Com três motores elétricos somados a um V8 biturbo debaixo do capô, a nova Ferrari SF90 Stradale chega a 1.000 cv de potência
Anos atrás, a tradicionalíssima Ferrari relutava até mesmo em colocar turbocompressor em seus motores. Tanto que seu fundador Enzo Ferrari ameaçou seriamente deixar a Fórmula 1 nos anos 80, em plena “Era Turbo”, se a categoria não permitisse em regulamento a volta dos clássicos V12 de aspiração natural.
Mais de 30 anos depois, Enzo ficaria orgulhoso do novo hiperesportivo de sua marca, mas certamente teria que quebrar alguns paradigmas pessoais para apreciar o resultado final.
O Ferrari SF90 Stradale é o veículo de rua mais potente a sair de Maranello. Seu trem de força é formado por quatro motores, sendo que o motor a combustão, sozinho, já seria o V8 mais potente em um Ferrari que pode ser legalmente emplacado. Este V8 4.0 biturbo gera 779 cv de potência, uma evolução do motor que está no Ferrari 488 Pista e, futuramente, no F8 Tributo. Com a ajuda de outros três motores elétricos que somados produzem 221 cv, o trem de força chega a exatos 1.000 cv de potência máxima a 8.000 rpm– 47 cv a mais que o antecessor LaFerrari, ex-recordista de potência da casa.
Os motores elétricos estão posicionados dois no eixo dianteiro e um no eixo traseiro, sendo que os posicionados na dianteira trabalham a vetorização de torque independentemente um do outro, o que segundo a fabricante favorece pilotagens mais vigorosas. Isso significa também que a tração é integral, configuração pela primeira vez presente em Ferrari de motor central.
E para quem achou que não viveria para ver modelos da Ferrari sendo carregados na rede elétrica, eis o futuro. O SF90 Stradale é um híbrido plug-in com motores elétricos alimentados por bateria de íons de lítio de 7,9 kWh e tem a opção de condução totalmente elétrica – esse modo, curiosamente, faz o SF90 ser o primeiro Ferrari da história a rodar com tração apenas na dianteira. A autonomia é de 25 km quando 100% movido a eletricidade e a velocidade máxima, de “apenas” 135 km/h.
Outro ponto curioso: o câmbio de dupla embreagem tem 8 marchas à frente, mas não possui marcha à ré. Isso faz com que ele seja 10 kg mais leve que o câmbio de 7 marchas usado no LaFerrari. Quem faz o papel da ré são, de novo, os dois motores elétricos dianteiros, que giram no sentido inverso quando requerido. É o mesmo princípio usado no Honda NSX, este também um esportivo híbrido com 3 motores elétricos.
Semelhanças com as pistas
Com 1.570 kg de peso, o SF90 Stradale é 13 kg mais leve que o LaFerrari. Ao mesmo tempo, a fabricante afirma que o chassi de fibra de carbono e alumínio no novo esportivo possui rigidez torcional 40% maior. No interior (ou seria cockpit?), o painel de instrumentos domina tudo à frente do motorista, formado por uma tela digital curva de 16 polegadas que abriga também os recursos de navegação.
O volante multifuncional com uma infinidade de funções é claramente inspirado nos volantes de Fórmula 1. E esta não é a única semelhança do SF90 com os bólidos que Sebastian Vettel e Charles Leclerc pilotam aos finais de semana. Não só o SF90 Stradale é o mais potente Ferrari de rua como também é o mais rápido: atinge velocidade máxima de 340 km/h e acelera de zero a 100 km/h em meros 2s5 – esta, uma marca muito parecida com a de um Fórmula 1 no regulamento atual.
A Ferrari ainda alega que seu novo esportivo topo de linha representa um novo marco em aerodinâmica para veículos de rua. Graças a elementos móveis e a própria concepção da carroceria para aumentar o efeito-solo, os números da fabricante apontam que, a 250 km/h, o SF90 Stradale produz 390 kg de downforce. Chamá-lo de “F-1 para as ruas”, com esses números, é mais que uma mera figura de linguagem.