Nos últimos anos, o mercado não apenas recebeu automóveis com layouts diferentes, como os consumidores – cada vez mais exigentes – foram capazes de fazer com que alguns modelos mudassem de categoria a cada nova geração. Por isso, classificar veículos por segmento tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil. A Honda não facilitou esse processo com a quarta geração do City, que acaba de chegar às lojas. O até então sedã compacto cresceu, mas ainda é 10 cm menor em comprimento que um Honda Civic — classificado como sedã médio. Mas, segundo a própria Honda, o City mira nas versões de entrada de modelos que disputam espaço com seu irmão mais velho. Confuso, não é?

A justificativa da Honda para considerar o City EXL, que custa R$ 69.000, como um veículo apto a concorrer com modelos maiores está no amplo entre-eixos (2,60 m) e lista de itens de série, composta por quatro airbags, ar-condicionado com acionamento digital, sistema de som com tela tátil de 5”, revestimento interno de couro, piloto automático, câmbio CVT, direção com assistência elétrica e volante multifunção. Porém, em nossa visão, com apenas 5 cm a mais que o New Fiesta, o modelo da Honda ainda pode ser visto como rival do sedã compacto da marca da Ford. Portanto, reunimos as duas versões topo de linhas de ambos para esse comparativo. As diferenças começam logo pelos preços: R$ 63.290 no New Fiesta Titanium e R$ 69.000 no City EXL.

Em um primeiro olhar, o New Fiesta Titanium aparenta ser muito mais negócio em comparação ao Honda, não é verdade? Por R$ 63.290, o Ford tem lista de itens de série similar à do Honda (em vez da câmera de ré, ele tem sensor de estacionamento) e ainda oferece a mais controle de tração e de estabilidade, assistente de partida em rampa e três airbags adicionais (sete no total). São equipamentos de segurança importantíssimos, ausentes até mesmo como opcionais no City. Por outro lado, basta um pouco de convívio com os veículos para notar que o City EXL, apesar do preço superior e lista de itens de série menos atraente, não é uma má escolha.

Com 12 cm a mais de entre-eixos em relação ao New Fiesta Sedan, o City recebe os ocupantes do banco traseiro com espaço notavelmente melhor para pernas. Todavia, a largura do assento é apenas razoável no Honda e, além disso, a área para a cabeça não agrada — características que já existiam na terceira geração. Esses pequenos pecados não impedem que o Honda não apenas acomode melhor seus passageiros em comparação ao Ford, como também apresente interior mais bem construído e refinado. A sensação de qualidade é reforçada pelo ar-condicionado digital (que se apaga quando a ignição é desligada) e o belo quadro de instrumentos.

O acabamento interno do New Fiesta tem visual interessante, mas não transmite sensação de qualidade do material e de refinamento no encaixe das peças. Outro detalhe que conta a favor do Honda é o porta-malas: com 536 litros, ele comporta 71 litros a mais que o Ford.

 Como eles vão na pista
Segundo a Honda, o novo câmbio CVT que equipa o City (que estreou no Fit 2015) é muito mais eficiente se comparado à caixa similar que equipou o primeiro Fit vendido no Brasil, lançado em 2003. A empresa afirma que a novidade oferece acelerações muito mais rápidas quando exigido, além de permitir que o motor trabalhe em rotações mais baixas no momento em que está em velocidade de cruzeiro. Em nossos testes, o modo suave como o câmbio trabalha aparentemente auxiliou no consumo de combustível: o sedã da Honda registrou médias de 7,5 km/l em ciclo urbano e 12,4 km/l em rodovias, contra 7,4 km/l e 11,3 km/l, respectivamente, do Ford. É válido ressaltar, no entanto, que o City pesa 89 kg a menos que o New Fiesta Sedan Titanium, e seu motor gera menor rendimento.

