Por onde começar? Pela tecnologia? Talvez a aceleração? Quem sabe o som? A cabeça está repleta de impressões intensas, como a incrível sensação de felicidade de pilotar novamente uma moto, de girar o acelerador após dez anos de abstinência autoimposta devido à falta de tempo, e sentir se o ar de encontro ao corpo de novo. Afinal, as supermotos de série já no início do século 21 disparavam com mais de 150 cv.
 
E hoje? “É melhor pegar logo a BMW HP4”, aconselhou o colega Ralf Schneider da revista Motorrad. “É a única com amortecedores adaptativos e excelente controle de tração”, explicou. Em contrapartida, essa “coisa” tem 200 cv e pesa 200 kg — e isso Schneider diz rapidamente, sem enfatizar. É como se o um carro de porte médio possuísse 1.500 cv!
 
“Não se preocupe”, me acalmou meu colega, para quem a vibração ainda não saiu da cabeça. “A HP4 te auxilia com programas selecionáveis de condução, resposta de aceleração, características do motor, ajuste de amortecimento e controle do ABS”. Tudo bem, aceito o desafio e, então, trocamos de veículo. Ele poderá aproveitar o biturbo de 560 cv do BMW M6 enquanto “brinco” com a HP4 — unidos por curiosidade e expectativa.
 
1kg/cv é a relação peso-potência da BMW HP4. Se já seria impressionante em um automóvel, imagine em uma motocicleta
 
A maioria dos motociclistas também curte automóveis, mas ao volante não se pode desfrutar de tantas sensações como atrás do guidão. Numa moto, não se acomoda simplesmente. Você acomoda as coxas sobre o tanque, posiciona os pés nos apoios, sente o guidão, e manuseia os comandos carinhosamente com os dedos. 
 
Primeira descoberta: o assento é confortável, a ergonomia é muito boa e é preciso se acostumar com alguns interruptores modernos, como os dos programas de condução: o de chuva ajuda em pisos com pouca aderência, o esporte é para quem deseja mais agilidade nas respostas. Já o de corrida é para quem sabe o que faz sobre a moto, ou melhor, sabe deixar o que fazer. Já os mais experientes acionam logo o comando Slick, adequado para pistas.
 
Acomodado no banco de couro do M6, Ralf Schneider tem outras preocupações, como descobrir a forma de ter uma sensação mais real da direção, ou onde está a conexão do iPod. Sem falar no motivo que teria levado algum louco a gravar “Barracuda” no disco rígido do sistema de áudio do cupê. 
 
Falta de desempenho não é o seu problema, afinal o “elefante” biturbo tem à sua disposição 69,4 mkgf a 1.500 rpm. Já o “colibri” de um litro da moto obtém 200 cv de seus quase 50 mm de curso do pistão a 13.200 rpm, rotação na qual os oito pistões do M6 já estariam voando a caminho de Urano.

Os da HP permanecem restritos ao seu curso mínimo, e até os mais experientes devem sentir um frio no estômago ao acelerar a moto a fundo e manter assim por alguns segundos. Para se ter ideia, o tempo que você precisou para ler a frase anterior é suficiente para a BMW HP4 atingir incríveis 200 km/h.

Pesando apenas 200kg, a BMW HP4 exibe excelente relação peso-potência de 1cv/kg

Quando as luzes do controle de tração passam a piscar freneticamente, a luz de mudança de marcha acende e o piloto espera para acordar deste sonho selvagem. Mais três segundos e meio, o mostrador digital junto do conta-giros exibe 250 km/h. Em compensação, o consumo médio a essa velocidade é de apenas 8 km/l. Já a distância de frenagem até a parada total é de 230 metros.

Por falar nisso, segure-se firme, nós vamos frear! Após uma puxada forte no manete, logo se percebe o ABS entrando em ação. O próprio peso do corpo exerce pressão e os músculos do braço ficam rígidos como o amortecimento do garfo.

Em algum momento, a carga para, afrouxamos o aperto nos freios e, a seguir, não há como deixar de se impressionar (ainda ofegante) com toda a modernidade que existe atualmente. Da mesma forma, não deixa de ser incrível pensar como 560 cv são facilmente controlados a bordo de um carro e monstruosos 200 cv são sentidos em cima de uma moto.

