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Ninja ZX-6R 636

Kawasaki Ninja ZX-6R 636

 

A balada dos últimos Supertestes estava focada em motos “utilizáveis” nas ruas e estradas. Nas últimas três edições viajamos com uma confortável Harley-Davidson Softail Deluxe, depois foi a vez da Kawasaki Ninja 300 e na última edição a Suzuki DL 650 V-Strom.

Quando afirmamos motos “utilizáveis”, queremos dizer que são motos confortáveis, que não chamam atenção da gatunagem e nem oferecem problemas com os milhares de radares espalhados pelas estradas. Planejar um Superteste com uma moto superesportiva sempre é tenso.

A posição de pilotagem não é das mais indicadas e o risco de levarmos multas por excesso de velocidade é eminente. E ainda temos de considerar o desafio que é trafegar dentro da cidade sem chamar muita atenção. Praticamente impossível com uma Ninja verde e de macacão de couro com detalhes em branco.

Se fosse apenas os admiradores do estilo, menos mal, mas no caso da capital paulistana, esse contraste pode chamar atenção de um invejoso, rebelde, fortemente armado que tenta ganhar a vida com facilidade, ou seja, ladrão mesmo. Sempre ficamos com o pé atrás antes de realizarmos um teste como esse, mas com a nova Kawasaki Ninja ZX-6R 636 foi muito mais tranquilo do que esperávamos. Saímos em uma manhã fria de outono e resolvi, por via das dúvidas, vestir uma jaqueta por cima do macacão de couro.

Foi vital nos primeiros 150 km. Na descida para o litoral, as oito horas da manhã, os termômetros marcavam 12°C. Como o primeiro trecho do nosso roteiro é quase sem curvas e praticamente não fazemos uma frenagem sequer, busquei, como sempre, ser o mais econômico possível.

Foi quando percebi que a nova 636 também conta com a indicação “ECO” no painel, assim como suas irmãs ER-6n, Concours 14, Versys 1000 e Ninja 300. Essa indicação aparece dependendo da posição do acelerador e do giro do motor, e serve para você saber quando a Ninja está economizando combustível.Equipamento curioso e surpreendente para uma moto esportiva, que gira a 14 mil rpm e foi concebida para fazer suscesso dentro das pistas.

É possível a 120 km/h, em sexta marcha, manter a indicação acesa, e nesse ritmo ela faz 17 km/litro. Como o tanque de gasolina tem capacidade para 17 litros, poder percorrer quase 300 km com uma superesportiva é de tirar o chapeú. As costas? Por incrível que pareça, apesar do estilo racing, quando estamos a 120 km/h não necessitamos ficar escondidos atrás da bolha e portanto as costas não ficam curvadas.

A única ressalva fica por conta dos joelhos muito dobrados por causa das pedaleiras altas e bem recuadas. Todavia, a 636 se apresentou mais confortável que a antiga ZX-6R. Segundo a fábrica, a posição de pilotagem não foi muito alterada, mas como ela está com mais torque em baixas rotaçãos e com um sistema de embreagem sobretudo mais leve, ao menos os braços e as mãos não trabalham tanto quanto era preciso com a última versão.

Outro grande diferencial desta nova versão, fica por conta do controle de tração, das opções de mapas de gerenciamento eletrônico e do ABS. Mas confessamos que na estrada somente o ABS foi valorizado. Especialmente quando choveu na subida da serra de Campos de Jordão. Já haviamos marcado uma seção dentro do circuito de Interlagos (confira pág. 88), para percebermos como trabalham esses novos sistemas.Uma 600 cm³ com opção de ficar mais fraca ou com controle de tração ainda não é uma solução essencial na estrada. Especialmente considerando que os novos pneus Bridgestone S20 são verdadeiros chicletes quando aquecidos.

