Camaro e Mustang mostram o que preservam e o que evoluíram ao longo de 50 anos entre as gerações

 

Os anos 60 foram importantíssimos para os rumos da indústria automobilística americana. Os muscle cars (como os Dodges Charger e Mercury Cougar, por exemplo) ganharam as ruas (e os corações) dos apaixonados por carros principalmente pelo aspecto viril e por motores que, nos dias atuais, tirariam sorrisos das petroleiras, que faturariam ainda mais alto com a sede de gasolina dos grandões.

Foi então que, em 1964 a Ford apresentou ao mundo o Mustang. Com dimensões reduzidas em relação aos Muscles, era mais rápido e econômico. Além disso, mais barato e acessível ao público. A prova do sucesso aconteceu no primeiro dia das vendas: 22 mil unidades foram encomendadas. E não parou, pois, em menos de dois anos após o início da produção, a Ford já havia ultrapassado a marca de 1 milhão de unidades fabricadas.

Como uma resposta ao estrondoso sucesso da fabricante concorrente, a Chevrolet lançou em 1967 o Camaro. Seguindo o mesmo conceito “Pony Car”, a nova paixão americana tinha silhueta mais esportiva e trazia opções de motores que variavam entre o V6 2.8 e o V8 6.5.

Nas décadas seguintes os carros fugiram um pouco de suas raízes históricas e seguiram o leiaute do que era considerado moderno e esportivo para a época. Mas, os anos 2000 marcaram o retorno de duas lendas ao melhor estilo retrô. O primeiro deles foi o Mustang, em 2005 com desenho claramente inspirado no de primeira geração. Quatro anos depois o Camaro fez o mesmo e, no ano de 2011, a Chevrolet decidiu trazê-lo para o Brasil através de importação oficial. Em 2018, a Ford fez o mesmo e passou a comercializar o Mustang para reescrever a história ‘cinquentona’ agora pertinho de nós.

  Bodas de Ouro

Como uma homenagem a uma das disputas mais apaixonantes do mundo automobilístico, colocamos lado a lado as novas gerações dos carros, bem como dois modelos clássicos que foram inspiradores para os Pony Cars atuais.

Representantes do ano de 1968 estão o Ford Mustang GT V8 302 5.0 1968 e o Chevrolet Camaro RS V8 5.4 327 1968. Manoel Cintra é o feliz proprietário dos carros e, segundo ele, não há preferência. “Eu sempre gosto mais do carro que eu estou dirigindo naquele momento. Cada um tem suas qualidades, mas não dá para escolher um melhor”, explica ele.

Mecanicamente, ambos os Mustangs mantêm um item importante: o cofre do motor ostenta um V8 de 5,0 litros. Mas as coincidências param por aí: em 1968 o V8 Windsor “small-block” de 302 polegadas cúbicas gerava 233 cv a 4.800 rpm e torque máximo de 42 kgfm. O modelo saía de fábrica com câmbio manual de 4 marchas ou automático de três. O fastback de Manoel, no entanto, sofreu uma pequena alteração para deixá-lo mais agradável de dirigir. “Nós substituímos o câmbio original por um Tremec de 5 marchas, que deixa o carro mais ágil na cidade e mais solto na estrada”.

Já o modelo de 2018 vem com o motor Coyote de 466 cv (6 a mais que nas versões europeias graças à presença de etanol em nosso combustível) a 7.000 rpm e 55 kgfm de torque a 4.600 rpm. Ele também possui duplo sistema de injeção de combustível (direta na câmara de combustão e uma indireta no coletor de admissão) que, segundo a Ford, foi recalibrado e preparado para o uso de gasolina comum. O câmbio automático SelectShift possui 10 marchas e faz trocas mais ágeis e precisas (menos de 0s5) e é possível mudá-las através de aletas atrás do volante.

Do outro da disputa, o Camaro RS de 1968 possui um V8 de 327 polegadas cúbicas (5,4 litros) que gera 275 cv a 4.800 rpm e torque de 48 kgfm a 3.200 rpm, com a opção de câmbio manual de quatro marchas ou automático de três, que é o caso do modelo avaliado.

A nova versão do modelo da Chevrolet já apela para um motor V8 de 6.2 litros, potência de 461 cv a 6.000 rpm e torque de 69,2 kgfm a 4.400 rpm. O câmbio também é automático, mas desta vez com oito marchas, duas a menos do que no Mustang GT 2018. Na prática, o Ford foi um pouco mais rápido em nossos testes: 4s91 contra 4s95 no 0-100 km/h, respectivamente.

  Esportividade x Conforto

No Camaro RS de 1968 o conjunto tinha um acerto mais firme e a carroceria possuía menor vão livre para o solo. Com isso, o modelo é bom de curvas. “É um carro mais ‘no chão’ que o Mustang”, explica Manoel.

Neste ponto, o Mustang GT de 1968 era um carro mais alto e com suspensão de calibração mais macia. Com isso, o Pony Car é “um tapete” no uso urbano, mas em estrada ou em curvas velozes a dianteira fica solta. “Isso é algo que eu quero melhorar nele. Também a direção hidráulica que é muito macia e não é progressiva, assim a dianteira muito leve torna a dirigibilidade mais difícil”.

Já as novas gerações enfrentaram uma verdadeira revolução. No Chevrolet Camaro SS 2018, embora já fosse um carro de ótima aderência lateral em curvas, a carroceria ainda rolava demais e apresentava subesterço. Segundo a Chevrolet, a nova geração ficou 28% mais resistente à torção e o conjunto de suspensão dianteiro McPherson ficou 21% mais leve na dianteira e a multibraço traseira reduziu seu peso em 50%. Na prática, o Camaro SS assume bem o papel de esportivo e a rigidez do conjunto ainda não é das mais agradáveis para quem busca o conforto no uso urbano.

