Passo dello Selvio é o nome de uma abertura entre montanhas localizada na Itália, e a estrada que cruza esse passo é conhecida por suas 60 curvas que contornam os Alpes Orientais. Trata-se da estrada asfaltada situada na maior altitude daquela região, a 2.757 metros, e avançar por ela exige muito esforço, seja do homem ou de uma máquina.
Talvez seja só coincidência, mas o fato é que a Alfa Romeo também terá uma missão duríssima pela frente com o seu primeiro SUV, o Stelvio. Afinal, além de chegar atrasada ao segmento que mais cresce em todo o mundo nos últimos anos, a fabricante italiana ainda precisa superar a desconfiança de seus apaixonados fãs.
Então, como contentar aficionados e, ao mesmo tempo, atrair novos consumidores com um modelo totalmente novo na história da marca? Manter a filosofia e privilegiar a esportividade ou partir para uma nova receita?
A resposta pode ser nenhuma das alternativas anteriores, apenas construa um bom automóvel. Um modelo como o Stelvio, que não tenta convencer ninguém a ser diferente, mas que surpreende por suas qualidades. Com 4,69 m de comprimento, ele se mostra mais adequado ao uso urbano e deve ter no Audi Q5 e no BMW X3 os seus principais concorrentes.
O banco do motorista é muito confortável e possui diversos ajustes – incluindo apoio lombar. Apesar do motor montado longitudinalmente, o espaço na cabine é mais do que satisfatório. A posição de motorista e passageiro dianteiro é bastante agradável e proporciona excelente visibilidade. Por falar nisso, em relação ao Giulia (com o qual o Stelvio compartilha plataforma), os ocupantes do SUV viajam em posição 19 cm mais alta, o que também facilita o acesso ao carro.
O banco traseiro, em compensação, é apenas razoável e oferece conforto para dois adultos. A parte central estreita e que pode ser rebatida (permitindo a acomodação de objetos mais longos no bagageiro, como esquis, por exemplo) deixa isso claro. O porta-malas, aliás, é amplo e pode ser expandido dobrando-se os bancos, criando uma superfície quase plana. A tampa possui acionamento elétrico opcional.
MATERIAL MAIS RESISTENTE
Outro aspecto no qual o Stelvio agrada é a impressão de qualidade. Além de o material utilizado no acabamento transmitir sensação de qualidade superior, percebe-se que a Alfa teve cuidado redobrado com os detalhes. Desde o plástico com toque macio no painel até o revestimento aveludado no compartimento para moedas sob o volante, tudo contribui para isso.
O item que pode ser alvo de críticas é a central multimídia, que não oferece a mesmo funcionalidade e nem é tão intuitivo quanto os de Audi e BMW, atuais referências no segmento. Faz falta, principalmente, um navegador com informações de trânsito em tempo real, o que é especialmente desejável para um automóvel projetado para circular na maior parte do tempo em trânsito urbano. A Alfa Romeo precisa resolver essa falha. Mas na pista de testes de Balocco, felizmente, não há congestionamentos com que se preocupar.
Em compensação, a pista de testes da Alfa possui muitas curvas e vários tipos de piso, que nos permitiu perceber que o Stelvio com rodas de 20” e pneus de perfil 45 deve sofrer nos trechos com asfalto mais castigado. Mas em asfalto de boa qualidade, a estabilidade se mostrou exemplar, com o carro exibindo ótima comunicação entre o contato das rodas com o piso e o volante.
Rodando em condições normais, o SUV da Alfa possui tração 100% traseira, mas em condições de baixa aderência do piso ou situações específicas, até 50% da potência é transferida para as rodas dianteiras.
Nossa avaliação foi feita com a versão 2.2 turbodiesel de 210 cv, tração integral e câmbio automático de oito marchas. Há outra, com motor a gasolina (também turbo) de 280 cv, que, segundo a fabricante, deverá ser a mais vendida. Independentemente disso, uma coisa é certa: depois de avaliarem o Stelvio, os engenheiros da Alfa desistiram de lançar a versão station do Giulia, pois acreditam que o SUV também atende os consumidores de veículos familiares.
SUV OU ESPORTIVO?
O Stelvio não exibe o comportamento típico dos SUVs de seu porte, embora a unidade avaliada tenha apresentado alguns ruídos de suspensão mais elevados do que o esperado. Em compensação, a carroceria mostrou pouca inclinação, mesmo em curvas mais rápidas. Nessa condição, aliás, o modelo demonstrou a esperada tendência de escapar de traseira que o controle de estabilidade trata de corrigir rapidamente.
O motor turbodiesel agradou pelas respostas rápidas e pela boa entrega de potência e torque desde as rotações mais baixas. Da mesma forma, o câmbio de oito marchas da marca ZF impressionou pelas trocas suaves e precisas. Para quem desejar se sentir “piloto”, o Stelvio oferece borboletas junto ao volante, mas elas têm dimensões exageradas e são fixas (não acompanham o movimento do volante) e estão posicionadas um pouco além do ideal, o que prejudica o acionamento, especialmente em trechos sinuosos.
Outro aspecto que deve ser corrigido no utilitário é a posição da câmera de ré, logo acima da placa. Embora ofereça boa visibilidade em condições normais, a lente suja com muita facilidade, além de ficar exposta à chuva.
Concluindo, o Alfa Romeo Stelvio agrada por não exibir nenhum dos problemas típicos dos modelos similares. A carroceria 22 cm mais alta que a do Giulia não gera instabilidade, mas proporciona melhor visibilidade à frente, o que agrada aos fãs de SUVs. A suspensão é mais dura, mas o carro não chega a ser desconfortável em relação os rivais, enquanto os freios são eficientes e fáceis de ser modulados.
Agora é aguardar pela versão Quadrifoglio, mais esportiva, que terá motor V6 de 510 cv e promete ser ainda mais divertida de dirigir. E olha que estamos falando do SUV “menos SUV” dos últimos tempos!