Nas infinitas curvas da famosa estrada Rio-Santos, BR-101, a Ninja 636 mostrou-se bem equilibrada, mais neutra que a antiga versão de 599 cm³ e uma verdadeira máquina de fazer curvas. Leve e fácil, a 636 ganhou nova suspensão dianteira, com tubos de amortecimento ainda melhores que os anteriores. Continuam sendo Showa BPF (Big Piston Fork), mas agora também são SFF (Separate Function Fork), onde a pré-carga da mola é feita na bengala esquerda, enquanto que o retorno e a compressão são regulados na bengala direita.

Não há uma grande mola interna do lado direito. A cor dos tubos também mudou, agora são dourados, deixando a 636 ainda mais parecida com a ZX-10R.  Na prática essa alteração deixou o amortecimento mais progressivo e sensivelmente mais macio. Bom para ruas e estradas. Com o remodelado sistema de admissão de ar entre os faróis e os 36 cm³ a mais, obtidos por pistões de maior curso, a 636 nitidamente respira melhor e, consequentemente, responde com mais eficiência ao comando do acelerador.

Apesar de o conta-giros permanecer com números próximos até os 6 000 rpm e mais separados até os longínquos 15 000 rpm, a 636 é bem mais esperta em baixas rotações que a sua antecessora. Portanto, se ela está mais macia e com melhor resposta do acelerador, ela está mais gostosa e confortável para viajar. Alguns fãs de ZX-6R reclamaram que a 636 não vem com amortecedor de direção, porém em 1 000 km na estrada e também na pista, como vocês terão a oportunidade de conferir nas próximas páginas, este acessório não fez falta nenhuma.

No segundo dia de teste, saímos em uma gélida manhã de Campos do Jordão, SP, com destino a Monteiro Lobato, SP, pela rodovia SP 050, conhecida como a antiga serra de Campos. Fazia frio, mas com o dia ensolarado e o asfalto seco, chegava o momento de testar os freios e retomadas. Isso acontece sem exageros, mais de um milhão de vezes e é nessa tocada que os valores da 636 aparecem.

Por não ser uma estúpida superbike de 1 000 cm³, sempre temos confiança de acelerar cedo na saída de curvas, mas são os freio poderosos e a incrível estabilidade mesmo nas freadas mais bruscas que chama a atenção. A 636 está com novas pinças monobloco Nissin e com um sistema de embreagem antiblocante mais evoluído. Isso tudo, somado às novas suspensões e aos reforços estruturais na balança traseira, faz a nova Ninja entrar em curvas com muita precisão. Ao menos em velocidades regulamentadas e em uma estradinha de mão de dupla, ela provou ser leve e fácil. Não exigiu esforço do piloto e foi possível colocar a roda dianteira onde desejávamos, mesmo em inversões de curvas rápidas. O mapa de injeção sempre esteve no “F” de Full e o controle de tração no 1, que é o menos atuante. Nesse ritmo ela marcou 14,5 km/litro.

Um fato curioso que chamou atenção antes de pilotarmos a novidade foi a impossibilidade de desativarmos o sistema ABS, porém, como ele foi desenvolvido para uso em pista e ou no molhado, ao menos na estrada seca, ele não atrapalhou em nada, aliás, nem sequer foi percebido quando entrou em ação, se é que entrou. Em alfalto seco, com os excelentes pneus Bridgestone que tem, é muito difícil o sistema trabalhar. Mas não é que choveu. Na Rodovia Dom Pedro, quase chegando em Santa Bárbara d’ Oeste, SP, a chuva fina deixou a aderência do asfalto em estado de atenção. Sem problemas, bastou cortar o acelerador e pressionar o botão do sistema KTRC para passar o controle de tração para a posição 3. Fizemos também o experimento de escolher a posição “L” (Low) do gerenciamento eletrônico e então a Ninja ZX-6R com apenas 80% da potência quase se transformou em uma Ninja 300.

Exagero, é claro, pois a 636 tem 131 cv e, por mais que ela fique mais fraca, não chega a ser tanto quanto os 39 cv da 300 cm³. O que realmente percebemos, é a demora para as rotações subirem e obvimente a segurança para acelerarmos sem medo, mesmo levemente inclinado. Ao entrar no piso molhado e liso de um posto de gasolina, resolvi frear forte para sentir melhor o sistema ABS trabalhando, e, além de as rodas não travarem, o pedal não empurrou o meu pé para cima nem o manete vibrou. Excelente!

