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Carro-foguete promete recorde de 1.600 km/h

Dirigir além da barreira do som. Loucura ou ciência? Existe apenas um homem no mundo que pode explicar a sensação de estar em um carro a mais de 1.200 km/h cruzando uma pista no deserto com um tanque de 1.000 litros de peróxido de hidrogênio (combustível altamente explosivo) atrás de si.

Há 18 anos, o britânico Andy Green ganhou fama em todo o mundo ao conduzir o Thrust SSC — primeiro e até agora único — veículo no planeta a romper a barreira do som (1.226 km/h). Agora, o objetivo de Green é atingir 1.609 km/h e superar a marca de 1.000 milhas por hora (o equivalente a 1.600 km/h)!

A ideia é que em até dois anos o Bloodhound SSC (sigla de Supersonic Car) percorra a pista de 20 km de extensão no deserto Hakskeenpan, na África do Sul, impulsionado pelo motor de 135.000 cv e estabeleça o novo recorde.

“Existem muitos detalhes para serem controlados”, explica Green. “Tenho de conferir quando acionar a propulsão a jato, a pós-combustão, ficar atento à estabilidade, saber quando devo acionar os freios… a concentração tem de ser total”, conta o piloto. Além disso, não se pode esquecer que um carro recordista é completamente diferente de um confortável sedã ou outro automóvel de passeio. 

RÁPIDO, MAS SEM CONFORTO
“A cabine é incrivelmente barulhenta, apertada e quente”, afirma o piloto. “É um trabalho duro, mas é o meu trabalho, que faz parte de um esforço conjunto”. Para quem não acompanha o dia a dia dos envolvidos no projeto, o discurso de Green pode parecer apenas propaganda. Mas basta verificar a rotina dos funcionários no galpão para confirmar que a lida é mesmo árdua.

Apesar disso, se existe alguém que se mantém aparentemente impassível em meio a toda a correria, essa pessoa é Andy Green. Afinal, como ex-piloto de caça, ele foi treinado para manter suas emoções sempre sob controle. Há quem diga, até, que o treinamento psicológico na Força Aérea Real Britânica utiliza princípios de lavagem cerebral para permitir que seus pilotos mantenham a concentração, mesmo sob intensa pressão. Seja como for, para quem pretende estabelecer o novo recorde de velocidade em solo, toda essa frieza é mais do que bem-vinda.

Durante a montagem do Bloodhound, aliás, um fato quase chegou a tirar Green do sério. Houve quem suspeitasse de que o projeto não passaria de uma grande aventura, somente com a finalidade de arrecadar dinheiro. “Após todos esses anos de treinamento como piloto, posso dizer com a consciência limpa que sim, eu conheço meus limites e minhas fraquezas. Sei o que é enfrentar o poder da força g e tenho conhecimento técnico suficiente para discutir com os engenheiros em igualdade”, conta.

O que acontece quando a marca das 1.000 milhas por hora é atingida? O piloto sorri, mas prefere sair pela tangente: “O projeto Bloodhound é, provavelmente, o último desse tipo. Afinal, o que se pode desejar atingir após a marca de 1.000 milhas por hora? O dobro? Não só é improvável, como chega a parecer ridículo. É o mesmo que imaginar que eu estaria à frente desse novo empreendimento. Afinal, com 53 anos, já estou no limite da minha carreira”, explica. 

Mas e quanto ao carro? Qual é a importância de um veículo de altíssima velocidade para o planeta? “Na verdade, ninguém precisa construir um carro supersônico”, reconhece Green. “Trata-se mais de um feito da Ciência, algo que será lembrado na história da tecnologia, uma coisa que, espero, incentive e inspire as gerações que estão por vir”, explica o piloto. 

COMO É A MÁQUINA
O Bloodhound SSC é um foguete sobre rodas com 13,5 m de comprimento e que precisa de apenas 2s2 para rodar um quilômetro. Ele pesa quase 8.000 kg, mas apenas o combustível representa uma tonelada. Um motor Jaguar V8 atua como bomba de combustível para o propulsor a jato Rolls-Royce, com 135.000 cv e, de acordo com os cálculos, a aceleração de 0 a 1.600 km/h será feita em 55s. 

Quando estiver em velocidade plena, as rodas de alumínio maciço (não existem pneus capazes de suportar essa velocidade) estarão girando a 10.200 rpm. A aerodinâmica merece atenção especial: para manter o equilíbrio perfeito, o Blood­hound terá de manter a distância constante em relação ao solo, sem variar um milímetro sequer. Essa tarefa ficará a cargo de diversos computadores e sensores a bordo. “Então eu poderei manter o foco completamente na condução”, explica Andy Green. 

Os planos são ambiciosos, mas o projeto parece estar caminhando na direção certa. Mas para saber se vai dar certo, só resta aguardar.

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