o superintendente da fundação, Eduardo Barros, diretor de assuntos jurídicos da VW do Brasil, possam montar e fazer sobreviver seus próprios negócios.
FAMÍLIA UNIDA
As cinco sócias da Tecoste formam uma família, como elas mesmas dizem. Estão sempre juntas, na empresa ou fora dela. Cada uma tem sua história.
Lusinete de Souza Almeida, por exemplo, nunca havia costurado na vida. Trabalhava na administração de uma empresa e hoje é chamada pelas sócias de “rainha do overloque”. Outra que jamais havia costurado antes, Val Vieira foi metalúrgica no ABC, ficou desempregada em 2009 e agora está feliz com o que faz.
Custódia Benevenuto é mineira de Ponte Nova. Trabalhava como diarista, mas uma cirurgia a impediu de continuar fazendo os esforços necessários. Sabia costurar “só um pouquinho” — ao contrário de Maria Gorete de Souza Oliveira, formada professora que, quando pequena, costurava para suas bonecas e para seu irmão menor. Ao perder o emprego numa empresa de eletrônica, a baiana criada em Mato Grosso do Sul inscreveu-se para participar do curso promovido pela Fundação Volkswagen. Foi a primeira vez que sentou diante de uma máquina de costura, ainda mais industrial, como usam na empresa delas.
Todas demonstram alegria por estarem desenvolvendo um trabalho que, além de ajudar no sustento de suas famílias, mostra que elas foram capazes de se renovar, depois de perderem seus empregos. Os seus sorrisos provam isso.