Texto Gustavo de Sá 

Fotos Renan Senra

Volkswagen Polo e Toyota Yaris são hatches com soluções mecânicas diferentes em busca do mesmo consumidor. Qual deles convence mais?

Muito especulou-se na imprensa sobre a chegada do atual Polo ao Brasil com o nome de Gol. Mais do que a análise de custos para fabricá-lo em uma nova plataforma, a Volkswagen percebeu que havia um degrau relevante de preços entre os hatches compactos mais simples e os médios – defasado, o Fox já não dava mais conta do recado nas versões de topo. Os rumores não se confirmaram e a marca optou pelo batismo de Polo para ocupar esse espaço, mesma estratégia utilizada pela Fiat com o igualmente inédito Argo. No ano passado, foi a vez de a Toyota apostar em mais um competidor no mercado, com a estreia do Yaris.

Decidimos alinhar os hatches de Volkswagen e Toyota para um comparativo entre as versões intermediárias, na casa dos R$ 75 mil. O Yaris chegou ao Brasil em junho de 2018, mas é da geração lançada em 2013 na Ásia e que recebeu retoques visuais naquele continente em 2017. Essa versão difere do modelo de mesmo nome oferecido na Europa e no Japão, mais refinado. O Polo, por sua vez, está na sexta geração global (a segunda de fabricação nacional), e é construído na base MQB, a mesma estrutura que serve a diferentes modelos da marca.

Nas medidas externas, o Yaris vence o Polo em comprimento (4.145 mm x 4.057 mm) e altura (1.490 x 1.468), mas fica para trás em largura (1.730 x 1.751) e na distância entre eixos (2.550 x 2.565). O espaço interno também é mais generoso no Toyota, especialmente no banco traseiro, graças ao piso plano do assoalho. O tamanho do porta-malas ainda é ligeiramente maior no hatch produzido em Sorocaba (SP), com 310 litros – ante 300l no Volkswagen.

Como é comum entre as fabricantes de origem japonesa, o Yaris não possui opcionais. Embora o carro das fotos seja um exemplar da versão XLS (R$ 81.990), toda a avaliação considera a versão intermediária XS (R$ 75.890) com pintura metálica adicional (R$ 1.150). Já o Polo considerado é da configuração Comfortline (R$ 70.480).

Para igualá-los em preço e equipamentos, é preciso acrescentar opcionalmente ao Volkswagen o pacote Kit Tech II (R$ 3.195), que acrescenta chave presencial, botão de partida do motor, retrovisor eletrocrômico, sensores crepuscular e de chuva, ar-condicionado digital, câmera de ré, detector de fadiga do motorista e indicador de baixa pressão dos pneus, entre outros.

Completo como o carro das fotos, que trazia rodas de liga leve de 16 polegadas (R$ 1.265), o Volkswagen vai a R$ 76.510. Ambos vêm de série com assistente de saída em rampas, controles de estabilidade e tração, cintos de segurança de três pontos e encostos de cabeça para todos os ocupantes, engates Isofix para cadeiras infantis e banco traseiro com encosto rebatível e bipartido.

Exclusivos do Polo são os sensores de estacionamento na dianteira e traseira, airbags laterais de tórax e cabeça (quatro bolsas de ar ao todo), três entradas USB (ante apenas uma do rival) e saídas de ar-condicionado para o banco traseiro. Já o Toyota é o único a trazer retrovisores externos com rebatimento elétrico, bancos em couro sintético, faróis com ajuste elétrico de altura e luzes traseiras de neblina.

Ausências sentidas no Polo são as de maçaneta ou botão externo de abertura da tampa do porta-malas e de alças de segurança no teto da cabine – curiosamente, o oponente traz o item até no lado do motorista. Já o Yaris deve o marcador de temperatura do líquido de arrefecimento do motor e o sistema que aciona brevemente o indicador de mudança de direção com um leve toque na haste esquerda.

O acabamento do Yaris agrada pela melhor escolha de materiais, com plástico com costuras que imitam couro no painel e cobertura dos trilhos dos bancos – no rival, as partes metálicas ficam aparentes. O Polo também decepciona pelo aspecto simples dos materiais do painel e portas, que estão muito mais próximos do Gol que do Golf. No Yaris, teto e colunas sempre escurecidos diminuem a sensação de espaço. Encontrar a melhor posição de guiar é mais fácil no hatch compacto construído na plataforma MQB, graças ao banco mais próximo ao assoalho e às regulagens de altura e distância do volante – no oponente, só está disponível o ajuste de altura.

