Em momento conturbado no Brasil, a Ford aposta no primeiro modelo ST do País para desbancar os rivais do segmento premium

Na lista dos três SUVs do comparativo, tem um, em especial, que é o grande desafian­te e tem uma enorme responsabilidade na disputa, por diversos sentidos, o Ford Edge ST. Mas, por quê? A Ford já viveu dias muito melhores no mercado brasileiro e hoje o momento da marca é bem conturbado, não só por aqui, no mundo também. No Brasil, a fábrica de São Bernardo do Campo (SP), com mais de 3 mil funcionários, já teve seu fechamento decre­tado, acarretando no ponto final, já este ano, da produção do Fiesta, que está no mercado desde 1995. Além da amarga notícia, o Focus deixou de ser importado na Argentina depois de mais de 20 anos no País, e para fechar a lista o Fusion, im­portado do México, deve dar adeus por aqui ano que vem, onde é vendido desde 2006.

Portanto, todos esses fatores colocam uma pressão grande no Edge ST para desbancar seus rivais da mesma faixa de preço, R$ 300 mil, uma missão nada fácil. Porém, o segredo pode estar em seu sufixo “ST”, Sport Tecnologies. O primeiro modelo ST foi lançado em 1996, com o Mondeo ST24, e pela primeira vez desembarca no Brasil, equipando justamente o primeiro SUV da marca a receber a preparação esportiva, o Edge.

Por R$ 299 mil, o SUV americano trava dis­puta com o alemão Audi Q5 2.0 TFSI Ambition Quattro, de R$ 289.990, e com o híbrido sueco Volvo XC60 R-Design — o carro da marca mais vendido no mundo — de R$ 299.950. Até o mês de maio, segundos dados da Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores (Fenabrave), a Audi emplacou 3.373 carros, sendo 561 deles Q5. Já a Volvo totalizou 2.933 emplacamentos, sendo quase metade do XC60, com 1.220 ven­das. A Ford, por sua vez, vendeu um geral de 86.393 modelos, mas nenhum Edge ST, lançado no final de abril, consta até o momento nos núme­ros da entidade.

Motor Ford Edge

A aposta da Ford, obviamente, está no mo­tor do Edge ST, um 2.7 V6 biturbo de 335 cv de potência a 5.500 rpm, e 54,4 kgfm de torque a 3.00 rpm, associado a um câmbio automático de 8 marchas com tração integral, sob demanda na traseira. O Q5, também conta com tração inte­gral, motor turbo, 4 cilindros, 2.0 TSFI de 252 cv de potência a 5.000 rpm, e 37,7 kgfm de torque a 1.600 rpm, e câmbio automatizado de 7 mar­chas de dupla embreagem. Enquanto o híbrido Volvo XC60 R-Design, 2.0 turbo, também de 4 cilindros, 320 cv de potência a 5,700 rpm, que em conjunto com o elétrico entrega um total de 407 cv, e torque de 40,8 kgfm a 2.200 rpm, que sobe para 65,3 kgfm com a atuação conjunta do motor elétrico alimentado por bateria de íons de lítio de 10,4 kWh. Seu câmbio é automático de 8 marchas. Em números a vantagem do sueco é enorme.

Motor Audi Q5 Prestige Plus

Em medidas o Edge ST tem 4.778 mm de comprimento, 1.928 mm de largura, 1.742 mm de altura, 2.850 mm de distância entre-eixos e por­ta–malas com capacidade de 600 litros. Já o Q5, possui 4.663 mm de comprimento, 1.893 mm de largura, 1.659 mm de altura, 2.819 de entre-eixos e 550 litros no porta-malas, enquanto o XC60 tem 4.688 mm de comprimento, 1.902 mm de largu­ra, 1.658 mm de altura, distância entre eixos de 2.865 mm e porta-malas que comporta até 486 litros. O Edge ST leva vantagem em quase todos os quesitos sobre seus rivais, mas o espaço do Volvo é destaque entre os concorrentes.

Motor Volvo XC60 R-Design

O SUV americano possui rodas de liga leve de 21 polegadas com pneus 265/40R21. O alemão é equipado com rodas de liga leve de 19 polegadas e pneus 235/55R19, e o sueco vem com as mes­mas 21 polegadas em liga leve do Edge ST, mas com pneus 255/40R21.

