No final do Salão do Automóvel sempre ocorre um “buzinaço” para marcar o fim da festa. Neste ano não foi diferente, e, além das buzinas, muitos esportivos roncaram alto com seus potentes motores, como foi o caso do Ford Mustang e do Chevrolet Camaro, que levaram o público ao delírio!

Na Mercedes-Benz, um animado DJ coreografava a última música do estande, com o público acompanhando e dançando freneticamente. Onde estava o Brasil da crise? Lembrei-me da música “A banda” de Chico Buarque: “A minha gente sofrida, despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor”. Era o momento de ser feliz, de aproveitar um evento de primeira.

Pensei: “De quantos buzinaços já participei?”. Por curiosidade, fui procurar pela nossa primeira cobertura do Salão, em outubro de 1994.

A coluna está na CARRO #278O editorial já mostrava um mercado em crescimento: “Boom! O mercado de automóveis explodiu, nacionais e importados estão vendendo como nunca. Repare como a oferta de carros cresceu, como os modelos evoluíram, como os importados encostaram no preço dos nacionais [nota atual: a alíquota de importação havia baixado de 35% para 20%, alegria que durou pouco].

Veja as distorções causadas pela demanda exagerada dos carros dito populares, que já são 55% do mercado [nota atual: depois essa proporção chegaria a mais de 80%]. De uma forma ou de outra, os importados abocanharam 11% do mercado. Vale lembrar, no entanto, que desses 11% os filiados da Anfavea (Volkswagen, Ford, General Motors, Fiat e Volvo) já respondem por 6,5% [nota atual: hoje a Anfavea tem 16 grupos filiados, com mais de 21 marcas]. O Brasil está no up-to-date com o mundo automobilístico”.

Esse editorial tem 22 anos. O Salão do Automóvel celebrava lançamentos como o Chevrolet Corsa, a nova motorização do Omega, o VW Gol GTI, os Ford Mondeo, Fiesta e Ranger, os Fiat Tipo 1.6, 2.0 e 16V, a ousadia do Audi A8 de alumínio e o renovado Mitsubishi Eclipse, entre outros.

A edição 2016 do evento mostrou um mercado de veículos em recessão, fechando o ano em torno de 2 milhões de unidades vendidas. Mas a festa do Salão revelou que não podemos desanimar: havia 26 marcas de automóveis expondo, sendo que a grande maioria produz no Brasil.

Para se ter ideia da grandiosidade, foram expostos 540 veículos, com cerca de 150 lançamentos. Houve mais de R$ 400 milhões de investimentos na construção e na modernização do espaço São Paulo Expo, com área de 90.000 m² coberta e mais 20.000 m² descoberta, onde foram realizados vários test-drives.

Houve algum congestionamento, mas não vi ninguém reclamando da falta de estacionamento: foram 4.500 vagas cobertas e outras 28.000 no entorno do espaço.

Público do evento chegou a 715 mil pessoas em plena crise
Finalizado o evento, cujo slogan foi “Nada será como antes”, ninguém sabe ainda se o mercado vai reagir, se o consumidor terá condições financeiras e, principalmente, confiança para voltar a comprar. Mas entre buzinas e roncos de motor, ouvi um som que vinha diretamente do coração das pessoas – visitantes ou expositores: era o som da esperança, de que o Brasil é maior do que todas as crises.

Já temos muito para nos orgulhar, pois, mesmo com a situação atual, estamos entre os dez maiores mercados do mundo. Uma vitrine desse tamanho, que foi o Salão de São Paulo, só mostrou toda a nossa força e competência. 
Que venha o buzinaço de 2018!

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