Pesquisa inédita aponta os principais problemas do trânsito brasileiro

A Fundación Mapfre divulgou nesta quinta-feira (29) os resultados de uma pesquisa inédita sobre o trânsito brasileiro. Realizada pelo instituto Opinião Informação Estratégica de Brasília, o estudo encomendado pela fundação aponta, entre outros fatores, que a maioria dos brasileiros se sentem inseguros no trânsito, avaliando como 4,6 (em uma escala de 0 a 10) a segurança das vias e estradas brasileiras. A pesquisa ainda aborda quais são os principais gargalos do sistema viário nacional, apontados pelos próprios responsáveis por sua organização.

Ao total, foram 1.419 pessoas entrevistas por todo o país, todas elas acima de 18 anos (sendo 60% habilitadas a dirigir). A amostragem da pesquisa levou em consideração o número da população de cada estado, culminando em 42% dos entrevistados residentes na região sudeste, 27% na nordeste, 15% na sul e 8% na centro-oeste e norte. Além do questionário com a população, foram feitas entrevistas aprofundadas com diversas autoridades de órgãos como Detran, Denatran, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, sindicatos de autoescolas, agentes trânsito e outros gestores públicos. 

O QUE ACHA O BRASILEIRO

Confirmando o que estamos acostumados a ouvir pelo senso comum, a palavra trânsito foi amplamente relacionada com “violência”, “perigo”, “acidente” e “caos” durante as entrevistas. Com avaliações sempre em notas, em escala de 0 a 10, o cinto de segurança foi o fator mais relevante para a segurança no trânsito, segundo os entrevistados. O item recebeu avaliação média de 8,86. A manutenção dos veículos ficou em segundo lugar, com nota 8,63, e os cursos de autoescola com 8,02. Para os entrevistados, o ônibus é o meio de transporte em que mais se sentem seguros para trafegar, com avaliação de 6,07. Automóveis aparecem com nota 5,31, a pé 5,22 e motos 2,95. 

A satisfação com a infraestrutura viária também foi questionada. O quesito sinalização foi o que mais bem avaliado, com nota 4,99. As estradas seguiram com nota 4,66, as vias urbanas com 4,43, ciclovias com 4 e calçadas com 3,48. 

Um dos dados mais significativos extraído da pesquisa é o de que 19% dos entrevistados já se envolveram em um acidente de trânsito em que houve feridos ou mortos. Outros 47% têm algum familiar que já se feriu ou foi morto nesta situação. 

Outra estatística alarmante é que 71% dos entrevistados desconhecem as leis de trânsito, embora 68% garanta que sempre trafega de acordo com a legislação. Quanto ao respeito aos pedestres e ciclistas, 90% afirmam não praticá-lo. Sobre o ABS, agora obrigatório em todos os veículos 0 km no Brasil, 46% não sabe o que é, e do restante que afirmou saber, 16% não conseguiu explicar para que ele serve.

Na opinião de 38% dos entrevistados a educação dos motoristas é o principal fator para melhorar a qualidade do trânsito brasileiro. Outros 34% passaram tal responsabilidade à fiscalização das vias. 

A OPINIÃO DOS GESTORES PÚBLICOS

O estudo apresenta uma análise bastante abrangente da visão de quem opera o sistema de trânsito brasileiro sobre as causas de sua ineficácia. Os principais aspectos lembrados nas entrevistas qualitativas recaíram à responsabilidade do motorista nas ruas. Fatores como imperícia e desatenção ao volante, abuso da velocidade, estress do dia a dia, consumo de álcool, imprudência e falta de educação foram os mais citados. 

Contudo, o setor também admite as falhas do sistema e do governo. A falta de estrutura da vias, fiscalização ineficiente, engenharia de tráfego sem planejamento adequado (e a longo prazo), cursos de formação de condutores incapacitados, falta de penalidades para os pedestres e multas sem o devido impacto nas finanças dos condutores foram alguns pontos abordados nas entrevistas. O conflito entre as várias instâncias autoritárias também foi lembrado pelos entrevistados, enfatizando as disputas políticas como causadores da morosidade das ações dos gestores do trânsito brasileiro. 

O universo que ronda a discussão entre qual é a melhor estratégia para melhorar o trânsito brasileiro entre punir e educar também foi alvo das perguntas da pesquisa. De maneira geral, os instrumentos de punição são vistos como necessários, mas são apenas instrumentos de uma necessária campanha efetiva de educação de trânsito. 

Durante a apresentação dos resultados da pesquisa, inclusive, uma das frases dos entrevistados (que não pôde ter sua identidade revelada) foi usada para exemplificar a principal reivindicação do setor, que defendia a criação de uma política pública de educação para o trânsito, iniciando-se desde a educação infantil até às universidades. Atualmente as campanhas educativas só são transmitidas em oportunidades pontuais, como vésperas de feriados. 

Segundo a diretoria da Fundación Mapfre, o próximo passo da fundação é apresentar estes resultados ao poder público para contribuir com a melhoria do trânsito brasileiro. De acordo com João Pedro Correa, especilista em trânsito e coordenador da pesquisa, “esta é uma oportunidade para se acabar com os ‘achismos’ sobre o trânsito em virtude de se produzir uma análise conclusiva sobre os problemas do sistema e a partir disto incentivar mais campanhas sobre a educação no trânsito e outras medidas de segurança viária”. 

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