No final do Salão do Automóvel sempre ocorre um “buzinaço” para marcar o fim da festa. Neste ano não foi diferente, e, além das buzinas, muitos esportivos roncaram alto com seus potentes motores, como foi o caso do Ford Mustang e do Chevrolet Camaro, que levaram o público ao delírio!
Na Mercedes-Benz, um animado DJ coreografava a última música do estande, com o público acompanhando e dançando freneticamente. Onde estava o Brasil da crise? Lembrei-me da música “A banda” de Chico Buarque: “A minha gente sofrida, despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor”. Era o momento de ser feliz, de aproveitar um evento de primeira.
Pensei: “De quantos buzinaços já participei?”. Por curiosidade, fui procurar pela nossa primeira cobertura do Salão, em outubro de 1994.
Veja as distorções causadas pela demanda exagerada dos carros dito populares, que já são 55% do mercado [nota atual: depois essa proporção chegaria a mais de 80%]. De uma forma ou de outra, os importados abocanharam 11% do mercado. Vale lembrar, no entanto, que desses 11% os filiados da Anfavea (Volkswagen, Ford, General Motors, Fiat e Volvo) já respondem por 6,5% [nota atual: hoje a Anfavea tem 16 grupos filiados, com mais de 21 marcas]. O Brasil está no up-to-date com o mundo automobilístico”.
Esse editorial tem 22 anos. O Salão do Automóvel celebrava lançamentos como o Chevrolet Corsa, a nova motorização do Omega, o VW Gol GTI, os Ford Mondeo, Fiesta e Ranger, os Fiat Tipo 1.6, 2.0 e 16V, a ousadia do Audi A8 de alumínio e o renovado Mitsubishi Eclipse, entre outros.
A edição 2016 do evento mostrou um mercado de veículos em recessão, fechando o ano em torno de 2 milhões de unidades vendidas. Mas a festa do Salão revelou que não podemos desanimar: havia 26 marcas de automóveis expondo, sendo que a grande maioria produz no Brasil.
Para se ter ideia da grandiosidade, foram expostos 540 veículos, com cerca de 150 lançamentos. Houve mais de R$ 400 milhões de investimentos na construção e na modernização do espaço São Paulo Expo, com área de 90.000 m² coberta e mais 20.000 m² descoberta, onde foram realizados vários test-drives.
Houve algum congestionamento, mas não vi ninguém reclamando da falta de estacionamento: foram 4.500 vagas cobertas e outras 28.000 no entorno do espaço.
Finalizado o evento, cujo slogan foi “Nada será como antes”, ninguém sabe ainda se o mercado vai reagir, se o consumidor terá condições financeiras e, principalmente, confiança para voltar a comprar. Mas entre buzinas e roncos de motor, ouvi um som que vinha diretamente do coração das pessoas – visitantes ou expositores: era o som da esperança, de que o Brasil é maior do que todas as crises.
Já temos muito para nos orgulhar, pois, mesmo com a situação atual, estamos entre os dez maiores mercados do mundo. Uma vitrine desse tamanho, que foi o Salão de São Paulo, só mostrou toda a nossa força e competência.
Que venha o buzinaço de 2018!