Isso, apesar de a HP4 contar com uma mecatrônica “inteligente”, como os dois sensores giroscópicos (o M6 tem apenas um), que, entre outras coisas, identificam a inclinação da HP4 para avisar motor e amortecedores em milissegundos sobre o que fazer.

O hardware utilizado na moto é da Bosch (e não da própria BMW, como seria de se esperar). Ele é aperfeiçoado somente por alguns pilotos de teste experientes, os quais, com percepção apurada e muitas “horas de voo”, conseguiram desenvolver características especiais apropriadas para a situação, incluindo o bom conforto da suspensão da HP, que não é inferior ao do M6.

Ao contrário de outras motos, a suspensão se adapta à situação. Como no cupê, as válvulas do amortecedor abrem e fecham em centésimos de segundos.

Movimento permanente prevalece também nos sistemas de escapamento dos dois. No V8, há um ronco grave, com uma atuação “barulhenta” do câmbio. Na HP4, gritos roucos com ruídos de mudanças de marcha. No cupê, há uma caixa de dupla embreagem com 7 marchas e tempos de mudança de marcha selecionáveis. Na moto, um programa de assistência de troca de marchas permite reduzir o tempo necessário para cada mudança em 0s3.

Então, agora você também está com um barulho na cabeça? Pois é, ocorre comigo também. Por isso, vou dar uma volta agora. Fica apenas a pergunta: com ele ou com ela?

Tecnologia incrível na moto

A HP4 é baseada na S 1000 RR e possui tudo o que uma moto esportiva necessita. A luz indicadora de troca de marchas acende apenas a 13.500 rpm e o acelerador pode permanecer totalmente aberto graças ao assistente de troca de marchas.

O controle de tração evita que o pneu patine, enquanto os sensores giroscópicos identificam a posição da moto e ajustam a potência para que a roda dianteira permaneça no piso. A potência máxima é proporcionada pelos dutos de admissão encurtados a partir de 11.300 rpm, além de outros itens. Ah, sim, o controle de tração DTC também funciona com a motocicleta inclinada.

Antes de assumir o comando da HP4, é preciso ter uma verdadeira "aula" sobre a tecnologia da moto

 

Da moto para o carro

Para mim, o assunto carro é tratado de forma bastante frugal: um BWM Série 3 básico me levou, até agora, a todos os lugares. Assim, o M6 surgiu como um visitante de outro mundo em casa. A dura realidade do tráfego, no entanto, foi uma desilusão. Ainda mais quando, durante o caminho de casa, acabei surpreendido por um congestionamento causado por um concerto de clarinete, o que me causou um atraso de duas horas. Nem preciso dizer o quanto senti saudade de minha moto naquela hora.

Tem mais: um carro de quase duas toneladas com um motor de 560 cv exibe um comportamento muito diferente que o da HP4 com menos da metade dessa potência. Sobretudo porque, em trechos sinuosos, o carro parece jogar parte de seu peso para fora da pista, a direção inicialmente um pouco dura se “encaixa” no asfalto e os freios atuam como âncoras. Que carro! Mesmo assim, é bom que eu não possa comprá-lo. Afinal, a maturidade adquirida sobre uma moto em meus 34 anos funciona apenas sobre duas rodas.

O motor V8 biturbo, capaz de produzir 560 cv e 69,4 mkgf, é impressionante

 

Dados técnicos

BMW M6: Motor V8 biturbo Cilindrada (cm3) 4.395 Potência (cv/rpm) 560 a 6.000 Torque mkgf/rpm 69,4 a 1.500 Peso em ordem de marcha (kg) 1.892 Frenagem (em metros, vindo a 100 km/h) 34,7 Aceleração 0 a 100 km/h (s) 4s1 Velocidade máxima (km/h) 305 Preço (euros) 124.000.

BMW HP4: Motor (disposição/cilindros) 4 cilindros em linha  Cilindrada (cm3) 999 Potência (cv/rpm) 200 a 13.200 Torque mkgf/rpm 11,5 a 10.600 Peso em ordem de marcha (kg) 203 Frenagem (em metros, vindo a 100 km/h) 38,6 Aceleração 0 a 100 km/h (s) 3s1 Velocidade máxima (km/h) 305 Preço (euros) 23.700

 

 

 

 

 

 

 

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