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Na trilha certa

Jeep Renegade

Na época da recuperação judicial do grupo Chrysler e de suas marcas, o governo americano exigiu um plano detalhando os próximos passos da empresa para sair da crise e, dessa forma, receber uma ajuda financeira para não quebrar de vez. Pelo menos no que dizia respeito à Jeep, um produto inédito se destacou: um SUV compacto que não deixasse de lado a aptidão para o off-road.

Os anos se passaram, a Fiat por fim concluiu a aquisição da Chrysler e, finalmente, chegou a hora de conhecer o tal novo “jipinho”, exibido pela primeira vez no Salão de Genebra.

O nome Renegade (renegado, em uma tradução livre) pode não parecer o mais adequado, mas tem importância histórica por já ter sido usado em outros modelos da marca. E por falar em importância, o futuro SUV poderá representar um marco na história da marca, começando pela localização da sua primeira linha de montagem.

Inicialmente ele será produzido em uma fábrica da Fiat em Melfi, na Itália, e de lá sairá para os principais países (incluindo os EUA), o que, certamente, não deve ter agradado aos americanos mais tradicionalistas, assim como ao poderoso sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística americana. Além da Itália, Brasil (em 2015) e China (em 2016) terão linhas de montagem prontas para dar vida ao Renegade. Por aqui, será na nova fábrica da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) em Goiana, PE.

Além disso, o Renegade é o primeiro esforço do grupo ítalo-americano em tornar a marca Jeep global, tanto é que ele será comercializado em mais de 100 países, nos cinco continentes.

Um detalhe ainda mais importante para os brasileiros é que, conforme antecipamos em nossa edição de fevereiro, além do Renegade, sairão de Goiana uma picape e uma minivan, provavelmente oriundos de projetos da Chrysler. Vamos acompanhar de perto.

O fato é que a aquisição da Chrysler pela Fiat está rendendo bons frutos, e o Renegade é um ótimo exemplo. Enquanto a Jeep entrou no projeto com a sua experiência com veículos 4×4, a Fiat fornece seus eficientes e modernos motores dotados de tecnologia MultiAir.

Com certeza, a tarefa de agradar a consumidores nos quatro cantos do planeta e com gostos tão distintos não será fácil, e, sabedora disso, a Jeep manterá a sua identidade no seu futuro carro-chefe, começando pelo visual.

Como não poderia ser diferente, ele exibe a tradicional grade dianteira com sete fendas e carroceria com estilo mais próximo ao do Wrangler, o modelo mais extremo, em termos de capacidade fora-de-estrada, da marca.

E nesse assunto, o Renegade não faz feio. Com 22 cm de altura livre do solo, ele se destaca dos rivais pelas soluções de tração. O sistema Jeep Active Drive (tração permanente) conta com a função Low, que multiplica o torque e simula uma reduzida.

Além disso, pensando na economia de combustível, o Renegade será o primeiro modelo da categoria a contar com um sistema que desacopla o eixo traseiro da caixa de transferência, algo até então, visto apenas em modelos mais caros. Segundo a Jeep, o Renegade não só estreará essa solução entre os modelos compactos, como acrescenta que, quando a tração nas quatro rodas volta a ser necessária, o conjunto será ativado automaticamente.

Outro recurso interessante que faz parte dos modelos equipados com tração integral é o Jeep Select Terrain. Semelhante ao Terrain Response da Land Rover, ele conta com cinco modos de atuação para conferir ao Renegade a melhor aderência possível de acordo com o uso. São eles: Auto (automático), Snow (neve), Sand (areia), Mud (Lama) e Rock (pedra), o último disponível somente na versão Trailhawk, focada no uso off-road.

Além do modo Rock, o Renegade Trailhawk tem a altura da carroceria elevada em 2 cm, para-choques exclusivos com ângulo de ataque de 30,5° e saída de 34,3°, placas protetoras e ganchos dianteiros e traseiros para reboque na cor vermelha. É a configuração para quem pretende utilizar o Renegade nas trilhas, tanto que leva o selo Trail Rated 4×4 da marca.

Se você não precisa de tudo isso e não está interessado em tantos recursos, fique tranquilo, pois o Jeep Renegade também terá opções 4×2 com tração dianteira. Contudo, a Jeep deixa claro que uma das premissas do novo modelo é conciliar “proporções urbanas que transmitissem o visual robusto da marca com a maior capacidade off-road da categoria”, algo que só poderemos confirmar depois do lançamento por aqui.

Ainda no campo dos ineditismos, o Renegade será o primeiro modelo da Jeep a contar com amortecedores de frequência seletiva fornecidos pela holandesa Koni. Ele ajuda a conferir ao SUV melhor aderência e dirigibilidade, resta saber se será mantido no Renegade nacional.