Esquecendo das pedaleiras altas e recuadas, a Ninja 636 ganhou tempero touring. Continua não sendo recomendada para levar acompanhante e bagagens, mas é possível viajar sem sofrimento e com muita diversão sem abrir mão da segurança. Desde que o piloto esteja bem equipado e o asfalto seja de boa qualidade, quanto mais curvas mais divertido será o passeio. Não cansamos de declarar em outras ocasiões, que as atuais maxitrail com rodas de 17 polegadas fazem curvas quase como uma superesportiva. Mas existe uma grande diferença entre fazer curvas exatamente como uma superesportiva ou quase como uma superesportiva. No caso da ZX-6R 636, o quase é uma enorme distância e uma maxitrail ou gran turismo, apesar de fazer curvas muito bem, ainda estão muito longe de entrar, percorrer e sair de curvas exatamente da mesma maneira que uma superesportiva.

A Kawasaki Ninja de exatos 636 cm³ e apenas 194 kg em ordem de marcha (na versão ABS), é uma máquina de fazer curvas. É daquelas mais modernas que existem, já que além da eficiência não consome energia, no caso, a do piloto. Com tantos recursos eletrônicos e muito mais equipada que a antiga versão, a Kawasaki Brasil não conseguiu fazer mágica no preço. Ela custa R$ 49 990 na versão standard e R$ 52 990 na versão com ABS. Entre as principais concorrentes, precisa abrir os olhos com a Triumph, que acabou de colocar no mercado a Daytona 675R, que vem equipada com suspensões Öhlins de primeira linha, ABS e custa R$ 48 690.

Em 4 palavrasCidade: não foi desenvolvida para uso urbano. É até possível, pela leveza e certa economia, mas é muito dinheiro para gastar dessa maneira. O que ela gosta mesmo é de estradas e autódromos.

Estrada: obviamente que mesmo depois do desenvolvimento para que ela ficasse melhor na estrada, ela ainda é uma superesportiva. Não ganha 5 estrelas porque as pedaleiras são muito altas e recuadas.

Consumo: em se tratando de uma moto que gira 14 500 rpm e ultrapassa os 250 km/h, fazer 17 km/litro a 120 km/h é surpreendente. Uma indicação “ECO” no painel é inédita para uma moto dessa categoria.

Emoção: por mais que o conforto não seja extremo, viajar com uma superesportiva sempre é emocionante. Ela acelera mais do que 99% de todos os veículos que encontramos na viagem. Nas curvas então…

Conclusão: 8,4

Yoshihiro Masuda é o responsável pelo projeto da nova Kawasaki ZX-6R 636. Na apresentção oficial à imprensa, ele deixou claro que a intenção desta nova ZX-6R é agradar um maior número de usuários, agregando a ela qualidades que facilitam a vida do piloto na estrada. De fato, ele conseguiu e ainda fez isso sem que ela perdesse o excelente caráter esportivo, para quando, se necessário, o piloto queira encarar um circuito. Curioso, pois quando ela deixou de ter essa mesma capacidade cúbica em 2006, a explicação era o fato de ela não poder competir junto com as 600 na categoria Superesport. Agora, a intenção é outra. O foco da Kawasaki, para melhorar o volume de vendas da ZX-6R, está na estrada e não nas competições. Preço R$ 52.990

Ficha técnica

Motor Tetracilíndrico, 4T, arrefecido a líquido, DOHC, injeção eletrônica; Embreagem multidisco em óleo, 6 marchas manuais; Transmissão por corrente; Cilindrada 636 cm³; Potência máxima declarada 131 cv a 13.500 rpm; Torque máximo declarado 7,2 kgf.m a 11.500 rpm; Suspensão dianteira Gargo telescópico invertido; Suspensão traseira Monoamortecedor; Freio dianteiro dois discos de 310 mm; Freio traseiro discos de 220 mm.

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