Versão 100% elétrica, o Kwid E-Tech cobra caro, mas entrega o que promete com bons equipamentos e espaço para quatro ocupantes
A Renault já tem tradição com carros elétricos no Brasil: Zoe, Kangoo, Twizzy… e agora com o Kwid E-Tech. Custando R$ 142.990 é difícil dizer que se trata de um carro popular ou acessível, mas é fato que este é o carro elétrico mais barato do Brasil. E o único abaixo dos R$ 150 mil, já que o próximo colocado no ranking, o JAC E-JS1, salta para R$ 164.900. Ainda é um passo pequeno, mas já é o primeiro degrau para chegarmos a elétricos mais acessíveis em breve.
O preço de R$ 142.990, aliás, é válido e assegurado pela fabricante para todos que adquirirem o carro na pré-venda, que vai até julho. Depois, é possível que haja algum reajuste. Para reservar, é necessário pagar um sinal de R$ 999, sendo que as primeiras unidades serem entregues em agosto.
O lote inicial terá 500 unidades, mas que também serão destinadas a test-drive de concessionárias, devendo restar pouco mais de 300 unidades para o público. A Renault não soube informar quantos exemplares foram reservados até o momento, mas garante que um segundo lote já está encaminhado.
Agora que o Kwid E-Tech está contextualizado, vamos às impressões. A Revista Carro teve a oportunidade de guiar o modelo no Kartódromo Aldeia da Serra, em São Paulo, avaliando o modelo em situações de aceleração e retomada, curvas, asfalto mais irregular e em obstáculos como um leve slalom. Não são as condições reais das vias brasileiras, mas diríamos que chegamos perto com as simulações.
Adaptação para o mercado brasileiro
O modelo traz bateria de 26,8 kWh e motor elétrico que entrega 48 kW, ou seja, equivalente a 65 cv de potência, com torque de 11,5 kgfm. Em relação à versão 1.0 a combustão interna, ele perde em potência mas ganha em torque: são 71 cv e 10,0 kgfm. Mas ele também é mais pesado, com 977 kg frente aos 818 kg das versões de entrada do Kwid convencional e aos 825 kg da versão Outsider.
A Renault destaca que o compacto elétrico ganhou algumas mudanças em relação ao modelo chinês, de onde chega importado, para se adequar ao nosso mercado. É uma motorização “totalmente desenvolvida de acordo com o gosto do consumidor brasileiro”, diz o comunicado para a imprensa. Entre essas mudanças estão maior potência (o K-ZE, como é chamado na China, rende 44 cv) e uma nova calibração para a suspensão.
Bom para qualquer situação?
Fato é que o modelo ficou bastante ágil para o seu porte e peso. Ao volante ele está bem mais interessante de guiar quando comparado ao Kwid a combustão. As resposta ao pedal do acelerador são bem rápidas, lembrando que não há transmissão convencional com marchas. Você pisa e ele logo ganha velocidade, com torque instantâneo como se espera de um carro puramente elétrico.
Segundo dados da fabricante, ele vai de 0 a 50 km/h em 4,1 segundos e de 0 a 100 km/h em 14,6 segundos – é mais lento que o compacto “normal”, que cumpre essa mesma aceleração em 13,2 segundos com etanol. Ainda assim, é um carro muito interessante para o trânsito urbano, mas ainda permite ser usado nas estradas, uma vez que chega à velocidade máxima de 130 km/h. Quanto à autonomia declarada, é de 265 km em uso misto ou até 298 km em uso apenas urbano, segundo a norma SAE J1634, utilizada pelo Inmetro.
Para poupar bateria, existe o modo Eco, acionado por um botão no painel. Ele limita a potência a 33 kW, restringe a velocidade máxima a 100 km/h e aumenta a atuação da frenagem regenerativa. É possível acompanhar quão econômica está a direção por um mostrador “econômetro” no painel de instrumentos.
No mais, a dirigibilidade é um ponto positivo como um todo: a direção elétrica é leve e permite manobrar o modelo com bastante facilidade, enquanto a suspensão ficou confortável na medida, ao menos nas condições vistas no teste, garantindo uma boa estabilidade nas curvas.