No que diz respeito à segurança, a Jeep antecipa que o Renegade terá 7 airbags de série, além de controle de estabilidade com mitigação de rolagem da carroceria, recurso interessante em um SUV. Completam o pacote o aviso de colisão dianteira, alerta de saída de faixa de rodagem (LaneSense), monitor de pontos cegos, sensor de estacionamento traseiro (ParkSense) e câmera de ré (ParkView).

Já que estamos falando de equipamentos, vamos partir para o interior do Renegade, baseado na “linguagem Tek-Tonic”, como classifica a Jeep.

Em nosso primeiro contato com o modelo, durante o Salão de Genebra, ele agradou. Sem falhas aparentes e com plásticos de bom aspecto visual, ele segue o padrão encontrado nos modelos mais recentes da marca.

Pensando em conquistar o público mais jovem, a cabine traz alguns elementos de acabamento anodizado e com cores chamativas, como vermelho e laranja. Segundo a Jeep, alguns elementos em “x”, como o visto nas lanternas, fazem parte do “look Tek-Tonic”. Um detalhe interessante fica com a alça de segurança logo à frente do passageiro dianteiro, herdada do Wrangler. Outro diferencial é o interessante teto solar My Sky.

Como você pode ver na foto no alto desta página, o My Sky é um teto solar bipartido composto por dois painéis. A retirada pode ser feita de forma manual (basta guardar as peças no porta-malas) ou elétrica, dependendo da versão, sendo que neste caso, ele acrescenta as funções de deslizamento e inclinação. É um equipamento que deverá fazer sucesso.

Baseado na nova plataforma 4×4 small-wide, a Jeep destaca que o projeto do Renegade contou com amplo uso de tipos avançados de aço, resinas compostas e de novas simulações de impactos em computador para buscar mais segurança e rigidez torcional elevada.

A novidade da Jeep também contará com 16 combinações entre motores e transmissões. Na gama de propulsores, serão cinco a gasolina (1.6 E.torQ, 1.4 MultiAir2, 1.4 MultiAir Turbo, 1.4 MultiAir2 Turbo e o 2.4 Tigershark) e dois a diesel (1.6 MultiJet II e 2.0 MultiJet II). Eles podem trabalhar em conjunto com os câmbios manual de 5 ou 6 marchas, automático de 9 marchas (novidade para o segmento), além de uma caixa robotizada de dupla embreagem com 6 velocidades.

Segundo as fichas técnicas preliminares do Renegade distribuídas pela Jeep, serão oferecidos na América Latina todos os motores a gasolina citados, com destaque para o 1.6 E.torQ, disponível em vários carros da Fiat no Brasil e que entrega até 117 cv com etanol. Os propulsores a diesel, contudo, deverão ficar limitados a alguns mercados da Europa, África e Ásia.

Também de acordo com os dados técnicos, teoricamente todos os câmbios podem ser oferecidos por aqui. Porém, assim como ocorre com os motores, tudo vai depender das configurações que a fabricante planeja para o Renegade brasileiro. Uma informação importante, contudo, é que a fábrica da FPT (Fiat Powertrain Technologies) em Campo Largo, PR, será utilizada para nacionalizar alguns componentes. A caixa de dupla embreagem, conforme apuramos, está nesses planos.

Com 4,23 m de comprimento, 1,80 m de largura e 1,68 m de altura, o Renegade tem dimensões próximas às do Ford EcoSport (4,24 m, 1,76 m e 1,69 m, respectivamente), o que não é de se estranhar, uma vez que o Ford ainda é a referência no segmento, tanto é  que a marca passou a comercializá-lo também na Europa.

Se mantivermos o paralelo com o EcoSport, quando a produção e a venda do Renegade começarem por aqui — o que está previsto para ocorrer já no primeiro semestre de 2015 — é bem possível que seu preço inicie ao redor de R$ 65.000, o equivalente a um EcoSport FreeStyle 1.6. Já as versões com tração integral devem ficar por volta de R$ 70.000,  sendo que as opções topo de linha não devem ir muito além de R$ 80.000.

Ele pode não contar com o logo da Fiat no capô, mas finalmente a fabricante italiana realizará, mesmo que de forma indireta, seu sonho de possuir um SUV em território nacional. Bem preparada para encarar a briga em uma categoria que ficará extremamente competitiva, a FCA tem um ótimo produto nas mãos. Vamos ver se ele será capaz de superar seus rivais quando conseguirmos reunir todos os modelos em um comparativo. A batalha já está agendada e ocorrerá dentro de um ano.

Jeep Renegade 1.6 E.torq (Europa)

Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, gasolina; Cilindrada 1.598 cm³ ; Potência 110 cv a 5.500 rpm; Torque 15,5 mkgf a 4.500 rpm; Câmbio manual, 5 marchas; Tração dianteira; Suspensão dianteira McPherson; Suspensão traseira McPherson com subchassi; Comprimento 4,23 m; Largura 1,80 m; Altura 1,68 m; Entre-eixos 2,57 m; Portamalas 523 litros.

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