O interior do ST mostra bom acabamento, com materiais sofisticados e itens exclusivos, mas as linhas são simples e não muito modernas. Os bancos, com ajustes elétricos, e assinatura ST, são esportivos com revestimento em couro e ca­murça, e incluem recurso de refrigeração e aque­cimento, tanto os dianteiros, quanto os traseiros, enquanto o painel mescla material emborrachado, detalhes cromados e plástico de boa qualidade.

A central multimídia com tela de tátil de 8 po­legadas é compatível com Android Auto e Apple CarPlay, ambos com ótima funcionalidade e bem práticos, mas o motorista pode ter certa dificulda­de na hora do primeiro emparelhamento em movi­mento, como medida de segurança. O sistema de som premium é da Bang & Olufsen, com 12 alto­-falantes e o ar-condicionado é automático digital de duas zonas.

Os ocupantes do banco traseiro são brinda­dos com duas telas de 8 polegadas instaladas nos encosto de cabeça dos bancos dianteiros – item que seus rivais não oferecem –, e ar-condi­cionado de duas zonas. O Edge é o único que tem ajustes de altura e profundidade do volante totalmente digitais.

O interior do Audi Q5, também é todo escu­ro, e traz material emborrachado no painel e nas laterais, além de plástico de boa qualidade e aca­bamento, com textura que imita fibra de carbono, mais detalhes cromados. Os bancos são em cou­ro, assim como o volante multifuncional.

A tela de 8,3 polegadas da central multimí­dia não é tátil, porém, há o sistema MMI Touch presente no console central, em que basta girá-lo para trocar as funções, e na lateral do console o motorista tem a opção de ajuste de volume, que pode ser feito também pelo volante multifuncio­nal. As memorizações das emissoras de rádio es­tão nos oito botões centrais, que respondem ao toque de forma bem sensível e prática. O sistema de som é o 3D Bang & Olufsen de 19 alto-falan­tes. Os recursos de Android Auto e Apple CarPlay têm boa funcionalidade.

Fechando a lista, o interior do Volvo também é escuro. Traz materiais emborrachados, couro, plástico de boa qualidade, imitação de fibra de carbono, preto piano e detalhes cromados. Os bancos, com assinatura R-Design, misturam cou­ro, couro perfurado e camurça, possuindo recur­so de refrigeração e aquecimento; o volante multi­funcional também é revestido de couro perfurado.

Segundo a Volvo, a belíssima alavanca do câmbio é feita de cristal, dando um ar ainda mais sofisticado ao híbrido, ganhando ainda mais des­taque de noite, quando está iluminada. A tela tátil da central multimídia é a maior entre os concor­rentes, medindo 9 polegadas, e o SUV sueco possui sistema de som Harman Kardon de 13 alto-falantes e 1 subwoofer. O sistema de espe­lhamento Android Auto e Apple CarPlay é o mais rápido de todos, conectando de forma rápida e fazendo leitura precisa dos comandos.

De série, todos eles trazem seis airbags. Além dos dois frontais obrigatórios, oferecerem os late­rais e de cortina. Outros itens internos são chave presencial, banco do motorista com memória, câ­mera de ré, engates Isofix para cadeiras infantis, sensor de fadiga, controles de estabilidade e de tração, porém recursos como alerta de ponto ce­go, controle de velocidade de cruzeiro adaptativo, faróis em LED, frenagem de emergência e alerta de mudança de faixa, só o Q5 não tem. Porém, o alemão é o único com ar-condicionado de três zonas. E a sensação de espaço nos três é amplia­da pelo teto solar panorâmico.

Máquinas em ação

A posição de dirigir o ST é boa, mas o volante poderia ter uma pegada um pouco melhor para transmitir mais esportividade. Um ponto bem ne­gativo é a visibilidade dos retrovisores, que po­deriam ser um pouco maiores pelo tamanho do carro. Nenhuma das duas sensações é sentida no Volvo e no Audi. A empunhadura é um gosto pes­soal, mas a visibilidade é um recurso de seguran­ça fundamental, por mais tecnológico que o carro seja, ter retrovisão ampla é mandatório..

