Texto: Rafael Poci Dea 

Fotos: Renan Senra

O VW Virtus 1.6 MSI ganhou recentemente a opção de câmbio automático e já o colocamos frente a frente com o rival Fiat Cronos Precision 1.8 AT. Qual deles é o melhor?

Os sedãs já foram muito tradicionais em nosso mercado até serem ofuscados pelos utilitários esportivos. Mesmo que, atualmente, não sejam mais tão “queridinhos”, eles continuam a ter compradores. Em meio aos três volumes, dois novatos deste segmento querem tirar o brilho dos veteranos Chevrolet Prisma, Renault Logan, Nissan Versa e cia, além de roubar os holofotes de outro estreante, o Toyota Yaris sedã: são eles o Fiat Cronos e o Volkswagen Virtus.

Neste duelo entre Fiat e VW, para saber qual deles proporciona mais por menos, o Cronos entrega cinco versões, com motores 1.3 ou 1.8, assim como câmbios manual, automatizado GSR (sigla para Gear Smart Ride) ou automático com conversor de torque e seis marchas. Os preços do carro da Fiat fi cam posicionados entre R$ 55.990 e R$ 69.990. Do outro lado, o Virtus tem configuração 1.6 MSI (manual ou automática), que inicia em R$ 61.390, enquanto o motor com turbocompressor está presente tanto na Comfortline 200TSI (a partir de R$ 74.680) quanto na topo de linha Highline 200TSI (R$ 79.990), ambas sempre automáticas. Ao contrário do Polo, o Virtus não é oferecido com motor “mil”.

A maior novidade do Virtus está na chegada da caixa automática, cuja aplicação foi estendida ao Polo. Uma dose extra de conforto, que também serviu para diminuir a lacuna de preço entre as versões. Na ponta do lápis, o topo de linha Cronos Precision 1.8 AT custa R$ 69.990, enquanto o Virtus 1.6 MSI AT sai por R$ 66.525.

Apesar da diferença, o Cronos entrega um motor mais potente, bem como equipamentos de série cobrados opcionalmente no rival. Completo, o Virtus 1.6 MSI salta para R$ 72.701 e fica próximo da Comfortline 200TSI de R$ 74.680, com o já citado eficiente motor 1.0 com turbo.

Entre os itens do Cronos, estão os controles eletrônicos de estabilidade e tração, sensor de estacionamento traseiro, faróis de neblina, assistente de partida em rampas e multimídia dotado de tela tátil de 7” com Android Auto e Apple Car-Play. Dois itens indisponíveis no VW e presentes no Fiat são o monitoramento da pressão dos pneus e o sistema stop-start, que desliga o motor durante breves paradas, como nos semáforos.

Contudo, o Fiat cobra à parte pelos airbags laterais, já encontrados de série no VW. Aliás, o Cronos arrebenta a boca do balão ao romper a barreira dos R$ 80.000 com pintura perolizada e todos os opcionais.

O visual da dianteira do Cronos se diferencia do Argo, principalmente pelo para-choque, capô com dois vincos extras e desenho que termina avançado sobre a grade frontal. Esta também é uma exclusividade do modelo, pois tem as colméias em formato de ondas e pintadas de preto. O destaque está na traseira, com um desenho harmonioso e lanternas horizontais bipartidas, que guardam uma certa semelhança às do Alfa Romeo Giulia. O Virtus ostenta um design fluido com linhas retas e menos vincos. Na dianteira, não há diferenciações para o Polo, enquanto na traseira o destaque está no caimento suave da coluna C e nas lanternas afiladas.

Ou seja, em nada lembra o estilo do antigo Polo Sedan. E também não seria errado dizer que a nova geração do Jetta surfou na mesma onda do design do Virtus, principalmente ao observar a traseira do sedã médio. Construído sobre a base MP-S, uma variação da MP1 do Argo, o Cronos possui 4.364 mm de comprimento e 2.521 mm de entre-eixos (o mesmo do irmão hatch, que foi lançado no Brasil em maio de 2017). Essa última medida coloca o Cronos em pé de igualdade dos rivais Hyundai HB20S (2.500 mm) e Chevrolet Prisma (2.528 mm). Já o Virtus utiliza a moderna plataforma modular MQB-A0 e oferece 4.482 mm e 2.651 mm, respectivamente. Ou seja, no VW a sensação de espaço é melhor. Só para relembrar, o Polo Sedan, lançado em 2002, já como modelo 2003, tinha dimensões de 4.198 mm de comprimento e 2.465 m de entre-eixos.


