Crianças praticam música erudita para a Orquestra de Heliópolis

A música domina o ambiente no Instituto Bacarelli, entidade que promove a musicalidade entre jovens da Comunidade Heliópolis, na região sudeste de São Paulo (SP). Os pequenos (de 4 a 6 anos) começam pela musicalização; depois passam pelos corais, até chegarem às orquestras, culminando com a Sinfônica de Heliópolis, que já foi regida por um dos maiores maestros da atualidade, Zubin Mehta, entre outros grandes nomes, como  Isaac Karabtchevsky e já se apresentou em vários países mundo a fora. A exigência feita aos que buscam aprender música na casa é que sejam moradores na comunidade ou estudem em uma das escolas locais. E, claro, gostar de música é muito importante.

Tamires já pensa em fazer carreira musical fora do país

Tamires Kamisaka de Melo, 22 anos, é um exemplo desta dedicação à música. Ela toca na Orquestra Sinfônica de Heliópolis e começou sua carreira musical, há 13 anos, no coral da entidade. A estudante passou pela orquestra Infantil e hoje está na Sinfônica. Escolheu a trompa como instrumento e Mahler (Gustav) como seu autor preferido, por considerar que ele é o que mais destaca a técnica do instrumentista em sua música. Seu sonho é seguir carreira e por isso faz licenciatura em música na universidade Cantareira e vai tentar carreira “lá fora”. Para tanto está gravando vídeos e vai mandá-los para a Itália, “mas também para outros países”. “Eu quero tocar em qualquer lugar que me aceite”, revela com ar de quem tem a certeza de que alcançará seu objetivo. 

No total, são 1.300 estudantes entre crianças e jovens, aprendendo música, em todas as escalas, no Instituto Bacarelli, com o apoio da Fundação Volkswagen. São 14 corais, cinco orquestras e 20 turmas de musicalização. 

Vittorio Luis Broetto cuida do acervo do instituto. São 800 instrumentos

Stefani Caetano da Silva, 10 anos, que tem uma trajetória curiosa. Ela queria tocar guitarra, instrumento que não entra em uma orquestra; decidiu-se pela bateria, que também não aparece numa formação erudita; pensou no violão e encontrou o mesmo obstáculo. Então, decidiu-se pal Viola de Cordas Erudita. E está adorando. Ao lado dela está Pedro Simão Bezerra (9 anos) que há mais de 2 anos faz a voz do Príncipe no coral, na peça A Pequena Sereia, cantando “Beija a Música”. No comando criançada está Tatiana Paciello, que faz bacharelado de Música na Unesp e dá aula para 30 alunos no Bacarelli.

As aulas de canto, não se restringem ao soltar a voz dos alunos. Coreografias fazem parte das aulas. Giovana Brito, 9 anos, tem 5 anos de coral. Quando não esta no Bacarelli, canta em casa músicas evangélicas. “Mas também canto pop e adoro a música do Jair Rodrigues ‘deixe que digam/que pensem/ que falem/eu não tô fazendo nada/você também'”, conta atraída pelo gestual que o parceiro de Elis Regina fazia nas suas apresentações.

Orquestra de Heliópolis já foi se apresentar na Alemanha

CINCO “BIS” NA ALEMANHA
Responsável pelo Instituto, onde está há 20 anos, Edmilson Venturelli fala que o Instituto usa a música como instrumento de transformação social. “Seguimos – diz ele – por um caminho mais complexo que é a música de concerto, mas os resultados são muito bons pois hoje temos alguns de nossos alunos espalhados por orquestras em todos os lugares.” E também conta boas histórias das viagens internacionais de Sinfônica Bacarelli. 

Uma delas aconteceu em Munique, Alemanha. O público alemão, conhecido por sua atitude contida, estranhou quando os músicos entraram fazendo uma coreografia e não em fila, como ocorre com as orquestras normalmente, mas aplaudiram com entusiasmo. Ao final do concerto, com peças clássicas, a Bacarelli surpreendeu novamente, apresentando um pout-pourri de músicas brasileiras. 

“Os alemães deixaram de lado o seu ar sisudo, aplaudiram de pé por mais de 2 minutos e os jovens músicos de Heliópólois realizaram 5 bis”, conta Edmilson um brilho de emoção nos olhos.

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