Ao exigir desempenho máximo em nossa pista de testes, um resultado curioso surgiu: o New Fiesta apresentou melhores números nas retomadas e nas acelerações até 120 km/h. Porém, acima dessa velocidade, o City saiu-se melhor (confira todos os números de teste na página 76). Isso aconteceu porque o câmbio continuamente variável demora para encurtar suas relações durante as arrancadas, fazendo com que o motor demore mais até atingir as melhores rotações para ganhar velocidade com agilidade. Nesse primeiro momento, as relações mais curtas do câmbio robotizado de dupla embreagem do Ford permitem uma arrancada mais vigorosa.

A situação se inverteu, no entanto, em velocidades maiores, situação na qual a resistência do ar aumenta exponencialmente sempre que a velocidade é dobrada. Acima de 120 km/h, a cada troca de marcha, o Ford tem seu rendimento reduzido até que as rotações do motor se elevem novamente ao pico da sua potência. Já no caso do Honda, poucos segundos após sair da imobilidade, em aceleração plena, as rotações do motor se estabilizam no ponto de potência máxima, enquanto apenas o câmbio altera suas relações para ganhar velocidade, permitindo melhor desempenho. Mas essa vantagem do CVT dificilmente será obtida no dia a dia do proprietário do carro, uma vez que ela só apresenta benefícios acima de 120 km/h. Por outro lado, a caixa de marchas continuamente variável do City EXL (que também oferece 7 marchas “virtuais”, caso o motorista opte por trocas manuais) agrada pelo funcionamento notavelmente mais suave que o câmbio Powershift do modelo da Ford.

Mais diferenças

New Fiesta Titanium e City EXL apresentam o mesmo leiaute de suspensão, com McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira. Porém, mais uma vez, revelam comportamentos totalmente diferentes na hora de dirigir — resultado de ajustes e de geometrias distintos. Embora seja um veículo estável e tenha ficado visivelmente mais macio que seu antecessor, a nova geração do City mostra acerto totalmente voltado para o conforto. O Ford passa longe de ser desconfortável, mas nota-se imediatamente que ele foi desenvolvido também com cuidado para agradar condutores que curtem a experiência de conduzir. E os controles de tração e estabilidade se encarregam de manter a dirigiblidade em situações adversas.

Além da suspensão, a posição de dirigir do New Fiesta agrada aqueles que apreciam dirigir. O banco apoia bem o corpo, mesmo nas curvas, o condutor consegue sentar em posição baixa e o volante tem ótima “pegada”. Todavia, enquanto o City EXL oferece borboletas para trocas de marcha no volante, o Ford tem apenas um botão instalado na lateral da alavanca de câmbio — ou seja, em um ponto pouco intuitivo — para realizar trocas manuais. Para um veículo com tantos apelos de esportividade e de dirigibilidade, a ausência das borboletas no New Fiesta Titanium chama a atenção e deixa a desejar.

O que torna o New Fiesta Titanium explicitamente mais cansativo para o convívio diário é sua “personalidade” ousada. Se a sua direção mais rápida não causa incômodos, o mesmo não pode ser dito do acerto do seu acelerador eletrônico. A sensação é de que, em função de um ajuste eletrônico, a borboleta de aceleração abre muito mais do que o orientado pelo pedal do acelerador. Isso faz com que o veículo pareça mais vigoroso. Porém, o motor não apenas rende normalmente quando o pedal é todo pressionado, como o condutor precisa de delicadeza com o acelerador para evitar solavancos. É um comportamento desnecessário para um sedã cuja principal proposta não é esportividade.

No fim das contas, após pesar os prós e contras de cada um dos sedãs em nossas tabelas técnica e mercadológica, o Honda City EXL se sobressai como melhor escolha nesse comparativo. A diferença mínima de pontuação entre os modelos, contudo, mostra que o novo modelo da marca japonesa não evoluiu como poderia em sua quarta geração.

Embora não seja empolgante de dirigir por oferecer desempenho mediano (o que, convenhamos, não é a sua proposta), o City é silencioso, econômico, espaçoso, tem bom porta-malas e ótimo acabamento interno. A novidade deixa a desejar com a falta de importantes itens de segurança, como controle de estabilidade e mais airbags. Visto por essa ótica, ele se torna um modelo mais caro que o desejado. Mas também acerta em características que são esperadas em um sedã prático para o cotidiano.