Por mais que traga bastante conforto e tec­nologia, a intenção da Ford é arrancar vendas dos rivais puxando pela esportividade que os modelos ST têm. Levamos os três para o Cam­po de Provas da ZF, em Limeira, no interior de São Paulo, e fizemos os testes para ver qual tem melhor desempenho. O peso de cada modelo é: Edge, 2.116 kg, Q5, 1.720 kg e XC60, 2.174 kg.

Na aceleração de 0 a 100 km/h, o Edge ST a fez em 6s6, o Q5 em 6s3, enquanto o XC60 foi o mais rápido a atingir a marca, levando 5s4, o que não foi nada surpreendente pelos seus 407 cv e 65,3 kgfm de torque. Em todos os testes de aceleração o sueco levou vantagem sobre os dois. Nas acelerações acima dos 160 km/h, o XC60 abriu quase 5 segundos de vantagem sobre o Edge ST e pouco mais de 2 segundos sobre o Q5.

Em retomada, o cenário não mudou, e o sueco também ficou no topo das marcações. De 40 a 100 km/h, por exemplo, o XC60 preci­sou de 4s6, o Q5 demorou 4s9 e o ST cumpriu a prova em 5s6. Em velocidade maiores, a dife­rença entre o modelo da Volvo e os dois rivais fica ainda mais evidente, na retomada de 80 a 120 km/h, por exemplo, o sueco levou 3s7, contra 4s6 e 4s4, de Q5 e ST, respectivamente.

Mas a supremacia na pista do modelo híbri­do não foi total por um quesito: frenagem. Dos 100 km/h até à parada total o XC60 percorreu 38,6 m, enquanto o modelo alemão fez o mes­mo em 36,1 m, enquanto o Edge fez em 39 m. A vantagem do Q5 fica ainda maior em veloci­dades maiores, como de 160 km/h até a imobi­lidade, sendo o único a parar em menos de 100 metros. Precisou de 93,2 m, enquanto o XC60 fez o mesmo em 101,4 m e o ST em 104,1 m, ou seja, o americano percorreu mais de 10 me­tros em relação ao Q5.

O Audi Q5 Prestige Plus possui freios de disco ventilado, tanto na dianteira, quanto na traseira. O mesmo vale para o modelo híbrido da Volvo, que também vem de fábrica com dis­co ventilado nos dois eixos. O Edge ST, por sua vez, traz disco ventilado na dianteira, mas no eixo traseiro são sólidos. Vale reforçar também, que o Q5 é o único, entre os três, que pesa menos de duas toneladas.

As suspensões dos três modelos são dife­rentes, nenhum deles possui o mesmo conjunto mecânico. O XC60 possui suspensão indepen­dente braços sobrepostos na dianteira e inde­pendente multibraço na traseira, já o Q5 vem com independente multibraço nos dois eixos e o Ford Edge ST possui independente McPherson na dianteira e independente multibraço na trasei­ra. Em todos os casos, a calibração das molas e amortecedores dão bastante firmeza aos mo­delos, entregando boa estabilidade nas curvas, filtrando bem as irregularidades do solo e dando boa dirigibilidade e conforto de rodagem, com quase nada de ruídos na cabine. Porém, a sus­pensão do Volvo é bem dura, e se pegar um solo mais irregular chega a causar incômodo.

Quando entramos em um dos fatores que mais pesa na escolha de um carro, que é seu consumo, o fato do carro ser híbrido joga a fa­vor nesse quesito. O líder de baixo consumo foi o Volvo XC60, como era esperado, registrando 16,7 km/l em trecho urbano e 12,7 km/l em tre­cho rodoviário. No segundo lugar ficou o Audi Q5, que registrou 8,4 km/l em trecho urbano e 12,5 km/l em trecho rodoviário. Na lanterna e com uma diferença considerável para os rivais, ficou o Edge ST, que na cidade registrou média de consumo de 6,5 km/l e na estrada não pas­sou dos 10 km/l.

Fotos: Renan Senra

Veja a tabela de teste com os números de pista do Audi Q5 Prestige Plus, Volvo XC60 R-Design e Ford Edge ST:

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