Em abril de 2000, a Ford abraçou o projeto criado pelo cirurgião-dentista Cássio Melo para atender a caminhoneiros nas estradas brasileiras. Até hoje ele tratou de 55 mil destes profissionais, e também 23 mil moradores das comunidades próximas aos locais onde o “Odontomóvel” (o caminhão Ford transformado em consultório de dentista) estacionava na beira das estradas em todo o Brasil.
O plano inicial era atender somente aos motoristas de caminhão, mas como recusar aos apelos das pessoas que precisavam de tratamento? Com o OK da montadora, o atendimento foi ampliado.
Melo tem histórias tristes sobre o seu trabalho, como a de um caminhoneiro que não sentava numa cadeira de dentista há 33 anos; ou do caso que o levou a criar do projeto: um motorista que, com uma insuportável dor de dente, colocou nele ácido da bateria do caminhão. Tirou a dor, mas causou danos quase irreversíveis em sua boca.
Por outro lado, há o caso motorista que, no Maranhão, desviou 200 km do seu destino para ser atendido por Melo. O dentista julga ser necessária a criação de um política de saúde bucal, que não existe no Brasil.
Com os bons resultados do Odontomóvel junto aos caminhoneiros, Adriane Rocha, gerente de relações corporativas da Ford, decidiu com sua equipe a criação de um segundo projeto, para atender a crianças das escolas públicas em regiões onde a montadora tem fábricas.
Em Taubaté, a odontopediatra Bruna Renata Santana está atendendo, no bairro Santa Tereza, 580 crianças (180 já passaram pelo Odontomóvel), com a ajuda de Áurea de Jesus, formada técnica de higiene bucal. Elas já estiveram na zona rural da cidade, onde atenderam 760 menores carentes.
APRENDERAM
Ariane Cristina de Toledo, 11 anos, é aluna da escola onde Bruna e Áurea atuam. Depois de tratar uma cárie, fazer uma restauração e uma extração, ela promete que isso não vai mais acontecer: agora ela escova os dentes três ou quatro vezes ao dia, conforme lhe foi ensinado.
Um exemplo a ser seguido é o de Vinícius Sampaio dos Ramos. Aos 9 anos, sentou pela primeira vez na cadeira de dentista do Odontomóvel e saiu de lá com um cumprimento de Bruna: “Sua boca está perfeita, nenhuma cárie, nenhum problema, parabéns”.
Perguntado como conseguiu, Vinícius contou que seus pais sempre o orientaram a fazer escovação e o proibiram de comer balas. E nunca teve cárie ou dor de dente.