As duas principais montadoras chinesas com operações no Brasil chegam juntas, na próxima semana, a um ponto de inflexão crucial em suas trajetórias. Na terça-feira (14), a JAC Motors, que desembarcou no país com o maior estardalhaço entre todas, apresenta à imprensa o SUV médio T6; no mesmo dia, a Chery oferece à crítica um test-drive do Celer, primeiro carro produzido na fábrica da empresa em Jacareí (SP).

JAC e Chery acabam de completar três anos seguidos fora da lista dos 50 modelos mais emplacados no Brasil em um primeiro trimestre, segundo dados da Fenabrave (associação dos distribuidores). É isso mesmo: no acumulado de vendas de carros novos até o final de março, nenhum modelo das duas chinesas aparece entre a meia centena mais popular. Em 2012, Chery QQ e JAC J3 ocupavam, respectivamente, 49º e 50º lugares nessa lista.
 

Chery Celer renovado tem lançamento mantido apesar de greve na fábrica
A situação é incômoda para a Chery, que enfrenta uma greve por tempo indeterminado (até o final da tarde de sexta-feira, 10, a paralisação estava mantida) antes mesmo de começar a distribuir o Celer. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (da central Conlutas) quer, entre outras coisas, a adesão dos funcionários à convenção coletiva dos trabalhadores da região — na General Motors, por exemplo, e sempre segundo o sindicato, o salário inicial de montador é quase o triplo dos R$ 1.200 oferecidos pela Chery.

A montadora se defende dizendo que não é possível ser comparada à GM. A diferença de porte das montadoras justificaria, também, a diferença na remuneração.

Na unidade de Jacareí, que tem capacidade para 25 mil carros por ano/por turno, já estão sendo feitos (em ritmo reduzido) Celer hatch e sedã desde agosto do ano passado, renovados em relação ao modelo que ainda está anunciado no site da Chery por R$ 36.990 e R$ 37.990.

No futuro, será produzido ali o QQ nacional e um SUV — que pode, ou não, ser baseado no Tiggo 5, variação maior do modelo já importado para o Brasil.

Luís Curi, vice-presidente da Chery, já sinalizou o desejo de deter uma fatia de mercado de 3% no médio prazo (talvez 2018). No momento, porém, a chinesa possui 0,29% de participação, com 1.851 carros de passeio e utilitário leves emplacados até o final de março. A conta é simples: precisará multiplicar a si mesma por dez para chegar à meta.
 

Site da Chery faz contagem regressiva para o lançamento do Celer, dia 14
Quanto ao Celer e seu significado para a Chery, um porta-voz da empresa afirmou a CARRO ONLINE: “O lançamento marca nossa nova fase no Brasil. Mesmo enfrentando diversas dificuldades para implementar a fábrica e com a crise no setor automotivo, mantivemos os planos e apresentamos nosso primeiro modelo fabricado aqui”. Segundo o porta-voz, “a Chery acredita na recuperação do mercado brasileiro”.

NO SERENO
O caso da JAC é, talvez, mais complicado — e bastante emblemático das idas e vindas da indústria, do governo e do capital brasileiros. A fábrica da chinesa, na cidade baiana de Camaçari, foi prometida inicialmente para 2014; talvez fique pronta em 2016.

De um início estrondoso em 2010, com inauguração simultânea de revendas e o apresentador Faustão como garoto-propaganda, a JAC se viu abatida em pleno voo pela nova tarifação sobre carros importados, estabelecida em 2012 juntamente com o Inovar-Auto (novo regime automotivo). Hoje, está uma posição atrás da Chery no ranking de emplacamentos: 1.613 unidades até o final de março, que correspondem a 0,25% do mercado.

Sérgio Habib, presidente da JAC no Brasil, outrora eleitor declarado de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de amigo de Jaques Wagner, ex-governador petista da Bahia (atual ministro da Defesa), acabou ficando no sereno ao longo dos dois últimos anos. Pior: viu um concorrente de fama duvidosa, a Lifan, tornar-se a dona do modelo chinês mais vendido no Brasil: o SUV X60.
 

Porte de médio, preço de compacto: é esse o apelo do JAC T6
Agora, redobra a aposta no T6, que tem porte e equipamentos de Hyundai ix35 e preço (R$ 71.990) de Ford EcoSport. “O modelo estreia num momento especial, em que todo o mercado volta as atenções ao segmento de SUVs”, explicou Habib a CARRO ONLINE. “A proposta dele é ótima, pois é um carro de porte médio com preço de compacto, e por isso a tendência é que vá bem nas vendas”.

(É mais ou menos a mesma lógica do sucesso do X60, diga-se.)

A JAC continuará importando uma ampla gama de modelos: J2, J3, J3 Turin, J5, J6, T6 e a van executiva T8. Ela pode usar uma cota de importação baseada em 20% da capacidade da futura fábrica, o que garante a manutenção nas lojas de J2 e os J3. Modelos maiores e mais caros, como o sedã médio J5 e a minivan J6, serão os mais impactados pela prioridade que será quase certamente dada ao T6.

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