Acredito que faltou um emulador de som, porque os brasileiros ainda não estão habituados aos carros elétricos e o Kwid E-Tech não emite ruído que indique sua aproximação para pedestres e ciclistas. Na verdade, segundo a Renault, ele emite um sinal sonoro de alerta até o veículo atingir 30 km/h, mas não conseguimos ouvir esse alerta no período em que tivemos contato com o modelo. E não há alertas acima dessa velocidade.
Tempo de carregamento
A Renault aposta muito no uso por empresas e frotas ou no público “early adopter”, aquele que vai investir mais para ter um carro elétrico, provavelmente porque já possui outro carro na família e pode deixar o Kwid carregando a noite toda para usar no dia seguinte. Por isso, faz questão de ressaltar nas comunicações as possibilidades de carregamento, feito por meio de um conector na grade frontal.
Em uma tomada doméstica convencional de 220V com 20A (que precisa ser aterrada), como usada nas cafeteiras e micro-ondas atuais, a carga completa é feita em 8h57. Com um Wallbox de 7kW são 2h54, e em estações de carregamento rápido a fabricante diz que é possível ir de 15% para 80% da carga da bateria em 40 minutos. Pelos cálculos da Renault, uma carga completa no modelo custaria algo em torno de R$ 18 considerando os valores de São Paulo.
O que muda no visual?
Em relação às versões convencionais, o Kwid E-Tech tem poucas mudanças estéticas. A grade frontal é nova e inteiriça para abrigar o conector de recarga, assim como os para-choques e as rodas – que passam a ter quatro parafusos em vez de três devido ao torque maior e instantâneo. Há ainda adesivos nas laterais que exibem o nome do modelo.
O restante segue igual ao Kwid a combustão, como os faróis e as lanternas traseiras, compartilhando diversos componentes. Isso, na verdade, é algo positivo, pois simplifica e reduz os custos de manutenção. Segundo a Renault a versão elétrica cobra metade da versão correlata do Kwid a combustão quando se trada de custo de manutenção.
Interior minimalista
Por dentro, a adoção do conjunto de bateria não prejudicou o espaço interno, mas o Kwid E-Tech leva apenas quatro ocupantes. Não há cinto de segurança ou apoio de cabeça para um terceiro passageiro no banco de trás. Seu porta-malas leva 290 litros, ou seja, a mesma capacidade do Kwid a combustão.
O acabamento é bem simples e minimalista, com poucos itens no painel e no console central. Contudo, seus materiais e os detalhes em prata parecem mais agradáveis quando comparados ao Kwid convencional. O quadro de instrumentos exibe um econômetro à esquerda, enquanto do outro lado há um marcador indicando a carga disponível da bateria. No meio, uma tela digital traz o velocímetro. Destaque ainda para o seletor giratório que substitui a alavanca de câmbio, deixando a cabine mais ampla.
Lista de equipamentos
O Kwid E-Tech é vendido em versão única e já vem equipado de série com câmera de ré, sensor de estacionamento traseiro, multimídia Media Evolution com tela touchscreen de 7” e conexão Android Auto e Apple CarPlay, assistente de partida em rampa, controle de estabilidade, seis airbags, alerta de pressão de pneus, direção elétrica, ar-condicionado, vidros elétricos dianteiros e traseiros, ajuste de altura dos faróis, limitador de velocidade e regulagem elétrica dos retrovisores.
O modelo possui garantia de três anos para o veículo e de oito anos para a bateria, disponível nas cores Verde Noronha, exclusiva, branco Glacier Polar e prata Diamond.
Conclusão
Não há dúvidas de que o Kwid E-Tech é um carro bem acertado. Ele cumpre o objetivo que propõe atender: de ser um carro pequeno para o dia a dia, para os deslocamentos curtos nas grandes cidades. Se você é o público estimado pela Renault, que está preocupado com sustentabilidade e mesmo com o custo do combustível, o Kwid elétrico é uma opção interessante. Mas ele ainda é caro e cobra R$ 74.300 a mais que o Kwid Outsider, a versão topo de linha a combustão. Ou seja, se considerar apenas o gasto com combustível, ainda que o custo da eletricidade seja muito menor, você vai levar uns 10 anos para amortizar essa diferença.
Fotos: Divulgação/Renault