Neste aspecto, a Ford apostou na alta tecnologia para deixar o Mustang apto à praticamente qualquer condição de uso. O conjunto de suspensão McPherson com dupla articulação na dianteira e independente multibraço na traseira possui o sistema MagneRide que é adaptativo e ajusta a carga dos amortecedores fluido magnéticos de acordo com as características do piso com até 1.000 leituras por segundo, isso de maneira automática nos modos “Normal”, “Esportivo”, “Esportivo+”, “Pista”, “Modo Drag”, “Neve/Molhado”, ou conforme o gosto do motorista quando este selecionar o “My Mode”. Nestes modos de condução, alteram-se também a velocidade de trocas de marcha; tempo de resposta do acelerador; atuação dos freios, ESC e controle de tração; ruído do escapamento e sensibilidade da direção. O Camaro possui mapeamentos diferentes de motor e câmbio, apenas, entre Tour, Sport, Track e Snow.

  Hora de parar

No Mustang, os freios dianteiros são a disco ventilado de 380 mm de diâmetro com pinça em alumínio e 6 pistões de 36 mm. Na traseira, os discos são ventilados de 330 mm, com pinça em aço e 1 pistão de 45 mm. Este conjunto propicia que o GT cumpra a frenagem de 100-0 km/h em 36,3 m. No Camaro, o sistema de freio possui pinças Brembo de quatro pistões e discos de 345 mm da dianteira e 338 mm na traseira. Com eles, a distância de frenagem é menor: 34,28 m.

O bólido da Ford vem com rodas de 19 polegadas e pneus Michelin Pilot Sport 4S 255/40, na dianteira e 275/40, na traseira. Já o “musculoso” Chevrolet vem com rodas de 20 polegadas e pneus Goodyear Eagle F1 Asymmetric 3 245/40 ZR20, na dianteira e 275/35 ZR20, na traseira.

  Equipamentos e segurança

O Mustang GT Fastback de Manoel possui acessórios que lhe conferem exclusividade. “O interior azul (monocromático) era opcional de época. Ele também tem, além da direção hidráulica, o ar-condicionado, embora este não seja tão eficiente quanto nos modelos novos”, explica. Já o Camaro RS é ‘menos equipado’. “Ele só tem direção hidráulica e câmbio automático. Os faróis escamoteáveis eram itens de série no RS”, acrescenta Manoel.

A Ford optou por trazer a versão mais equipada do Mustang para o Brasil: a GT com pacote Performance Pack, que agrega aerofólio, radiador maior e diferencial de deslizamento limitado. Além disso, conta com tecnologias que o enquadram como semiautônomo, como controle de cruzeiro adaptativo e o alerta de colisão com assistente de frenagem e detecção de pedestres. Também possui painel de instrumentos de 12” digital e customizável, sistema de permanência em faixa com detecção de fadiga do motorista, 8 airbags, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré, farol alto automático, sensor de chuva, chave programável MyKey, monitor de pressão de pneus e bancos com aquecimento e refrigeração. No Track Apps é possível acionar o cronômetro de aceleração, cronômetro de volta, desempenho de frenagem e o Line Lock. Neste último, você pode realizar um ‘burnout’ controlado para promover o aquecimento dos pneus, dessa forma, ter uma largada com melhor aderência.

No Camaro, a lista de itens de série também é bastante farta, com destaque para o teto solar de série (algo que não vem nem como opcional no Mustang), painel de instrumentos de 8 polegadas TFT customizável, ar-condicionado de duas zonas, sistema de partida remota, Head-Up Display (que mostra as informações do veículo, como velocidade e rpm no para-brisa), bancos com aquecimento e refrigeração, oito airbags, faróis de xenônio, lanternas com LEDs e volante com aquecimento, outro item exclusivo em relação ao rival. Ambos os modelos possuem conectividade via Android Auto e Apple Car Play.

Análise Técnica

Ford Mustang GT

O cupê da Ford renasceu nesta nova geração e tornou-se um esportivo de nível mundial. Com tecnologias importantes, como suspensão adaptativa e sistemas semiautônomos de condução, traz opções de ajuste que o deixam plenamente apto para o uso diário, bem como na pista. Nem mesmo o mais saudosista pode deixar de reconhecer que este é o melhor Mustang GT já produzido.

POSITIVO • Comportamento dinâmico, conforto de rodagem e desempenho

Negativo • Ausência de teto solar até como opcional, item de série no Camaro

Chevrolet Camaro SS

Além de custar mais que o Mustang, o Camaro ainda é um carro “muito americano” para agradar ao público mundial. Sua suspensão é um pouco mais dura do que seria agradável para o uso urbano e, mesmo tendo melhorado frente a última geração, uma pista mais travada ainda não é sua vocação. Por dentro, vemos algumas falhas de acabamento que são impróprias para o seu nível.

POSITIVO • Posição de dirigir agradável e boa capacidade de frenagem

Negativo • Acabamento interno apresenta algumas peças desniveladas. É mais caro e tem menor nível de equipamentos

Conclusão

Mustang GT 2018 mostrou-se um carro melhor preparado para agradar a diferentes públicos, desde aqueles que buscam um carro confortável para longas viagens, até aos que buscam um modelo para uso nas pistas. Sua essência permanece viva, mas a Ford o deixou melhor. Já nos lados da Chevrolet, o Camaro SS também evoluiu quando comparado à geração anterior, porém, está distante do rival histórico. Se custasse menos seria uma opção interessante, mas por ser mais caro e oferecer menos que o Mustang GT, deixa de ser uma boa opção. Vale lembrar que a Chevrolet prepara um novo Camaro para breve e, se fizer bem a lição de casa, a briga pode voltar a ser menos desigual.

 

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