Chevrolet Tigra precisou de apenas dois anos de mercado para ter uma legião de fãs

O manual para um carro virar icônico e colecionável é praticamente igual em todos os casos. Ele entra no mercado, vira um fenômeno de vendas, cria uma legião de fãs, marca uma época, e com o passar dos anos, seus entusiastas fazem questão de manter aquela memória viva para sempre. Mas nesta edição temos um modelo curioso e que foge um pouco dessas tradições que estamos acostumados. Estamos falando do Chevrolet Tigra, que ficou apenas dois anos no mercado brasileiro, mas que foi o suficiente para criar essa tal legião de fãs. E hoje, duas décadas depois, está nessa prateleira de carros colecionáveis.

O Opel Tigra foi baseado num carro conceito de mesmo nome, utilizando a plataforma da se­gunda geração do Opel Corsa, e sua apresenta­ção oficial foi no Salão de Frankfurt de 1993, na Alemanha. Para relembrar, a marca alemã Opel foi uma subsidiária da General Motors de 1929 até 2017, ano em que foi comprada pelo Grupo PSA Peugeot-Citroën. Um ano após ser apresentado como conceito, o Opel Tigra entrou em produção na Europa.

O Tigra tinha duas opções de motorização a gasolina, da família Ecotec, uma com o motor 1.4 de 90 cv de potência, e uma versão com apelo mais esportivo, equipada com o motor 1.6 de 110 cv de potência.

Aqui no Brasil, o Tigra chegou cinco anos após seu lançamento, em 1998, importado de Za­ragoza, na Espanha. Apenas 2652 modelos foram trazidos, em 7 cores diferente: Amarelo Curry, Azul Arden, Azul Polarsea, Prata Star, Preto Schwarts, Verde Rio Verde, Vermelho Magma. Apenas a op­ção de motor 1.6 16V veio para o Brasil, porém, por motivos fiscais, a potência de 110 cv foi redu­zida para 100 cv, mas o torque continuou com os mesmos 14,7 kgfm.

Outras mudanças aconteceram para o mo­delo desembarcar no Brasil, como por exemplo, veio apenas com a opção de câmbio manual de 5 marchas, enquanto na Europa havia a opção de câmbio automático. Além do logo da Opel, que foi substituído pelo da Chevrolet, as rodas aro 15 deram lugar as rodas aro 14 e veio apenas com o airbag do motorista, retirando o do passageiro, assim como os freios ABS, também exclusivos do mercado europeu.

“Eu queria ter um Tigra na minha garagem, eu sonhava com ele toda noite, mas toda noite mesmo, sem exceção, eu tava doente pelo Tigra. Quando eu descobri que a mecânica dele era pra­ticamente idêntica ao do Corsa GSi, eu fiquei com mais vontade ainda de comprar. E o Tigra é muito mais bonito, né”, diz Felipe Vieira Lins.

Trabalhador autônomo, o entusiasta conta com orgulho que é dono de um, dos menos de 3 mil modelos, que desembarcaram no Brasil. E o modelo dele é de 1998. “Os modelos de 1998 e de 1999 não tem praticamente nenhuma diferen­ça, se colocar um lado a lado, quem não sabe vai ficar analisando até perceber que a única mudan­ça foi na maçaneta. Nos 98 ela era preta, já nos 99, ela vinha da cor do carro”, explica.

Quando ele veio importado para o Brasil, seu preço era de R$ 21.821, já no ano seguinte, com essa pequena mudança estética, o preço subiu um pouco e foi para R$ 22.768. O valore para um Tigra 0km, atualmente, seria de R$ 55.500. Esta é uma análise de desvalorização, ou seja, trabalha com valores atuais. Então para projetar o preço do automóvel foi utilizada a taxa de desvaloriza­ção que a curva do carro possui ao longo dos dois anos em que existiu e calculou-se o valor do carro hoje. Devida à desvalorização do real, em 1999, a General Motors do Brasil cancelou as im­portações do modelo, por isso ele ficou só dois anos no mercado nacional.

“Eu estou com o Tigra há quase dois anos e sou o terceiro dono. Eu comprei de um senhor, por R$ 16 mil, mas ele mal saia com o carro e deixou ele um tempão parado, sem uso. Então ti­ve que praticamente restaurá-lo inteiro”, comenta.

Ele conta que mexeu em motor, sistema de arrefecimento, discos de freio, tambores, pneus, compressor do ar-condicionado, detalhes de pin­tura e mais algumas manutenções foram precisas para deixar o Tigra em ordem, gastando quase o preço que comprou. “Eu ainda não fiz tudo, sempre tem alguma coisa para fazer e deixá-lo o mais original possível. Amortecedor e suspensão eu nunca fiz… e o projeto de fábrica deles foi feito pela Lotus, então é muito bom. Penso em com­prar por precaução, porque uma hora a troca vai ser necessária, mas é bem difícil de achar”, exalta.

Quando Felipe comprou o Tigra, o carro tinha 99 mil quilômetros, hoje está com 107 mil quilô­metros. O uso é diário, mas sempre em percursos curtos e nunca teve uma colisão. O único susto nesses quase dois anos foi um princípio de incên­dio.

“Nos grupos e encontros de Tigra, muitas pes­soas se queixam de superaquecimento do motor, é meio normal. Eu estava saindo do mercado com meu amigo e vimos uma luz embaixo do carro, sorte que conseguimos apagar. Quando levei no mecânico, ele disse que havia dois cabos desen­capados no chicote, por causa do aquecimento, aí deu esse princípio de incêndio. Foi feito um re­forço nos fios e nunca mais aconteceu”, esclarece o entusiasta.

O design do Tigra ainda parece moderno, mesmo tendo sido lançado em 1994. É um car­ro com visual atemporal, e essa é das principais justificativas de seus fãs para o sucesso do mo­delo, que teve passagem relâmpago pelo merca­do, mas, mesmo assim deixou sua assinatura de sucesso.

Todas as restaurações foram feitas para reto­mar sua originalidade por completo, mas Felipe conta que colocaria um aerofólio, no máximo, e que comprou um paralama da Inglaterra, original da GM, e que se colocá-lo para ver como que fica, se ficar estranho, ele tira. Esses itens opcio­nais não vieram para o Brasil, eram disponíveis apenas para clientes europeus.

Perguntado se venderia o carro, ele foi cirúr­gico: “A compra desse carro foi um sonho, então não penso em vender. Quero comprar um carro para o dia a dia, e ficar com ele só para passear, mas vender, nem passa pela minha cabeça”.

*A projeção de preço foi feita pela KBB Brasil

fotos: Rafael Guimarães

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