Acompanhamos um dia de trabalho na oficina Repair Cs em SBC
texto Vitor Lima fotos Arquivo O Mecânico
No intuito de parabenizar e enaltecer a profissão de mecânica automotiva, a Revista Carro visitou uma oficina para acompanhar um dia de trabalho.
Nossa visita foi na oficina Repair Car Service, localizada na região do Taboão, em São Bernardo do Campo (SP). O proprietário da Repair, Cleyton André, já participou de alguns vídeos no canal da revista O Mecânico no Youtube, como o Raio-X da BMW M2, Jeep Compass, entre outros. Também esteve no Congresso Brasileiro do Mecânico como palestrante e dividiu sua experiência como empreendedor sempre em busca de conhecimento.
Longa experiência e pouca idade
Cleyton começou em uma oficina mecânica aos 13 anos de idade, hoje com 28 anos, o profissional já acumula 15 anos de experiência na área. No início, o profissional executava serviços de limpeza de peças, organização do ambiente e auxiliando os mecânicos na oficina, até adquirir experiência e conhecimento para começar a realizar intervenções no veículo. Enquanto isso buscava conhecimento técnico e iniciava as primeiras intervenções parciais com a ajuda dos mecânicos mais experientes.
Quando completou 20 anos de idade, Cleyton resolveu sair da região nordeste do país, e vir para o sudeste, em São Paulo para estudar e fazer mais cursos voltados a área de manutenção. Trabalhou em algumas empresas nas quais pode desenvolver conhecimento com injeção eletrônica, tecnologias dos veículos e manutenções.
A oficina Repair Car Service foi inaugurada em agosto de 2022. Cleyton comenta que a Repair é a realização de um sonho. “Desde os meus 13 anos, esse desejo de ter uma oficina foi sendo criado em meu coração. Tanto que, desde essa época eu invisto em ferramentas. A maioria das ferramentas foram adquiridas por mim quando não tinha oficina. Ao longo do tempo, eu fui criando amor, de fato, por essa profissão. Entendo que a minha empresa e, também eu, como profissional, temos a responsabilidade de mudar diretamente ou indiretamente esse setor, seja na parte de qualidade, nas exigências, nos direitos…”
Ao iniciar nossa visita, logo após abrir as portas da oficina Cleyton recebeu o primeiro cliente do dia, um Ford Ka. Depois de colher as informações e diagnóstico foram feitas algumas verificações em emitida a ordem de serviço e entregue à proprietária do veículo.
Checagens básicas foram feitas antes mesmo da entrega da ordem de serviço ao cliente, como por exemplo, checagem dos faróis, arranhões pelo carro, acendimento das setas, além do funcionamento do sistema de ar-condicionado e outros itens.
Nesse momento também é importante verificar que no atendimento ao cliente não é só o recebimento do veículo, ouvir o que o cliente relata de problema com o carro, mas sim, conversar com o proprietário do carro, entender o tipo de utilização do veículo, se usa apenas para trabalhar, se tem longas distâncias nesse percurso, se são distâncias curtas. Isso pode afetar alguns componentes caso não consiga atingir a temperatura ideal de trabalho, se o uso é urbano, se é rodoviário ou misto e qual a proporção de uso.
Entender esse tipo de coisa com o cliente não é algo dispensável. Muitas vezes alguma avaria que pode ocorrer com o veículo decorrente da utilização em que é feita por parte do condutor ou das pessoas em que fazem uso do veículo. Um exemplo são os veículos que rodam predominantemente em trajetos urbanos. A depender das condições em que as vias urbanas se encontram, há mais possibilidades de que o condutor passe por um número de buracos e imperfeições, o que pode acarretar um desgaste acelerado de alguns componentes, como por exemplo pneus, itens que compõem o sistema de suspensão como coxim, bandejas de suspensão e amortecedores, embreagem entre outros.
O amortecedor e conjuntos de suspensão são bem exigidos na cidade ou ainda mais dependendo de onde o carro roda. Porém em carros que rodam predominantemente em trajetos rodoviários o perfil é outro.
Ferramenta e conhecimento
É importante lembrar ao mecânico que, independentemente do tipo de via em que o veículo é utilizado o diagnóstico prévio e o contato com o cliente é fundamental para que seja feito um serviço de maneira correta e que a manutenção do veículo fique em dia e não acarrete retrabalho na sua oficina.
