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Veja quem são os 10 supertrunfo do Brasil

Muita gente que viveu a infância entre as décadas de 1980 e 1990 deve se recordar do jogo de cartas Super Trunfo. Com fotos e informações técnicas dos mais diferentes tipos de máquinas, ele divertiu uma geração de jovens ao mesmo tempo que ensinou a potência de uma Ferrari ou a velocidade máxima de um avião caça.   

Na era da internet das coisas, videogames de ponta e smartphones mais poderosos do que computadores, manusear cartas de papel virou coisa do passado, mas o legado do jogo, inspirado em um brinquedo inglês, continua. Simulacros do jogo aparecem de tempos em tempos em ações comerciais e brindes, o que prova a importância que o Super Trunfo teve no Brasil.

O problema é que, no auge do jogo, a indústria automotiva nacional não era exatamente pujante. Ainda que houvesse alguns lançamentos de peso, as fabricantes ainda se adaptavam à recente reabertura das importações. Com isso, um hipotético baralho com os expoentes automóveis brasileiros seria um bocado monótono.

Mas o cenário mudou nos últimos anos, com mais competitividade, benefícios fiscais e produtos globais que enriqueceram a indústria nacional ao ponto que um novo jogo se torna interessante.

Ainda que a indústria de brinquedos não tenha mais tanto interesse em jogos tradicionais, a fartura de “matéria-prima” agora impressiona. Com tantos lançamentos recentes, muita gente pode ter se perdido entre quem é o “mais” em diversas categorias. Por isso, simulamos como seriam algumas das cartas de um eventual jogo baseado exclusivamente nos carros nacionais.  

LIMITE DA FRONTEIRA
Por isso, não espere encontrar Ford Focus ou Toyota Hilux por aqui. Apesar de serem taxados como brasileiros, os automóveis feitos no Mercosul e no México não são nacionais. Mas, mesmo que abríssemos essa brecha, o cenário não mudaria e ainda teríamos o automóvel mais caro.

O recém-nacionalizado BMW X4 bate qualquer outro quando o assunto é preço. Pelo menos, os R$ 299.950 que o crossover montado em Araquari, SC, custa, incluem o pacote completo, já que ele não tem opcionais. Se ele adotasse boa parte dos equipamentos oferecidos na Europa, poderia superar o Range Rover Evoque, o único a oferecer itens como central multimídia com fones de ouvido, sistema de câmera de 360º e tela dual-view. Este último acessório, aliás, permite que o passageiro do Land Rover assista a um filme na mesma tela que exibe o GPS para o motorista, pois um filtro exibe imagens diferentes de acordo com o ângulo de visão. Caso você peça tudo o que é oferecido no Evoque nacional, aliás, terá que pagar a “módica” quantia de R$ 314.176.

Por bem menos, dá para comprar um Audi A3 Sedan 2.0, que também pode receber controlador de cruzeiro adaptativo e estacionamento automático. E ele tem a vantagem de ser bem mais rápido: em nossos testes, o sedã acelerou de 0 a 100 km/h em 6s69, batendo todos os outros modelos nacionais avaliados pela CARRO.

Agora, se você quiser acelerar o carro com motor mais potente do Brasil, a tarefa será mais fácil, já que a GM possui uma das maiores redes de concessionárias no país. Em todas elas dá para encomendar um Trailblazer 3.6 V6, que usa o mesmo motor do antigo Omega, mas mais potente. Seus 279 cv, aliás, superam de longe mesmo os modernos alemães premium montados aqui.

O enorme utilitário fabricado em São José dos Campos, SP, também leva o título de veículo mais pesado, ultrapassando a marca de 2.100 kg. Também pudera: além de ter espaço de sobra, ele não usa tantos materiais e concepções mais novas (e caras) como outros SUV de sete lugares do mercado, que também custam mais.

