Muito se discute sobre soluções energéticas que possam ser implementadas em anos futuros, como a célula de hidrogênio. Algumas marcas, entretanto, avançaram mais rapidamente e já oferecem meios de transporte sem danos para o meio-ambiente. O BMW i3 é um destes modelos que trazem o futuro para o nosso presente, totalmente elétrico e que se carrega na tomada, como se fosse um celular sobre quatro rodas.

Encontrei o meu i3 já na garagem de casa, no final da tarde de uma sexta-feira chuvosa. Já tinha passado por um treinamento na própria BMW, dado por Henrique Miranda, gerente de marketing e mobilidade, na garagem da sede do BMW Group Brasil, um edifício supermoderno no bairro do Morumbi, em São Paulo. O i3 estava conectado em um Wallbox, dispositivo exclusivo de recarga rápida, que permite carregar 100% da bateria em três horas. Há 40 pontos semelhantes disponíveis no país.

Henrique me explicou que a carga completa da bateria garante até 160 km de autonomia. Além disso, o i3 também conta com um motor a combustão a gasolina, com 9 litros de capacidade no tanque, que pode aumentar a autonomia para até 300 quilômetros, caso sejam utilizados os recursos de economia como o modo ECO PRO, que limita a velocidade máxima em 90 km/h e gasta menos eletricidade.

Na verdade, a gente precisa ficar de olho no painel do carro, onde um mostrador indica o quanto há de eletricidade estocada, enquanto outro mostrador indica quanto existe de gasolina disponível no pequeno reservatório. Para finalizar, ele explicou que o i3 pode ser carregado em tomadas 110V, necessitando de 16 horas para uma carga completa. Em tomadas 220V a carga leva oito horas. As tomadas precisam ser aterradas por meio do cabo que fica guardado dentro do capô, na frente do veículo.

OK, aqui estou eu olhando para o i3, agora na minha garagem. O painel indica que já foi gasto um quarto da eletricidade. Será que tenho tomada 220V? Caramba, não tenho! Tento carregar no 110V, mas preciso de um adaptador, pois a tomada do i3 tem um formato diferente, maior que a convencional. Qual a solução? Perguntei para o próprio i3, que possui um impressionante sistema de conectividade e serviços. Juro que não vi nada igual em nenhum outro automóvel. Para ter uma ideia, baixei um aplicativo do BMW i3 no meu iPhone, para administrar melhor todos as soluções oferecidas.

Perguntei ao carro onde havia um Wallbox mais próximo. Ele me indicou um supermercado Pão de Açúcar. Perfeito! Enquanto fazia compras, deixei o veículo carregando na eletricidade. Em 30 minutos, já se consegue carga suficiente para rodar 90 km. Tempo suficiente para comprar algumas coisas para o fim de semana. Como na editora havia uma tomada 220V e a minha vizinha Cláudia também tinha uma tomada na casa dela para me emprestar, acabou dando tudo muito certo.

COMO ELE ANDA
Vou passar a sensação de dirigir um i3: de início deu uma certa insegurança o fato de a eletricidade ir acabando e de não haver carregamento por perto. Mas, à medida que fui rodando, ganhei confiança. O pessoal da BMW tinha dito que a média de rodagem mundial diária não passa dos 40 km. Sem dúvida, estou fora dessa média, porque rodo muito. Mas basta se programar.

 

Outra boa sensação é a falta de ruído do motor. A gente aperta o botão da partida e ele passa a funcionar silenciosamente. As vezes até dá uma certa dúvida se está ligado. Não pense que o i3 é uma tartaruga no trânsito. Ao contrário, ele manda muito bem. Ao escolher a forma de dirigir com maior desempenho, ele fica bem espertinho, especialmente na cidade. No teste de pista realizado pela revista Carro, o i3 fez de 0 a 100 km/h em 7s62, o que é excelente para um carro elétrico. Na forma ECO PRO, ele perde potência, mas ganha economia, com sua velocidade máxima limitada em 80 km/h. O seu motor é elétrico, desenvolvido e produzido pela BMW para uso exclusivo no BMW i3, com 170 cv de potência. O carro pesa apenas 1.195 kg.


Eu cheguei a rodar pela cidade sem gastar quase nada da bateria, porque além do ECO PRO também usei bastante outro recurso: os controles da velocidade e frenagem por meio do “One pedal feeling”. Na prática, cada vez que o motorista tira o pé do acelerador, o motor elétrico troca do modo de propulsão para o modo gerador e passa a alimentar a bateria de íons de lítio. Ao mesmo tempo, assim que o pé sai do acelerador, o i3 começa a frenagem. É possível dirigir a maior parte do tempo sem pisar no freio.

Pensando na segurança, as luzes do freio são acionadas mesmo sem o pé estar no pedal. O uso intenso dessa forma de recuperação de energia aumenta a autonomia em 20%. Fiquei orgulhosa quando cheguei em casa, após um congestionamento infernal na cidade, porque ganhei nota máxima na forma de dirigir, com níveis zero de emissões. O i3 mostra em tempo real a forma como você está dirigindo.