Apesar da menor amplitude interna, o Cronos tem uma cabine mais refinada. A faixa decorativa no painel se diferencia pela tonalidade vinho, enquanto é prateada no Argo. Por outro lado, os bancos do VW abraçam e seguram melhor o corpo nas curvas. Já ao comparar os porta-malas, o Fiat é superior pelos 525 litros, contra 521 do VW. Como referência, o compartimento de bagagem do Prisma tem 500 litros, o do Versa (460) e o do Yaris Sedã (473).

A magia da propulsão

Como já falamos, o Cronos entrega mais potência devido ao motor 1.8 E.torQ VIS de 139 cv de potência e 19,3 kgfm de torque, quando abastecido com etanol. Ele também está presente na picape Toro Endurance e Freedom, assim como no Argo Precision e HGT. A sigla VIS (Variable Intake System) é atribuída ao coletor de admissão variável, que proporciona uma dose extra de força, principalmente nas baixas rotações. Até 4.000 rpm o ar é enviado para um caminho mais longo até chegar nos cilindros. Desta maneira, favorece o torque.

Motor Fiat Cronos

Acima de 4.000 rpm, uma aleta é acionada fazendo o ar passar por um percurso mais curto para beneficiar a potência. Sob o capô do Virtus está o motor 1.6 MSI da família EA211 de 120 cv (etanol), que é amplamente utilizado na gama VW – como Gol e Voyage automático, Polo e picape Saveiro Cross (cabine estendida ou dupla). Ele também estava presente no Golf 1.6 MSI, que foi descontinuado. Alguns detalhes deste motor estão no bloco construído em alumínio, no duplo comando de válvulas (com variador de fase na admissão) e no coletor de escapamento integrado ao cabeçote.

O Cronos entrega bom torque a partir das baixas rotações e uma condução empolgante fazendo-o embalar sem muito esforço. Isso não acontece no Virtus: devido à potência menor, é preciso solicitar mais do pedal do acelerador, principalmente na estrada – como nos momentos de saída de pedágio e ultrapassagens. Como nem tudo são flores, o Cronos, transmite mais o ruído do motor para dentro da cabine, assim como as mudanças de marchas são acompanhadas de leves trancos. Ambos utilizam uma caixa automática de seis marchas com opção de trocas sequenciais realizadas pelas borboletas atrás do volante ou pela alavanca. Contudo, o funcionamento é mais suave no carro da Volkswagen. O Fiat entrega toques de emoção a mais, enquanto o Virtus é um carro técnico ao volante.

Motor VW Virtus

Em nossos testes no Campo de Provas da ZF, em Limeira/SP, o Cronos precisou de 11s60 saindo da imobilidade até os 100 km/h – o Virtus foi ligeiramente mais lento, com 12s83. Na retomada de 60-120 km/h, o sedã da Fiat levou 10s91 contra 12s10 do VW. O Virtus também foi mais lento na retomada de 80-120 km/h. Ele cravou 8s53 e o Virtus, 8s76, só para comparar.

A direção assistida eletricamente do Cronos é bem leve ao esterço, seja em baixa velocidade ou nas manobras. A do Virtus é mais direta nas respostas. As suspensões do Cronos possuem molas e amortecedores próprios em relação ao Argo, com uma calibração no meio termo entre conforto e esportividade. Destaque para o bom controle da carroceria nas acelerações, nas frenagens e nas curvas. O Virtus também apresenta suspensão com molas e amortecedores específicos em relação ao Polo. O resultado é mais confortável que no Cronos. O conjunto do Virtus trabalha de forma mais silenciosa. Aliás, a versão avaliada do Cronos trazia rodas opcionais de 17” com pneus de medidas 205/45R17, que sacrificam um pouco mais o conforto, enquanto as do Virtus de aro 15” têm pneus 195/65R15.

Ao contrário dos antigos carros da Fiat, o acionamento do pedal do freio é bem progressivo no Cronos e menos “borrachudo” comparado ao do Virtus. Nos ensaios de frenagem de 100-0 km/h quente, o sedã da Fiat precisou de 40,18 m, enquanto o Virtus, 44,21 m.

Outras qualidades do Cronos aparecem na baixa incidência de vento e no tamanho generoso dos retrovisores externos, que cooperam no amplo campo de visão. O Cronos se consagra vencedor deste comparativo ao ser melhor nos quesitos peso-torque, potência específi ca e aceleração, assim como apresenta custo das revisões menor e um compartimento de bagagem mais volumoso em relação ao do concorrente.

> Confira a tabela com os números de teste e notas finais com comparativo:

 

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