Nos últimos anos, a maioria das fabricantes de automóveis tem investido para tornar seus esportivos em modelos cada vez mais rápidos e eficientes nas pistas, mas também mais seguros e fáceis na utilização no dia a dia. A razão é simples: um veículo versátil significa ter a capacidade de conquistar mais consumidores com necessidades distintas, elevando suas vendas.

Um esportivo multifuncional, no entanto, pode seguir o mesmo caminho de um motor flex: útil, mas, por ter a capacidade de queimar tanto gasolina quanto etanol, acaba não sendo excelente com nenhum dos dois combustíveis. Por fugir dessa proposta, o Renault Megane R.S. (de Renault Sport, divisão esportiva da marca francesa), que deve chegar ao Brasil no segundo semestre, é tão especial: suas palavras de ordem são esportividade, dirigibilidade e conectividade. E às favas o conforto necessário para levar a avó na missa de domingo.

Enquanto o VW Golf GTI, um dos principais concorrentes do Mégane R.S., só é oferecido no Brasil na versão quatro portas, com câmbio DSG (dupla embreagem) e sistema de controle de estabilidade que não pode ser desativado, o 
hatch francês adota a solução inversa: tem apenas carroceria duas portas, câmbio manual de 6 marchas e sistemas de segurança que podem ser desligados por um simples e prolongado toque em um botão no painel de instrumentos.

Apesar do visual intimidador, o Mégane R.S. é surpreendentemente dócil no moroso trânsito urbano. Sua suspensão mostra firmeza, mas não é dura, os bancos são confortáveis, o interior é silencioso, a embreagem tem peso mediano, o câmbio é fácil de manusear e há muita força em baixas rotações, enquanto a direção não é arisca em baixas velocidades. Mas basta estar em uma marcha reduzida e tratar o acelerador com rapidez para ver o modelo mudar de personalidade. 
O motor 2.0 16V superalimentado gera 265 cv a 5 500 rpm e consistentes 36,7 mkgf de torque a 3 000 rpm, rendimento suficiente para acelerar seus 1 387 kg de 0 a 100 km/h em 6s7 (0s2 a mais que o VW Golf GTI). E além da força bruta, o (cada vez mais raro) trabalho de acionar a embreagem e manusear o câmbio em busca do menor tempo em acelerações e reduções é interativo e deliciosamente desafiador.

Mas vamos combinar que o alto desempenho de um esportivo é apenas parte de sua missão. Não menos importante é a sua capacidade de exaltar os sentidos do condutor. E o Mégane R.S. também tira boa nota nesse quesito. Como o som emitido pelo motor é um dos maiores estimulantes para quem aprecia esportividade, a Renault Sport desenvolveu o 2.0 turbo do hatch de modo a reproduzir o ruído característico de aspiração de ar pelos cilindros — como em um esportivo sem superalimentação.

E o sistema de escapamento, embora pudesse emitir um timbre mais forte, deixa evidente que se trata de um motor superalimentado em função do “assopro” da contrapressão dos gases, fazendo o motorista travar as mandíbulas cada vez que leva o pedal do acelerador ao final do curso. São características que auxiliam o piloto a se conectar profundamente com a máquina. Em alguns casos, controles de tração e estabilidade são utilizados de maneira a mascarar um chassi pouco equilibrado. Mas não é o caso do Mégane R.S., que ataca curvas, freia e acelera com equilíbrio exemplar para um espécime com tração dianteira, mesmo com os sistemas de segurança desativados.

Quanto mais rápido conduzido, mais na mão e preciso ele se mostra — um comportamento totalmente instigante e incomum. É preciso abusar demais para tirá-lo de sua trajetória. Boa parte desse comportamento exemplar se deve ao diferencial de deslizamento limitado e aos pneus 225/40 montados em rodas de aro 18”.

Não fosse pelo problema que apresentou na embreagem durante o teste — o pedal ficou muito baixo, impossibilitando o engate da ré, problema em parte resolvido quando o automóvel “esfriou” —, colocando sua durabilidade em xeque, o Renault Mégane R.S. teria se saído de maneira impecável na avaliação. Seu desempenho impressionou e o nível de interação é altíssimo. São características de um legítimo esportivo.

Ficha técnica

Velocidade máxima 255 km/h; Aceleração de 0 a 100 km/h 6s7; Consumo médio 10,7 km/l; Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, turbo e intercooler; Cilindrada 1.998cm3; Potência 265 cv a 5.500 rpm; Torque 36,7 mkgf a 3.000 rpm; Câmbio manual, 6 marchas; Tração dianteira; Suspensão dianteira triângulos superpostos; Suspensão traseira McPherson; Rodas liga leve, aro 18” ; Comprimento 4,29 m; Largura 2,03 m; Altura 1,43 m; Entreeixos 2,63 m; Portamalas 377 litros; Peso 1.387 kg.

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