O Ford New Fiesta Titanium, por sua vez, se destaca como uma inquestionável boa opção no mercado, e é marcado pelo bom custo-benefício. Entretanto, a atual escola da Ford aparentemente não privilegia muito o espaço para o banco traseiro (mesma característica encontrada no novo Focus), o que lhe roubou alguns pontos neste duelo. Além da área para a acomodação dos ocupantes, o modelo da marca do oval azul pecou pelo acabamento com qualidade inferior e o comportamento excessivamente agressivo. São detalhes que lhe custaram a derrota por um ponto.

Conclusão:

Média final técnica:

1º Honda City EXL: 178 pontos

Pontos positivos: acabamento interno, porta-malas, consumo de combustível

O Honda City evoluiu muito em sua nova geração, especialmente no habitáculo da versão topo de linha EXL. A sensação de qualidade oferecida pelo acabamento é ótima, o ar-condicionado com tela tátil é um grande destaque, assim como o espaço interno, área do porta-malas e baixo nível de ruído. Ele é o melhor automóvel do comparativo. Porém, é inegável também que o City poderia ser melhor em muitos aspectos, fato evidenciado pela sua pontuação extremamente próxima à do Ford New Fiesta Titanium. Falta ao modelo da Honda controle de tração e estabilidade, Hill Holder e mais três airbags para ficar no mesmo nível do rival.

2º Ford New Fiesta Titanium: 177 pontos

Pontos positivos: dirigibilidade, segurança

Gostoso de dirigir, bem equipado e repleto de importantes itens de segurança, o Ford New Fiesta Titanium só não ganhou esse comparativo em função do limitado espaço interno – embora o nível de ruído e sensação de qualidade também tenham tido peso negativo para o sedã. O Ford foi melhor nas retomadas e nas acelerações até 120 km/h, mas seu consumo de combustível foi maior que o do Honda. Não sacramentou a vitória neste tira-teima por muito pouco.

Média final de mercado:

1º Ford New Fiesta Titanium: 53 pontos

Pontos negativos: espaço interno, ruído

O Ford New Fiesta Titanium se mostra uma escolha ligeiramente mais atraente que o rival. Ele não foi tão bem nos valores de manutenção e revisão quanto o Honda, mas seu custo-benefício é imbatível: R$ 6.000 a menos e é muito mais bem equipado que o City EXL.

2º Honda City EXL: 52 pontos

Pontos negativos: faltam itens de série e espaço para cabeça no banco traseiro

O calcanhar de Aquiles do City quando observado sob o ponto de vista de mercado é o seu custo elevado – reforçado por uma lista de itens de série mais enxuta que a do rival. Ainda assim, o modelo da Honda é amparado pela fama de boa durabilidade.

Veredicto: Honda City EXL é o vencedor

H onda City EXL e Ford New Fiesta Titanium mostraram personalidades totalmente distintas, apesar da carroceria com três volumes. O New Fiesta Titanium é muito bem equipado e custa consideravelmente menos que o Honda. Porém, além de ter porta-malas menor, seu espaço interno é inferior ao do rival. E o acerto do conjunto motriz do Ford o faz oferecer comportamento um pouco mais agressivo que o desejado para um veículo com proposta familiar. No fim de todas as contas, o modelo da marca japonesa se apresentou como a melhor escolha pela versatilidade – um dos maiores motivos de existência de um sedã. Para completar, o City EXL também é mais silencioso, econômico e confortável. Mas poderia ser mais bem equipado.

Outras opiniões

Por Leonardo Barboza I Editor-de-testes
Mesmo o New Fiesta custando menos, tendo mais equipamentos de segurança e desempenho melhor em relação ao City, nessa categoria eu prezo pela qualidade de acabamento, pelo espaço interno e pelo conforto a bordo. Assim, o City é mais negócio, embora seja mais caro.

Por Hector Vieira I Repórter
Levo muito em conta o bom desempenho e a dirigibilidade, quesitos que o New Fiesta cumpre muito bem. Porém, o Ford peca no diminuito espaço interno, bem como na qualidade de acabamento. Em função do melhor espaço interno e da qualidade de construção, fico com o Honda City. 

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