Cleyton André informa que, muitos mecânicos não começam com uma grande estrutura, o que normalmente o investimento em ferramentas ocorre aos poucos. Com base nisso, o mecânico deu sua opinião do que pode ser feito para evitar o retrabalho nas oficinas. “A melhor e, maior ferramenta que nós temos dentro da oficina mecânica, sem dúvidas, é o conhecimento. Com ele, você faz muito com pouco. Óbvio que sempre for possível evoluir em questão de equipamentos e ferramentas, é uma peça-chave. Porém, o conhecimento é o principal fator. Isso traz a possibilidade de validar problemas sem a necessidade de trocar peças na base do achismo. Estudar é muito importante para conseguir precisão no diagnóstico e, posteriormente, na indicação do problema para o cliente. Isso é benéfico tanto para nós mecânicos, que ganhamos credibilidade, quanto para o cliente que evita gastos desnecessários com peças que não precisariam ser substituídas”.
A partir do momento em que você faz o atendimento ao cliente, entende o serviço em que é necessário ser feito e, informa o diagnóstico a esse cliente, como atuar para trabalhar no veículo?
Após a tomada de decisão, verificar se as ferramentas que serão impostas no veículo são de extrema importância. A depender do diagnóstico e do que for verificado no veículo, pode existir a necessidade de ferramentas especiais. Mas para uma oficina em que está em seus primeiros passos, e pretende receber os primeiros veículos, o investimento em ferramentas básicas é fundamental.
Considerando que o conhecimento já está sendo adquirido por parte do mecânico que deseja abrir a sua própria oficina, o profissional deu algumas dicas para quem deseja empreender neste ramo. “Eu diria que para nós sermos bons técnicos, é interessante o estudo em gestão também seja efetuado. Quando abrimos uma oficina, não é apenas um local para consertar carros, você abriu uma empresa, necessitando pensar como um empresário, lidando com pessoas, realizar a gestão delas, processos financeiros. A gestão do negócio é um fator principal”.
Além disso, o mecânico também comentou sobre as ferramentas necessárias para abrir uma oficina. “Pode-se começar o investimento em ferramentas manuais. São aquelas que de fato irão gerar a sua receita inicial, como exemplo as chaves combinadas, fixas, estrela, elas que irão possibilitar de fato o início do trabalho em coisas simples.
Partindo para mais investimentos, sem sombra de dúvidas é o elevador. Ele é um equipamento imprescindível para uma oficina mecânica. É possível realizar procedimentos com o veículo no solo, porém, o elevador aumenta muito a produtividade no cotidiano da oficina, abrindo margem para aumentar a receita da empresa, o que ocasiona na possibilidade de poder investir em mais e novos equipamentos”.
Outro ponto de alerta do mecânico é referente aos equipamentos de diagnóstico ou scanners, em caso de sua oficina atender veículos multimarcas, como é o caso da Repair Car Service. “Nós lidamos com defeitos diversos e marcas diversas, então algumas marcas de equipamento serão mais benéficas para algumas marcas, modelos e outras marcas serão para outros. Normalmente tem a necessidade de um ou mais scanners para trabalhar. A ideia não é por medo, mas não espere ter quatro scanners, dois elevadores para começar, apenas comece. Porém, é fato que, na medida do possível em que você vai crescendo o investimento nas ferramentas vão acelerar os processos de diagnóstico dentro da sua oficina”.
Diagnóstico
Além de receber novos veículos durante o dia para diagnóstico e verificações, a oficina já contava com outros veículos em processo de diagnóstico e reparo. Vamos listar alguns desses carros com seus respectivos sintomas diagnósticos feitos no local.
Volkswagen Golf GTI
Com um diagnóstico um pouco mais extenso, Cleyton informa que há problemas no sistema de arrefecimento do veículo, pois, a temperatura está elevada e após alguns testes, há possibilidade de o problema ser a bomba d’água. “O problema é de aquecimento. O carro eleva a temperatura e tudo está indicando que o possível problema é com a bomba d’água, a falta de circulação do fluido, apresentando o código P00B7. Estamos em processo de mais verificações, mas acreditamos que o componente está com problemas”.
Acompanhamos um pouco de limpeza do sistema de arrefecimento, com um equipamento dedicado. Ao deixar o veículo em funcionamento, seja em marcha lenta, ou com uma rotação um pouco maior, mas constante, o Golf continuou a demonstrar problemas de aquecimento.
