Um duelo de aceleração entre um Alfa Romeo 4C e um caminhão Iveco Stralis de competição. Ninguém da redação sabe ao certo como essa ideia maluca surgiu, mas isso não vem ao caso. O que importa mesmo é a ideia. E é por causa dela que estamos em uma manhã de inverno no aeroporto de Leipheim, no sul da Alemanha. E, como convém a um duelo, uma fina camada de névoa flutua sobre a pista, criando um cenário de filme. Ao fundo, o cupê está estacionado ao lado do monstro. 

Examinando as fichas técnicas, a disputa pode parecer covardia, afinal, são 1.400 cv do motor a diesel do Iveco da equipe Schwaben-Truck, contra 240 cv da máquina de Arese. A diferença está no peso, definido em 5,5 toneladas, pelas regras do European Truck Racing Championship (Campeonato Europeu de Corrida de Caminhões, em inglês), o que resulta em uma relação peso-potência de 3,93 kg/cv. Da mesma forma, a velocidade máxima do Stralis Race é limitada a “apenas” 160 km/h, por questão de segurança. De acordo com o chefe da equipe, a fera seria capaz de atingir 220 km/h sem muitas dificuldades.

Uma curiosidade da máquina é o seu complexo sistema de arrefecimento. Além do motor, os freios (da renomada marca Brembo) que seguram a fera também possuem um equipamento de resfriamento a água para garantir frenagens eficientes durante as provas. O radiador do motor também é redimensionado. Tudo para garantir o bom funcionamento do propulsor nas condições extremas das corridas. 

É difícil encontrar uma máquina de competição comparável ao Stralis. A cada pisada mais forte no acelerador, um ronco que mais se assemelha a um trovão ecoa pela pista do aeroporto. Mas não se engane, apesar das limitações e da preocupação da organização da categoria com a segurança, o caminhão não possui freios com ABS ou outros programas de assistência. Sim, o piloto precisa trabalhar bastante para lidar com o câmbio manual de 16 marchas. 

Já o Alfa Romeo conta com uma caixa robotizada de dupla embreagem comandada por meio de borboletas no volante e ainda traz controles eletrônicos de tração, de estabilidade e ABS de última geração. Mas o principal é o motor central-traseiro 1.7 turbo de 240 cv. Com apenas 895 kg (graças ao uso de plástico reforçado com fibra de carbono e alumínio), sua relação peso-potência é melhor que a do Iveco: 3,72 kg/cv!

Enfim, chega o momento tão aguardado. Para realizar a prova da maneira mais equilibrada possível, a ideia é que os dois veículos partam em movimento, a partir de 60 km/h. Aquele que cruzar a marca final antes vence. Simples assim. O piloto do Iveco se prepara, pisando no freio com vontade e acionando o sistema de arrefecimento dos discos um pouco antes, a fim de manter a temperatura do conjunto próxima do ideal. A cabine sacode, vencendo a resistência do ar. Eu, em compensação, me sinto totalmente à vontade a bordo do 4C e mantenho os 60 km/h sem qualquer dificuldade. Largada!

Como era de se esperar, o 4C salta na frente, mas o caminhão vem logo atrás e se aproxima. Confiro o quadro de instrumentos e o conta-giros indica 7.000 rpm, com o pequeno 4 cilindros urrando forte. O Stralis vai ficando cada vez maior no retrovisor até o piloto realizar a manobra e passar rapidamente pela janela do Alfa. A partir dali, só me restou manter a menor distância até a linha de chegada. Golias venceu. 

O término do desafio, porém, não significa o fim da diversão. O chefe da equipe Schwaben-Truck me convida a experimentar a fera. Trata-se da minha chance de realizar um sonho de infância. O banco parece ter sido feito sob medida, pois meu corpo se encaixa perfeitamente e o volante é praticamente vertical, proporcionando excelente posição de dirigir. O piloto me indica quais são os principais comandos e recomenda manter a pressão do turbo em torno de 2 bar. Em seguida, me explica como trabalhar com a grande alavanca do câmbio no tradicional esquema de H. 

Ignição ligada, pressiono o botão de partida e a cabine balança com a primeira acelerada. Engato a primeira marcha e, cautelosamente, solto o pedal esquerdo, enquanto acelero. Rapidamente o gigante se move como um louco, a pressão do turbo dispara — assim como a velocidade — e lembro de trocar as marchas. Sexta, sétima, oitava… testo os freios e a resposta é imediata. 

O torque é colossal (612 mkgf) e o eixo traseiro (fabricado pela Meritor) possui bloqueio eletrônico para proporcionar a melhor tração nas curvas e funciona com perfeição, assim como os já mencionados freios. Por fim, os pneus especiais de competição (315/70 R 22,5) oferecem aderência perfeita. Ainda bem, porque a única coisa que não se deseja a bordo e ver esse Golias desembestando sem controle. No fim, posso dizer que a experiência foi sensacional!

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