Você costuma verificar se o preço – ou a prestação – do automóvel cabe no seu bolso e ainda dá de ombros para os gastos com manutenção? No máximo, faz as contas de quanto deve gastar por semana com gasolina e estacionamento? Não é a atitude mais correta, mas não se culpe. Muita gente (para não dizer a maioria) age da mesma forma. Saiba, porém, que ter um automóvel na garagem significa levar em conta muitos outros fatores, como peças de reposição, lavagem e seguro.
Faltam no Brasil estudos sistemáticos sobre os gastos que envolvem o carro, tanto para rodar no dia a dia como para a sua manutenção. Algumas planilhas são feitas por empresas que lidam com grandes frotas. No mais, uma das poucas iniciativas é da agência AutoInforme, que calcula mensalmente desde 2001 (e publica desde 2004) a inflação do carro. Os dados coletados são surpreendentes. Para começar, os itens que menos pesam para manter o automóvel são os impostos e as peças de reposição.
Segundo levantamento de abril, os donos de carro gastaram, em média, R$ 45,65 com impostos (4,13% do custo total) e R$ 187,35 com peças (16,94%). No extremo oposto estão combustível (R$ 344,89, com 31,18% do total), serviços (R$ 293,87, ou seja 26,5%) e seguros (R$ 234,45, o que corresponde a 21,19%). “O combustível é o item que tem a maior variação de preço, especialmente por causa do etanol, que sobe na entressafra”, diz Joel Leite, diretor da agência AutoInforme. Estão na cesta de produtos todos os itens que o motorista usa para andar de carro e fazer a manutenção preventiva, exceto peças de lataria e estruturais, consideradas no valor do seguro.
“O resto tem uma evolução normal, a não ser o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), cujo gasto do motorista é acumulado nos três primeiros meses do ano. No entanto, para efeito de cálculo da inflação do carro, diluímos o valor do imposto ao longo dos 12 meses”, afirma. Joel conta que isso é feito porque não é em todas as cidades que o vencimento ocorre no início do ano e, além disso, paga-se o IPVA quando se compra o carro, a qualquer tempo.
Troca preventiva gera economia
Desprezar os custos para manter o carro não é uma boa ideia, pois pode faltar dinheiro no final do mês. Ignorar a manutenção preventiva é pior ainda, uma vez que corrigir um problema costuma sair mais caro, além da possibilidade de causar situações desagradáveis e até inseguras, como ficar com o carro parado em um lugar ermo. “A melhor forma de economizar sem negligenciar a manutenção é justamente não negligenciando a manutenção. A troca preventiva de itens garante economia, pois se a peça quebrar o gasto é muito maior”, ensina o diretor da AutoInfome.
Levando-se em conta que a inflação do carro é feita com base em veículos pequenos (a maior fatia do mercado), o problema não é nada desprezível. “Se o proprietário considerar as despesas, terá de planejar um gasto superior a R$ 1.000 por mês, no mínimo. Esse valor geralmente é maior do que a própria prestação do financiamento”, observa Joel Leite. Em geral, os meses em que o carro é mais dispendioso são os do primeiro trimestre, quando vencem IPVA e Dpvat (o chamado seguro obrigatório). Assim, para quem tem dinheiro na mão vale mais a pena pagar o IPVA à vista.
O que mais aumentou no primeiro trimestre
Mais de R$ 1.000 vão embora sem você perceber
Levantamento do primeiro trimestre de 2014 feito pela agência Autoinforme indica que o dono de um modelo 1.0 gastou R$ 1.101,51 por mês na sua manutenção. No pacote estão incluídos todos os custos que o motorista tem para andar de carro. Mas nem tudo é rombo no orçamento. Afinal, peças e serviços automotivos registraram alta bem abaixo da média.
Enquanto a inflação do carro subiu 2,7% e o IPC da Fipe, 2,2%, as peças de reposição tiveram um aumento de 0,7% no primeiro trimestre do ano. No mesmo período, os serviços caíram 0,9%. O grande vilão de janeiro a março foi o etanol, que subiu 10,8% no período. A gasolina teve alta de 1,6%.
Segundo a AutoInforme, o custo para fazer a troca de peças e os serviços foram “razoáveis”. Nenhum dos itens referentes a peças e serviços que o motorista usa para andar e fazer a manutenção teve aumento acima da inflação no primeiro trimestre. O que mais subiu foi o óleo do motor, com alta de 1,71%. Somente mais quatro itens tiveram aumentos acima de 1% no período: amortecedor (1,01%), alinhamento de direção (1,39%), estacionamento mensal e lavagem simples (os dois com 1,04%). Apenas a bateria registrou queda de preço, de 0,96%.
Bandeira 1
- Se você acha que andar de táxi custa os olhos da cara, saiba que pode sair mais barato do que manter um carro 1.0. O economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez as contas e sentenciou: quem tem um carro de R$ 30.000 e roda, no máximo, 16 km por dia desembolsaria menos se só andasse de táxi.
- Quem roda até 15 km por dia gasta com seu carro R$ 17.920 por ano. Na mesma hipótese, o táxi sai por R$ 16.882. A partir de 17 km por dia o carro leva vantagem, pois gasta R$ 18.079, contra R$ 18.729 do táxi.
- Além dos gastos de manutenção, o economista considera duas outras variáveis: a depreciação do veículo e quanto o proprietário deixa de receber uma vez que o dinheiro não está em uma aplicação financeira.