Juntas homocinéticas permitem que as rodas dianteiras tracionem e direcionem o veículo ao mesmo tempo
Entusiastas podem argumentar que carros de tração dianteira são menos divertidos de se dirigir, mas esse tipo de arquitetura permite projetos mais simples e leves de transmissão de força do motor às rodas. A diferença é que nessa configuração as rodas dianteiras precisam esterçar e tracionar o veículo ao mesmo tempo.
Isso só é possível graças a uma peça que liga o semieixo à roda, chamada junta homocinética, cuja articulação permite que o trem de força faça girar a roda quando ela está esterçada ou angulada pelos trabalhos da direção e da suspensão.
Porém, não são apenas os veículos de tração dianteira que utilizam as juntas homocinéticas, como explica o professor de engenharia da FMU, Fernando Landulfo. “Alguns modelos de fabricantes renomados como Mercedes-Benz e BMW, equipados com tração traseira, com diferencial fixado à estrutura do veículo, também fazem uso da junta”, aponta o especialista, que também é consultor técnico das revistas CARRO e O Mecânico.
Em cada semieixo responsável pela tração do carro, há duas juntas: a junta fixa, que fica ligada ao cubo de roda, e a junta deslizante, parafusada ao câmbio.
“A junta fixa, que geralmente faz a união do eixo de transmissão (ou semieixo) e o cubo da roda, não permite movimento axial do mesmo, ou seja, a variação do seu comprimento. Já a junta deslizante móvel, que geralmente faz a união do semieixo com a saída da caixa de câmbio, permite tal movimentação”, explica Landulfo.
A partir do momento em que a marcha é engatada, as engrenagens do câmbio se acoplam,
entram em movimento, transferindo o torque para o conjunto diferencial e então para o conjunto do semieixo, junta deslizante e junta fixa, colocando o carro em movimento.
Seu desgaste se dá pela natureza do trabalho da peça de duas formas: ela se conecta ao semieixo através de um veio estriado, que com o tempo vai se desgastando e criando uma folga. Quanto maior essa folga, maior a perda de eficiência na transmissão. Já outra forma de desgaste ocorre pela movimentação das esferas em relação ao seu alojamento, que permite a movimentação angular do semieixo.
Diagnóstico em um estalo
A junta homocinética é um item de segurança: sua troca evita que a peça deixe de fazer a sua função ou quebre, o que pode acarretar problemas no sistema de tração, parada do carro e até um acidente grave que possa comprometer a integridade física dos ocupantes do veículo.
O sinal mais comum de problema em uso é o famoso estalo quando o veículo está sendo manobrado em balizas ou estacionamentos, que exigem mais esterço da direção. Mas por que esse estalo ocorre? “Dois fatores básicos: folga causada por desgaste excessivo e engripamento interno por falta de lubrificação e entrada de impurezas. Quando o estalo ocorre, a junta está em condição crítica”, avisa Landulfo.
Para quem gosta de carros rebaixados, más notícias: a alteração do ângulo do semieixo pode diminuir a vida útil não só da junta fixa como também da deslizante. Outras causas de desgaste prematuro podem ser cambagem fora de medida, quebra do coxim do motor ou do câmbio e empenamento da longarina. No caso específico da junta fixa, pode haver até a quebra da peça se houver excesso de torque aplicado na porca de fixação do cubo ou quando o veículo esterça mais para um dos lados.
Analisando a junta no carro, tanto fixa quanto deslizante, o rompimento da coifa de borracha e a quebra ou ausência de braçadeiras são sinais de que o reparo é necessário. “É preciso desmontá-la, limpá-la e examiná-la com muito cuidado, à procura de oxidação, desgastes, folgas excessivas ou danos nos componentes internos. Cada fabricante tem um critério para exame”, ressalta o professor de engenharia. “Caso o conjunto ainda esteja em boas condições, basta limpar bem, lubrificar, remontar com graxa grafitada e instalar uma coifa nova de proteção de qualidade, com abraçadeiras novas. Um mecânico profissional competente e treinado sabe como fazer.”
Outro detalhe importante: na hora de substituir, exija a peça certa para o veículo certo. “Nada de adaptações. Por vezes, as juntas podem parecer idênticas, mas podem ter sido dimensionadas para potências diferentes”, reforça Landulfo. Ao substituir uma junta defeituosa, aproveite e encomende uma verificação completa dos sistemas de suspensão e transmissão. Eliminar as causas na raiz evita novas e indesejáveis visitas à oficina.