Durante o processo, foi notado que havia um pouco de óleo lubrificante no sistema. Cleyton, inclusive, mostrou ao cliente por meio de um vídeo sobre o ocorrido, além de explicar a possível fonte do problema, onde o óleo se mistura com o líquido de arrefecimento. A suspeita é uma junta do cavalete do filtro esteja permitindo a passagem do óleo lubrificante para o líquido de arrefecimento.
Volkswagen UP!
Foram relatados problemas com a injeção e a embreagem do veículo. Os diagnósticos com os dois sistemas ocorreram ao longo do dia. Para a injeção, conseguimos acompanhar o começo das verificações. Foi utilizado o scanner para auxiliar nas falhas que o veículo apresentava. Em relação ao sistema de embreagem, como o mesmo estava com problemas, a solução será a substituição do kit de embreagem.
Volkswagen Polo
Veiculo da casa, nas palavras do Cleyton, o Polo estava de passagem na oficina para uma revisão. “Vamos realizar uma revisão normal, além da troca de óleo, e os filtros, sempre apresentamos a proposta de realizar um check-up geral para o cliente que, geralmente, traz o seu veículo aqui na oficina semestralmente”, informa o mecânico.
Renault Captur
Ano/modelo 19/20, Cleyton comenta que o Renault Captur em sua oficina apresenta barulhos durante o esterçamento e quando está em movimento. “O diagnóstico já foi efetuado e constatou-se que há problema com o coxim superior da transmissão. Passaremos a causa e os devidos orçamentos ao cliente e, caso seja aprovado, temos trabalho a realizar com esse carro”.
Ford Ka
Como mencionado anteriormente, acompanhamos a chegada do Ford Ka na oficina Repair CS. Cleyton André teve um longo bate-papo com o cliente, para entender os sintomas apresentados e toda situação descrita pelo cliente. “O Cliente acabou de adquirir este veículo que está apresentando de falhas na combustão. O proprietário nos informou que a luz de injeção acende e, constantemente, é feito visitas em oficinas para verificação do problema. A falha é intermitente, ou seja, não aparece a luz no painel com uma certa frequência, o sintoma só aparece quando a luz acende”.
Durante o período em que acompanhamos o diagnóstico do veículo, não havia luz acessa no painel, então foram realizados testes com base no código de falha apresentado via scanner e, outros testes para validar se o que havia sido informado ao cliente pela loja. De fato, a falha de motor estava ocorrendo e foi constatado que o problema é mecânico com má vedação da válvula de escapamento do primeiro cilindro.
“Realizamos análise eletrônica, porém, não foi possível encontrar algo plausível para identificação da falha. Desta maneira, partimos para o diagnóstico mecânico. Foi realizado o teste de compressão nos três cilindros, o que permitiu descobrir que o primeiro cilindro apresentava 50 psi a menos do que os demais, além da perca de vazão do cilindro um por meio da válvula de escapamento, detectado com manômetro nos testes de vazão”, conclui Cleyton.
Ford Ka Sedan
Com o mesmo motor 1.5 Dragon que tem a correia de sincronismo embebida em óleo, o Ford Ka Sedan teve problemas com a correia. “Nós passamos a realizar as manutenções desse veículo a partir dos 50 mil km. Agora, com 60 mil km rodados, infelizmente a correia de sincronismo apresentou problemas. Os dentes da correia saíram todos do lugar, mas não houve rompimento da correia”, informa Cleyton.
Há detritos da correia pelo motor, o que ocasionou a interrupção de seu funcionamento. Durante as análises, o mecânico menciona que, possivelmente não ocorreu o atropelamento das válvulas de admissão e nem de exaustão, o que poderia acarretar a quebra das válvulas, buraco no pistão e a torção na biela. Cleyton André aproveita o tema das correias embebidas em óleo e faz uma recomendação sobre o período para manutenção. “Para os Chevrolet Onix, que tem essa tecnologia, o Peugeot com o motor Puretech, e até os modelos de Ford Ka 3 cilindros com esse sistema Belt in Oil, indico para que os clientes reduzam o tempo da troca de óleo do motor. Se a recomendação do fabricante em manual é de 10 mil km, antecipem essa manutenção pela metade, principalmente se o veículo passa por uso severo”.