Mas a boa sensação de dirigir sem prejudicar o meio-ambiente acabou substituída por uma certa ansiedade, quando decidi fazer uma viagem de aproximadamente 360 km para o litoral (no total). Na ida, tinha ao meu favor a descida da serra, onde poderia tirar o pé do acelerador e ir carregando a bateria. Mas seria suficiente?


Bem, deixei o carro 100% carregado de energia elétrica e também de gasolina. Henrique Miranda me deu novamente uma dica para eu não ficar apreensiva, pois eu iria sozinha, levando apenas a minha gatinha e o meu cão Charlie. Na viagem, quando chegasse à meia carga de eletricidade, deveria recorrer às configurações e acionar o uso da gasolina. Explico: o sistema à gasolina vai abastecendo a bateria e o i3 ganha muito mais autonomia.

RUMO À PRAIA
Vamos lá, encarar a estrada. Nem tinha saído de São Paulo e já havia acabado um quarto da carga. Quando terminei de descer a serra da Rodovia dos Imigrantes, em direção ao litoral norte, já estava com quase meio tanque. Hora de mudar a configuração e acionar o tanque reserva. Deu tudo certo! Fui alternando a posição de dirigir entre a mais potente e a mais econômica, de acordo com a necessidade. Quando precisava de mais potência para ultrapassar, por exemplo, colocava no mais potente. Se era uma reta sem grandes exigências ia no ECO PRO. Você vai aprendendo a como lidar com o carro. Passou a ser uma relação ser humano-máquina como nunca tive antes.

Cheguei no meu destino utilizando apenas meia capacidade da carga e tendo gasto meio tanque dos 9 litros totais de gasolina. A eletricidade nesse local já era 220V, assim não tive nenhuma dificuldade para plugar o i3 e deixar carregando. Na volta, antes de sair para a estrada, parei no posto para abastecer o tanquinho. O frentista ficou encantado, pois nunca tinha visto um veículo tão futurista, segundo ele.


Verdade! O visual do i3 é bem futurista, com rodas enormes de alumínio forjado e pneus de série 155/70 R19, específicos para o i3. O carro chama atenção, com as portas traseiras abrindo invertidas e com materiais de acabamento respeitando a sustentabilidade, como a madeira de reflorestamento que dá acabamento ao painel.

PARA O ALTO, E AVANTE
Bom, hora da verdade: será que o carro subiria a serra e chegaria em São Paulo sem a carga acabar? Mas uma vez utilizei a dica do Henrique Miranda. Quando a carga da bateria chegou na metade, acionei o tanque reserva de combustível. Segui dessa forma até o último posto antes da subida para Sampa, em Cubatão. Abasteci novamente, mas não gastei. Coloquei o i3 funcionando apenas com a energia elétrica da bateria. Ele subiu a serra gastando um quarto da carga. No alto da serra, coloquei novamente funcionando com o tanque reserva de combustível, para garantir. E segui sem preocupações.

Ou melhor, surgiu um problema. O i3 me avisou que a pressão do pneu traseiro esquerdo estava baixa. Que eu deveria calibrar ou manter a velocidade no máximo até 80 km/h, até chegar a um ponto do abastecimento. O carro explicou que aquele tipo de pneu não poderia rodar com pressão baixa em velocidade alta. Novamente fiquei encantada com a gentileza daquele corretíssimo i3, que me forneceu todo o suporte que precisei, o tempo todo.

Parei para calibrar os pneus em Diadema (SP), e lá vieram as perguntas dos inúmeros caminhoneiros parados por ali. Perguntas cujas respostas estavam na ponta da língua, uma vez que todos me perguntaram isso o tempo todo. Por exemplo: quanto eu gastava a mais de conta de luz na minha casa? Bom, para carregar 100%, o valor em energia corresponde a R$ 13,40, segundo a BMW. Isso permite a possível autonomia de 160 km. Em resumo, ele gasta um quarto em valores para rodar a mesma quilometragem que um carro movido à gasolina. Dando um exemplo mais simples, um i3 gasta tanta energia durante a noite para carregar quanto um aquecedor elétrico.

QUANTO VALE
Mas o conceito deste carro não é economizar e, sim, poupar o planeta. Esta versão, a mais completa, custa R$ 179.950. A versão mais barata fica em R$ 159.950. Se for pensar, é caro para um veículo feito para rodar nas cidades e com autonomia ainda pequena. Mesmo assim, deve estar dando certo, pois o i3 já vendeu 48 mil unidades no mundo todo, desde que foi lançado.

Vou responder a uma pergunta feita por um amigo, o jornalista Fred Carvalho, que andou comigo como carona: “Você compraria este carro?” Após rodar durante dez dias com o BMW i3, sentindo toda a sua tecnologia, sabendo que estou dirigindo sem poluir, digo com sinceridade: eu teria um carro desses, sem piscar os olhos! Se você quiser conferir a minha opinião, vá até uma concessionária BMW e faça um teste-drive. Sim, é possível!

Agradecimento: Buffet Torres

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