Se ganha em refino na cabine, o Toyota perde para o Volkswagen quando o assunto é conectividade. Apesar de estar um passo à frente do equipamento presente no Corolla e na Hilux, a central multimídia com tela de 7 pol. do Yaris XS ainda decepciona pela lentidão nas respostas ao toque na tela. Além disso, não há compatibilidade com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto – só é possível fazer o espelhamento de celulares por meio da tecnologia SDL, com menor compatibilidade com aplicativos de navegação.

Já o aparelho do Polo Comfortline traz tela de 6,5 pol. e possui integração com smartphones Apple e Android – desta forma, o suporte de celular no alto do painel torna-se dispensável. Rápida, a central responde melhor aos comandos e permite a configuração de diversos parâmetros do carro, como desativação do controle de tração e histórico de consumo, entre outros. No Yaris, estes dados estão disponíveis na tela do computador de bordo no quadro de instrumentos, que traz interessantes gráficos que mostram os gastos com combustível em reais (R$).

Aspirado x turbo

Motor Polo

Na mecânica, Toyota e Volkswagen partiram para caminhos distintos. O Yaris traz motor 1.5 flex com 110 cv e torque máximo de 14,9 kgfm (com etanol). O câmbio é automático do tipo continuamente variável (CVT), com simulação de sete marchas. Já o Polo traz sob o capô o 1.0 TSI de 128 cv e 20,4 kgfm. Nele, a caixa é automática convencional (epiíclica), de seis marchas.

Com melhores relações peso-potência e peso-torque, o Polo deixou o Yaris para trás nas provas de desempenho. Ele acelerou de zero a 100 km/h em 9s8, ante 11s do rival. O Volkswagen também foi melhor nas retomadas, mas com menor vantagem. Na passagem de 40 a 100 km/h, por exemplo, foram 7s5 do hatch da marca de origem alemã, ante 8s1 do modelo nipo-brasileiro.

Motor Yaris

Mesmo andando à frente do oponente, o Polo bebeu menos graças ao motor sobrealimentado e de menor cilindrada. Na cidade, foram 8,7 km/l de etanol, ante 7,5 km/l do Yaris. No percurso rodoviário, o 1.0 TSI registrou 12,7 km/l, ante 11,9 km/l do 1.5. O tanque de combustível de modestos 45 litros contribui para menor autonomia do Toyota.

Nas provas de frenagem, mais uma vez o Volkswagen garantiu melhores marcas. Vindo a 100 km/h, o Polo percorreu 37,4 metros até estancar por completo – o rival parou exatos 3 metros depois. Único da dupla com freios a disco também na traseira, o Volkswagen resistiu melhor à prova que avalia o superaquecimento dos freios.

Os acertos de suspensão de ambos são distintos. O do Yaris é mais voltado ao conforto, enquanto o Polo tem ajuste mais firme. Na cidade, ambos filtram bem as imperfeições do asfalto, mas em curvas na estrada a carroceria do Toyota apresenta maior rolagem. A dupla utiliza o tradicional conjunto McPherson, na dianteira, e por eixo de torção, na traseira.

A calibração do câmbio CVT do Toyota merece elogios, com simulação de marchas artificiais bem definida mesmo em Drive. No Polo, a unidade cedida para teste apresentou alguns trancos nas trocas de marcha, especialmente nas passagens de segunda para terceira (e vice-versa). O Volkswagen também mostrou sensibilidade acentuada do efeito “creeping” (quando o carro começa a mover-se sozinho com o câmbio engatado e o freio liberado) com o motor ainda frio, o que exige mais cuidado em manobras de estacionamento.

Na análise de custos após a compra, a disputa é equilibrada. As três primeiras revisões do Yaris têm preço sugerido de R$ 1.186, enquanto a Volkswagen cobra R$ 1.322 no mesmo período (em ambos, a garantia é de três anos e as manutenções programadas são a cada 12 meses ou 10 mil quilômetros). Já na cotação de seguro para o perfil padrão da CARRO (homem casado, 40 anos, que reside na zona sul de São Paulo, possui garagem com portão e utiliza o carro para lazer), o Polo conseguiu o menor valor da apólice, com R$ 3.060, ante R$ 3.357 do oponente.

Graças à eficiência do conjunto mecânico, o Polo garantiu boa vantagem na análise técnica, com 221,5 pontos (ante 201 do Yaris). O Toyota até tentou equilibrar o jogo nas notas de mercado (veja tabela completa nas próximas páginas), com três pontos de diferença para o rival. Mas não foi o suficiente para tirar do Polo o título de vencedor do embate pelo melhor custo-benefício.

Veja a tabela de teste com os números de pista do comparativo Volkswagen Polo Comfortline x Toyota Yaris XS:

 

Share This