Ter uma carta da GM aliás, aumenta as chances de vitória na rodada desse jogo de carros nacionais. A picape S10 ganha na categoria Tamanho, enquanto o Onix leva o título de Mais Vendido* – até agosto deste ano. Mas, nesse quesito, o domínio da General Motors poderia ser questionado por algum jogador mais minucioso, desde que se criassem uma nova regra. Se você considerar a versão mais licenciada no Brasil, o Ford Ka 1.0 SE ganha a rodada, seguido pelo Hyundai HB20 1.0 Comfort.  

Uma curiosidade é que, apesar de quase todos os quesitos envolverem os melhores carros, houve retrocesso em outras categorias.

Já tivemos, por exemplo, um modelo bem menor no comprimento que o Fiat Mobi. Os 3,19 m do Gurgel Supermini dariam a ele o título O Mais Curto veículo, em vez do Fiat, 37,6 cm maior.

A picape Chevrolet Silverado também era mais pesada que o Trailblazer, e o VW Gol já vendeu bem mais que o Onix. Mas a maior perda para quem acha que tamanho é documento foi o fim das vendas da Ford F-250 Cabine Dupla. A picape de 6,24 m de comprimento era tão grande que exigia motoristas com habilitação de categoria C (para caminhões), no mínimo.

O que não vai deixar saudade era a “sede” dos carros do passado. Além de não haver motores flex há cerca de 20 anos, os números de consumo daquela época fariam a média de 16,3 km/litro do Peugeot 208 1.2 imaginável apenas em modelos superfuturistas.

Só que, agora, um carro consideravelmente acessível como o mesmo 208 1.2 é capaz de entregar tamanha eficiência. E o hatch oriundo de Porto Real, RJ, não está sozinho. Nesse jogo, quem tiver um up!, Fiesta EcoBoost ou Golf 1.0 tem chance de levar a rodada.

TESOUROS NACIONAIS
Não será dessa vez que poderemos jogar com automóveis fabricados no Brasil. Mas, como no jogo de cartas original, o “Super Trunfo de carros nacionais” seria uma ótima ideia para mostrar para muitos entusiastas (e não só os jovens) o quanto a indústria nacional evoluiu.

Os mais críticos vão pontuar, com razão, que muitos desses carros não são exatamente nacionais. Além de boa parte das peças de maior valor agregado serem importadas, todos eles são produzidos por empresas estrangeiras.

Mas isso não tira o mérito de o Brasil ser um dos únicos países a fabricar o Range Rover Evoque, por exemplo. Só a matriz na Inglaterra e a filial na China montam o SUV, além da unidade brasileira. E as regras do Inovar-Auto exigem que, gradualmente, as fabricantes ampliem os processos produtivos em nosso país. A fábrica da BMW, por exemplo, recebia carrocerias prontas e pintadas do exterior, mas desde o ano passado passou a montar e a soldar a carroceria dos seis carros que produz em Santa Catarina.

Para o nosso baralho ficar ainda melhor, só quando finalmente o Brasil passar a fabricar componentes mais complexos, como câmbio automático, modelos híbridos e elétricos e sistemas avançados de condução semiautônoma.

As fabricantes também podem ajudar a enriquecer as nossas cartas se deixarem de subtrair itens dos modelos nacionalizados. O Golf perdeu o câmbio de dupla embreagem, o Evoque não possui mais o controlador de velocidade adaptativo, o Duster não tem ESC nem como opcional e a Honda sequer cogitou oferecer o sistema de frenagem autônoma no Civic produzido por aqui.

A vantagem é que, com o avanço da tecnologia, fica cada vez mais fácil comparar os carros nacionais com aqueles oferecidos em outros mercados. E agora nem precisa de um jogo de cartas para isso.

*Matéria originalmente publicada na edição 276 (outubro) da revista CARRO. Em novembro, o Chevrolet Onix fechou o mês com 15.700 emplacamentos, totalizando 134.941 unidades vendidas no acumulado dos 11 meses de 2016. 

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